Projeto Pedagógico do Curso

A atual habilitação em licenciatura do curso de Artes Plásticas é fundamentada na estrutura curricular do bacharelado somando-se a essa três estágios supervisionados, uma disciplina em Psicologia e três em Educação. Diante desse quadro, o perfil do egresso dessa licenciatura, nem de longe, atende às exigências da formação de professores para atuar na educação básica atual. Foi o que pudemos reafirmar, partindo-se das constatações advindas das salas de aula do curso de Artes Plásticas, e que se tornaram alvos das discussões no âmbito do Fórum Permanente de Professores de Artes Visuais (detalhamento no item 6) fortemente respaldadas nos resultados obtidos pela realização do seminário Arte/Educação: que formação queremos? descrito mais adiante.

A reforma do curso de Licenciatura em Artes Visuais foi gerado num contexto amplo que se delineou com o processo de reforma dos cursos de Licenciatura da Universidade de Brasília, orientados por/pelo Seminário Interno de Licenciaturas da UnB, na observância das diretrizes e orientações do Conselho Nacional de Educação de 2002, voltadas à formação de professores. Nesse tocante, registra-se o longo debate que enseja na dualidade prático-teórico. Debate que se tornou um desafio contínuo para as ambições dos diferentes cursos de Licenciatura, incluído o de Artes Visuais. Tal debate, amplo e democrático, exige um curso que apresente novos paradigmas teórico-metodológicos, atentos a problemas contemporâneos brasileiros. Desta forma, o curso proposto apresenta-se, dentro da história da Universidade de Brasília e do Instituto de Artes, menos como processo finito e acabado e mais, como orienta o CNE, e mais como um processo em continua formulação e reformulação. Tal processo orientou a adoção das Ênfases destinadas, a partir da matriz principal – Formação de Professores para Educação Básica –, a atender as novas demandas do mercado de trabalho globais, no Brasil e no Distrito Federal. Antes de se configurarem numa especialização, tais ênfases abrem-se para a construção do saber a partir e para uma sociedade múltipla, mutante e que tem na cultura visual um dos seus principais elementos de conhecimento. 20 As especificidades das comunidades próximas que podem, prioritariamente, absorver os novos profissionais não foram esquecidas na construção dos parâmetros curriculares e pedagógicos do curso em questão. Tanto o Distrito Federal quanto a região do Entorno – que abrange duas unidades da federação (Goiás e Minas Gerais) – possuem particularidades, uma vez que o profissional deverá estar apto a compreender uma região de formação e migração recentes, cujas identidades movem-se entre uma multiplicidade de perspectivas culturais, que continuam a formar um amálgama difícil de mensurar a partir de fenômenos culturais isolados, numa feliz justaposição e aglutinação de identidades que caracterizam Brasília e as regiões que nasceram e/ou cresceram ao seu redor. Da mesma forma, outra particularidade da região atendida por este PPC/LAV é sua visibilidade nacional e internacional, o que exige que a Licenciatura em Artes Visuais volte-se para relações de intercambio com outras realidades regionais e estrangeiras, potencializadas no enfoque voltado às práticas do ensino a distância, um desafio diante de novas realidades socioculturais e na competência das tecnologias de informação e comunicação.

 

 

As comissões formadas no âmbito do FPPLAV foram responsáveis pela formulação das Bases Curriculares da reforma do curso de Licenciatura em Artes Visuais - noturno. Três comissões trabalharam entre março de 2010 a julho de 2011 para debater tais bases:

(1) Comissão de Formação Pedagógica-Teórica em Artes Visuais;

(2) Comissão das Práticas de Ensino; e

(3) Comissão dos Estágios Supervisionados.

Em suas proposições, as comissões buscaram incorporar formatos diversificados do fazer acadêmico na tentativa de ampliar a formação do futuro professor da educação básica para além das disciplinas tradicionais e propiciar situações próximas à realidade do mundo de trabalho. Para isso, referenciaram-se em modalidades tais como: projetos, oficinas e laboratórios, estudos visuais e educação, estudos independentes e trabalho de final de curso. Além disso, estruturaram as bases curriculares em três núcleos: a) Núcleo de Estudos de Formação Geral:

· Formação Pedagógica (FOP)

· Teorias em Artes Visuais (TAV)

· Práticas em Artes Visuais (PAV) b) Núcleo de Aprofundamento/Ênfases:

· Práticas de Ensino (PdE)

· Estágios Supervisionados em Artes Visuais (ESAV)

· Trabalho de Conclusão de Curso(TCC) c) Núcleo de Estudos Integradores:

· Estudos Integradores A partir desses núcleos, organizaram-se:

· Projetos, oficinas e laboratórios: no âmbito das Práticas de Ensino, dos Estágios Supervisionados e ainda nas disciplinas de práticas em Artes Visuais ofertadas pelo Bacharelado em Artes Plásticas (Núcleo de Estudos de Formação Geral). Essas últimas, em conjunto com as demais, subsidiarão os 41 futuros professores na constituição e/ou aperfeiçoamento das suas próprias poéticas, bem como daquelas a serem adotadas por força do seu exercício profissional.

