Há muito se discute, na disciplina Química, o conteúdo Cálculos Estequiométricos. As dificuldades apresentadas pelos

alunos e, porque não, pelos professores, relacionadas a esse conteúdo são inúmeras. Nesta dissertação abordamos

algumas dessas dificuldades, por serem bastante relevantes no processo de ensino - aprendizagem de Cálculos

Estequiométricos. O objetivo principal foi identificar possíveis variáveis associadas à aprendizagem dos estudantes em

relação a esse conteúdo. Para tanto, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com dez professores de Química, de

escolas públicas e particulares do Distrito Federal. Os dados levantados, que emergiram a partir desse procedimento,

foram analisados utilizando-se a Teoria Fundamentada de Dados. Além disso, também foram analisadas seis obras

(livros). Uma de cada coleção sugeridas para o Novo Ensino Médio. Devido à complexidade desse processo de ensino

aprendizagem, os resultados encontrados mostram que não há como dissociar a dificuldade apresentada pelos alunos,

no que se refere ao ensino de Cálculos estequiométricos, sem que aspectos relacionados aos professores, aos livros

didáticos, à metodologia de ensino do deste conteúdo em si, e até mesmo aos próprios alunos, não forem levadas em

consideração. Dessa forma, a princípio, possíveis soluções para a melhoria do ensino - aprendizagem de Cálculos

Estequiométricos devem levar em conta, simultaneamente, a presença desses aspectos.

A atual realidade educacional, em que há um maior ingresso de estudantes com deficiências na Educação Básica, requer metodologias e o aprimoramento de materiais didáticos que favoreçam, não só a permanência desses alunos nas classes comuns, mas, também, participação com qualidade desses indivíduos no processo de ensino e aprendizagem. Para tal, a exploração de caminhos alternativos que contribuam com esse direito é fundamental. Portanto, surgiu a ideia de investigar as possibilidades do uso de um jogo, do tipo Role Playing Game (RPG), para alunos com deficiência visual no ambiente escolar. No RPG os jogadores interpretam personagens e externalizam suas ações com o intuito de alcançar soluções para os desafios abordados nas histórias narradas pelo mestre. Esse tipo de jogo é, comumente, cooperativo isto é, os jogadores devem se relacionar em busca de objetivos em comum. Dessa forma, o RPG não carece definitivamente de recursos físicos dependendo, principalmente, da construção de imagens mentais dos participantes, da inter-relação entre os membros das equipes e das linguagens corporais dos discentes. Nesse contexto, para observar as possibilidades do uso do RPG para alunos com deficiência visual, esse trabalho pautou-se nas compreensões sócio interacionistas de Vygotsky, por meio do estudo de casos que favoreceu a avaliação comportamental dos estudantes durante as aplicações das aventuras. Tal escolha foi feita devido à necessidade de percorrer um caminho metodológico qualitativo que permitisse a observação de fatores pontuais na pesquisa em questão. A pesquisa foi feita em duas escolas públicas do Distrito Federal. Sendo que, em uma das escolas, a aplicação do jogo ocorreu na sala de recursos. As aplicações do RPG contaram com a participação de quatro alunos com deficiência visual. Para contribuir com a construção de informações relevantes para essa pesquisa, a coleta de dados foi baseada no diário de bordo dos alunos e nas filmagens das aplicações dos jogos. Por fim, foi utilizada a análise de conteúdos de Bardin para categorizar e analisar as informações construídas no decurso da investigação. Como resultado dessas investigações, foi possível notar as diferentes alternativas surgidas com o uso do RPG para alunos com deficiência visual. Percebeu-se que essa ferramenta pode favorecer a construção de imagens mentais por esses alunos, além de oportunizar a externalização de informações por meio das linguagens corporais, sem que as especificidades visuais se tornem empecilhos para tal.

