Era uma vez uma parabólica enfiada na lama: a narrativa poético-musical de "Da lama ao caos"
Manguebit. Da lama ao caos. Música. Literatura. Pintura. Performance. Narrativa poético-musical.
O álbum “Da lama ao caos” (1994) de Chico Science e Nação Zumbi é um marco do movimento manguebit. Ele inaugura um novo ritmo, caracterizado pela mistura da música popular pernambucana, como o maracatu e a embolada, com o rock, funk e rap. Seu impacto no Recife, cidade que viu surgir o movimento manguebit, foi imenso, perdurando até a atualidade, trinta anos após o seu lançamento. Busco, nesta tese, compreender onde reside a força desta obra de arte. Para isto, é relevante entender o que ela comunica, como realiza semelhante comunicação, para quem ela se dirige, e o que ela oferece de importante ao seu receptor. Naturalmente, nesta empreitada é preciso estar atento às diversas artes que, juntas, formam o produto final: música, literatura e pintura, além do elemento externo da performance, mistura de dança e teatro, que se acopla à experiência de consumo da obra de arte. A pesquisa conclui que o álbum “Da lama ao caos” (1994) comunica uma mensagem política, em especial para os jovens periféricos do Recife e da sua região metropolitana. Esta mensagem é comunicada por meio de uma narrativa poético-musical, dotada de enredo, personagens, narrador e um espaço e tempo determinados. A inusitada narrativa oferece aos seus receptores, em especial o seu público-alvo, os jovens de periferia, uma oportunidade de somar às suas identidades híbridas mais uma característica: podem eles ser, também, caranguejos com cérebro.