· Os Estudos Visuais e Educação (EVE): esta unidade curricular propõe-se analisar, de um ponto de vista transdisciplinar, as recentes modificações que conduziram a cultura contemporânea à uma visualidade cada vez mais determinante e suas relações com a Educação. A questão central é o Estudo da Educação da Cultura Visual, é estudar e compreender áreas de conhecimento distintas a partir da experimentação em cultura visual.

· Estudos integradores: espaço curricular concebido para estimular o discente a construir seu conhecimento também participando de atividades de: pesquisa, extensão, artísticas e culturais; e ainda administrativas e/ou políticas no âmbito das organizações estudantis, voltando seu exercício do saber para o progresso da comunidade na qual está integrado fora da universidade.

· Trabalho de Conclusão de Curso(TCC): Existem muitos conceitos de TCC, compreende-se que o mais apropriado para o curso de Licenciatura em Artes Visuais é o TCC apresentado de forma monográfica. Por se tratar de mais um requisito para complementação de curso de graduação, o TCC aqui é entendido como um estudo sobre um assunto determinado, não necessitando, no entanto, ser tão completo em relação ao tema escolhido. Contudo, a produção da monografia deve aprofundar o máximo possível a abordagem de um tema que por sua vez deve ser bem delimitado.

 

 

As avaliações no curso de Licenciatura em Artes Visuais consideram prioritariamente as competências profissionais que se constituirão nas bases da formação do professores, e devem ser:

I - periódicas e sistemáticas, com procedimentos e processos diversificados incluindo conteúdos trabalhados, modelo de organização, desempenho do quadro de formadores e qualidade da vinculação com escolas de educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, conforme o caso;

II - feitas por procedimentos internos e externos, que permitam a identificação das diferentes dimensões daquilo que for avaliado;

III - incidentes sobre processos e resultados. a avaliação deve ter como finalidade a orientação do trabalho dos formadores, a autonomia dos futuros professores em relação ao seu processo de aprendizagem e a qualificação dos profissionais com condições de iniciar a carreira

(RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 1, de 18 de Fevereiro de 2002)