O Novo Ensino Médio, desenvolvido a partir da Lei nº 13.415 de 2017, é composto, além dos componentes curriculares da Formação Geral Básica, por uma porção curricular flexível denominada Itinerários Formativos, cujas unidades curriculares devem se desenvolver em torno de pelo menos um entre quatro eixos estruturantes possíveis: ‘Investigação Científica’, ‘Processos Criativos’, ‘Mediação e Intervenção Sociocultural’ e ‘Empreendedorismo’. Sendo a ‘investigação científica’ um enunciado historicamente caro ao ensino de ciências, o objetivo deste trabalho é analisar as condições de emergência desse enunciado dentre as políticas curriculares, com a sua consequente fixação como um dos eixos estruturantes responsáveis por embasar unidades curriculares referentes a todas as áreas do conhecimento. Como suporte para tal estudo, apresento um panorama histórico referente à investigação científica ao longo da trajetória do ensino de ciências no Brasil e um levantamento bibliográfico concernente ao tema com o propósito de visibilizar diferentes sentidos já incorporados a esse enunciado nos campos discursivos educacional e epistêmico, e os processos envolvidos na produção de um sistema de raciocínio que regula a elaboração das políticas curriculares, aceitando e legitimando determinados enunciados. Baseando-me em uma análise enunciativa inspirada em estudos foucaultianos busco evidenciar como a ‘investigação científica’ adquire hoje uma abordagem tipicamente escolar no campo discursivo do ensino de ciências, com os significados que a constituem em muito se aproximando da ‘alfabetização científica’ e do ‘ensino de ciências por investigação’. Em diálogo com o ciclo contínuo de produção de políticas, privilegio a análise da Base Nacional Comum Curricular e do Currículo em Movimento do Novo Ensino Médio, documentos normativos que regem a estruturação curricular, com a intenção de compreender como eles vêm acionando esse enunciado, encontrando sentidos próximos àqueles praticados pelo meio acadêmico. Por fim, como forma de acessar o contexto da prática e fundamentada na teoria da atuação, elaborada por Stephen Ball e colaboradores, examino os catálogos das unidades curriculares dos itinerários formativos da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal buscando compreender como o eixo estruturante da investigação científica vem sendo interpretado e traduzido nas suas ementas. Percebo que, apesar de notoriamente caro aos professores da área de Ciências Naturais, o termo 'investigação científica’ carrega uma multiplicidade de sentidos, sendo muitas vezes utilizado em discordância com o que vimos entendendo e denominando como ‘investigação científica escolar’. Destaco, assim, a necessidade de uma maior sistematização de informações e subsídios metodológicos por parte das políticas curriculares acerca do desenvolvimento dessa abordagem.

Este estudo de dissertação de mestrado se consolidou a partir do uso da metodologia qualitativa, dentro da linha de pesquisa sobre formação de professores de Ciências, com ênfase no eixo temático de Narrativas, Cultura e Saberes na formação de professores. A busca pelo desenvolvimento dos objetivos de pesquisa se deu pelo uso de entrevistas semiestruturadas, que tiveram como base teórico-fundamental elementos da pesquisa narrativa e do método autobiográfico. O processo de pesquisa teve como intuito buscar compreender e investigar sobre a possível influência de experiências acadêmicas e pessoais e momentos-charneira no decorrer do processo formativo de egressos do curso de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília na escolha da docência e se foram determinantes para essa decisão de atuar na área específica do ensino de Ciência e Biologia. A análise das histórias de vida compartilhadas nos momentos de entrevista teve como uso o método de análise das histórias a Análise Textual Discursiva (Moraes, 2003), através da construção de categorias de análise criadas com base nas temáticas dos objetivos específicos e também, das que emergiram ao longo do processo.

A pesquisa focalizou a análise dos sentidos produzidos na formação inicial de professoras e professores de Ciências e Biologia, especificamente a partir da disciplina Reflexões sobre gênero e sexualidade no Ensino de Ciências e Biologia (RGeSex), ofertada na Universidade de Brasília (UnB). Orientado por uma perspectiva que compreende gênero e sexualidade a partir de suas inscrições históricas e culturais, as quais práticas discursivas e não-discursivas as produzem e são produzidas, me propus a olhar para a formação de professores como uma dessas instituições regulatórias, produtora de sentidos e parte da complexa rede de relações de poder que compõem o complexo dispositivo da sexualidade. Para tal, me orientei a partir de uma abordagem discursiva, no diálogo com Michel Foucault e alguns de seus interlocutores, para suscitar debates capazes de gerar estranhamentos em lógica deterministas e efeitos de verdade que costumam sustentar os sistemas de pensamento dos processos pedagógicos de Ciências e Biologia. Através da análise de um vasto conjunto de fontes, incluindo transcrições de aulas, entrevistas com participantes e suas produções textuais, pude identificar e compreender, a partir das regularidades discursivas e das condições de possibilidades que permitiram a emergência e dispersão dos enunciados, os sentidos produzidos na disciplina. Nesse contexto, dar visibilidade aos enunciados se mostrou crucial para uma análise crítica dos discursos relacionados ao gênero, à sexualidade e à própria formação docente. Para além, alinhado com as perspectivas teórico-metodológicas que me nortearam, analisei como esses acontecimentos discursivos podem se traduzir em potencialidades pedagógicas, almejando a produção de outros modos de pensar, em diferentes dispositivos pedagógicos e processos formativos. Identificou-se enunciados múltiplos, alguns de dor, medo e expectativas em relação às temáticas de gênero, sexualidade e educação. Outros de acolhimento, cuidado e amorosidade na formação. Evidenciou-se o potencial pedagógico das interações com colegas professoras como potentes estratégias formativas docentes. Nesse sentido, os enunciados singulares e raros que emergiram neste contexto enriqueceram perspectivas e multiplicaram os novos modos de pensar, permitindo acesso à ordem do discurso.

A Educação Ambiental (EA) Crítica, por meio de seus processos formativos, se situa como uma educação política no enfrentamento das questões socioambientais. Trata-se de uma vertente de EA que considera a importância de uma formação crítica e transformadora da realidade, em que se almejam sujeitos participativos, reflexivos, engajados, de modo que possam envolver nessa educação outros atores sociais, a partir de ações políticas, numa esfera democrática de exercício de cidadania e na busca por justiça ambiental e social. Nesse sentido, a ludicidade a partir do trabalho-jogo se apresenta como uma metodologia capaz de corresponder às práticas de EA, na medida em que tem como compromisso desvelar os contextos sociais e ambientais, com suas assimetrias e contradições. Partindo do pressuposto que são inerentes aos jogos as tomadas de decisões, entende-se que o jogo pode suscitar decisões e ações em contextos socioambientais específicos. Desta forma, a pesquisa descrita nessa tese, ao associar a ludicidade à EA Crítica, buscou propor e analisar as dimensões formativas convergentes entre os dois campos, voltadas ao objeto de estudo, no sentido da problematização e da contextualização da realidade socioambiental, e à finalidade de ensino, na perspectiva da percepção crítica e da participação social como exercício de cidadania ambiental. Para isso, foi elaborado um jogo em formato de gincana e aplicado em turmas do curso de Ciências Ambientais da Universidade de Brasília, por quatro semestres, sendo três deles em formato remoto e o último no modo presencial. A estratégia da pesquisa se realizou por estudo de caso, tendo como instrumentos de coleta de dados: técnica de grupo focal adaptada com entrevistas semiestruturadas, questionários, diário de bordo, postagens dos estudantes nas redes sociais considerando suas descrições e mensagens, documentos expedidos e participações. Os dados contidos na pesquisa foram analisados por meio de técnica adaptada da análise de conteúdo de Bardin (1977). No âmbito do objeto de estudo, que diz respeito às problemáticas socioambientais, o jogo no sentido de trabalho-jogo suscitou diferentes alcances: compreensão dos diferentes aspectos e contextos sociais, políticos, econômicos, históricos, culturais que compõem as problemáticas; desenvolvimento de sentimento de pertencimento e coletividade; maior apreensão da realidade; aspecto interacional entre conhecimento acadêmico e realidade local; percepção sobre processos de omissão do Governo; aprendizagem por meios informais; novas reflexões e questionamentos sobre os problemas; compreensão de novos conceitos reveladores dos mecanismos de desigualdade socioambiental: injustiça ambiental e racismo ambiental. Quanto à finalidade de ensino, o trabalho-jogo trouxe outros alcances: compreensão das diferentes causas, manifestações e condicionantes que envolvem os problemas; processo de interpretação e compreensão de conceitos; estudo ativo com garantias de liberdade e autonomia para pensar e atuar; práxis como prática reflexiva; aprendizado interativo por meio do diálogo de saberes e transversalidades; ocupação de diferentes espaços institucionais e não governamentais e interação com diferentes movimentos; emancipação por meio da participação em diferentes esferas sociais e políticas; mobilização por justiça social; aprendizagem social e política através da organização e articulação política das ações; compreensão das políticas públicas; transformação pessoal na perspectiva da transição de uma postura passiva diante dos problemas para um postura ativa diante das soluções e, por fim, retorno social.