A implementação da reforma do curso de Licenciatura em Artes Visuais – noturno estabelece, desta forma, a necessidade de considerar algumas questões epistemológicas para caracterizar os processos de avaliação no contexto de ensino-aprendizagem. Sustentar estas considerações sobre o processo de avaliação amplia a reflexão sobre questões de ensino/aprendizagem pertinentes ao entendimento de novos parâmetros e demandas do mundo contemporâneo. Assim, é possível repensar as novas configurações sociais e as experiências do cotidiano, que trazem a partir da contextualização dos saberes e práticas, uma possibilidade de ampliação da relação entre o sujeito e o conhecimento. Com esta perspectiva, a formação de professores em Artes Visuais deve não apenas promover um alargamento do conceito de sujeito e conhecimento, mas também, uma reorganização dos métodos e estratégias de ensino para transpor as distâncias acumuladas entre os saberes escolares e as experiências estéticas destes. De acordo com as Diretrizes Curriculares para os Cursos de Licenciatura da Universidade de Brasília, deve-se incentivar a modificação profunda das práticas de formação e de ensino no sentido de ir além de reformas de currículos, grades e fluxos, deve-se ter consciência das condições em nível da organização dos mecanismos que permitam a realização de procedimentos sócio-cognitivos adaptados às situações concretas. (p. 3) A proposta aqui apresentada tem o intuito de promover novas iniciativas. 38 Considerando que os caminhos percorridos, até então, estavam estruturados em uma via de mão única, estes agora devem ser pensados conjuntamente e em perspectiva, de modo que os desvios, preferências, recursos e resultados possam atender a diferentes anseios. Assim, o processo de avaliação deve apresentar um caráter interativo e dialógico, no qual a aprendizagem torna-se ativa e culmina em constante renovação, ora das necessidades cognitivas, surgidas a partir dos diferentes ambientes de reflexão e conhecimento, ora das diferentes modalidades associadas com a dinâmica da avaliação, entendida não apenas como forma de obter resultados, mas sim de apontar questões e procurar respostas. Em tantas palavras, a avaliação não deve se eximir de seu papel questionador e investigativo, tampouco existir enquanto um processo isolado do currículo, das ações de planejamento didático e de olhares multidimensionais. Se em diferentes instâncias do atual contexto educativo a avaliação ainda é compreendida como um mecanismo de controle que estipula medidas de êxito ou fracasso, com ênfase classificatória, devemos aqui promover reflexões mais amplas sobre a formação dos sujeitos, a construção do conhecimento, as novas dinâmicas de ensino/aprendizagem em Artes Visuais, entre outras. Para além de considerar a avaliação como mecanismo de mensuração ou descrição, na qual o principal objetivo é classificar e determinar se metas estipuladas estão sendo atingidas em um determinado programa de ensino, é possível conceber o processo avaliativo direcionado ao acompanhamento das etapas de desenvolvimento do conjunto sócio cognitivo, individual, que cada discente desempenha em face aos objetivos educacionais propostos. Essa concepção teria como característica principal a negociação que articula diferentes valores de modo a respeitar dissensos em processos interativos. Esta abordagem visa uma dimensão crítica e humanista da avaliação, de modo a considerar as experiências e necessidades dos sujeitos envolvidos em contextos políticos, culturais e éticos mais amplos. Estes aspectos referentes à intersubjetividade e à contextualização das relações delineiam cenários possíveis para o desenvolvimento de duas modalidades de avaliação: a diagnóstica e a formadora. A avaliação diagnóstica é um processo que favorece a investigação e o questionamento das ações realizadas visando prover diferenciadas possibilidades futuras. Já a avaliação formadora caracterizaria o processo pelo qual educandos analisam de forma autocrítica seu próprio desempenho, pela produção de portafólios, exposições, reflexões teórico-conceituais e diálogos, além do acompanhamento por etapas do desenvolvimento sócio cognitivo citadas anteriormente. Estas formas de Avaliação geram questões que merecem ser consideradas e demandam  contínuos debates epistemológicos relativos à construção do conhecimento e à produção de sentidos em Artes Visuais. Como a avaliação não deve se eximir de seu papel questionador e investigativo, estas dinâmicas podem resvalar em forma de perguntas e julgamentos que considerem o currículo e as ações de planejamento didático. Isto pode transparecer no questionamento:

a) da forma como acontece a seleção de imagens para o contexto da sala de aula;

b) do modo como estas imagens interferem na produção dos educandos;

c) da qualidade desta produção poética;

d) da relação desta produção poética com o contexto cultural mais abrangente;

e) da relação entre os conteúdos curriculares e o repertório simbólico e a cultura visual do educando;

f) dos diálogos visuais entre tradições eruditas e marginais;

g) da influência das novas tecnologias na produção poética.

Fica aqui explicitada a abrangência do campo de atuação profissional do licenciado, especialmente na perspectiva da educação que contemple outros espaços de experiência e vivência da função formadora e, consequentemente, da possibilidade de avaliação. Avaliação deve então ser entendida de modo ampliado nos aspectos que permitam a observação da aprendizagem durante o processo de ensino que culmine em ações didáticas. Nesse sentido, o profissional da educação deve:

a) desempenhar um papel singular no processo educativo em todas as suas dimensões;

b) ser atuante nas propostas de transformação da realidade educativa por meio da abordagem pedagógica;

c) ser capaz de estabelecer diálogos entre a sua área e outros campos de conhecimento, que ampliem a formação de seus alunos;

d) refletir sobre o seu cotidiano e as diversas formas de integração com o conhecimento e a prática pedagógica;

e) compreender sua prática pedagógica em sintonia com outras descobertas, o que permitirá um constanteaprimoramento profissional.

Pautada nesta perspectiva de formação do professor em Artes Visuais, a avaliação é um meio de analisar e superar carências nas dinâmicas ensino/aprendizagem e ganha espaço determinante em relação às tomadas de decisão deste novo currículo. Aqui coube pensar a avaliação como exercício reflexivo, mediado por questões atuais e determinantes para o bom  funcionamento das demandas profissionais e pessoais, promovendo a capacidade de comunicação e perpetuação de saberes, do mesmo modo, que pretende formar e informar sujeitos no longo caminho do ensino/aprendizagem no campo das Artes Visuais.

 

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