A temática alimentação com foco nas “Necessidades Alimentares Especiais” (NAE) e suas relações com a formação de professores de Ciências nos anos iniciais e finais ainda é pouco explorada na literatura em Educação em Ciências. No entanto, é possível perceber que o professor de Ciências tem um importante papel na realização de ações pedagógicas que possibilitam escolhas alimentares capazes de promoverem saúde e qualidade de vida. Portanto, o objetivo principal dessa dissertação foi identificar as percepções dos professores da Educação Básica sobre “Inclusão alimentar” e realizar uma proposta de formação continuada para abordar esse tema em uma escola com professoras dos Anos Iniciais. As fases desse trabalho foram organizadas em levantamentos bibliográficos sobre a Educação Inclusiva, as principais legislações e marcos históricos que a embasam e como se articulam com a Alimentação Inclusiva e a Educação em Ciências. Também foi pesquisado como a literatura em ensino de Ciências tem abordado a formação do professor de Ciências perante a temática da Alimentação Inclusiva na escola. A metodologia foi de cunho qualitativo e a obtenção dos dados foi organizada em duas etapas:  -1. Primeiramente, utilizando como instrumento de pesquisa um questionário, disponibilizado na plataforma Google Forms, buscou-se conhecer as concepções de professores de Ciências Naturais dos Ano Finais do Ensino Fundamental sobre restrições e/ou reações adversas a alimentos e foi respondido por nove professores; 2- Na segunda etapa, foi realizada uma Roda de Conversa, como instrumento de pesquisa, durante a realização de uma oficina pedagógica de extensão presencial em uma escola pública do Distrito Federal, como proposta de formação continuada. Essa oficina constou com a participação de doze professoras dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e abordou o conteúdo sobre NAE, além de proporcionar uma prática culinária com receitas inclusivas. Os dados foram analisados com base na Análise de Conteúdo. Os resultados dos questionários demostraram que os docentes entendem a importância da discussão de reações adversas e restrições alimentares nas aulas de Ciências, no entanto, alguns não se sentem preparados para inserirem esse assunto em suas aulas, por desconhecerem a temática. Foi observado que a maioria afirmou ter conhecimento sobre o tema, devido a contextos familiares. A oficina pedagógica de extensão para os professores dos Anos Iniciais colaborou para criar um espaço de diálogo que proporcionasse a abordagem didática sobre as NAE no contexto escolar e os direitos do estudante inserido nesta realidade alimentar. Acredito que a maior contribuição dessa formação tenha sido ao problematizar a questão da inclusão alimentar e despertar o interesse do professor para essa questão que pode ser apresentar não somente em suas aulas, mas também em suas vivências sociais. Assim, compreendo que é preciso fomentar as discussões sobre a formação de professores realizadas com base na temática alimentação de modo a percebê-la como multidimensional, para que práticas pedagógicas sejam realizadas de forma mais consciente e inclusivas.

A “Semana Escolar de Combate à Violência contra a Mulher” reforça a necessidade do tema “mulher” ser abordado na Educação Básica. O objetivo dessa pesquisa foi analisar as contribuições de um curso de formação continuada para docentes de Ciências Naturais dos anos finais do Ensino fundamental com o tema “Mulheres Cientistas” para promover a abordagem das questões de gênero durante a essa semana. A metodologia utilizada foi qualitativa e constou com a participação de professores dos anos finais de uma escola publica do distrito Federal. A análise do resultados foi realizada com base na Análise Textual discursiva e os resultados indicaram que os professores precisam tem mais ambientes de diálogo para proporem ações que possam utilizar nessa semana, como também em outros momento de suas aulas.

A complexidade da realidade socioambiental é percebida de diferentes formas que podem variar de acordo com os contextos socioculturais em que os sujeitos estão inseridos, suas experiências e toda bagagem de mundo vivido. Com base nisso, o presente estudo é fundamentado em uma compreensão fenomenológica do meio ambiente e reconhece a pedagogia freireana e a racionalidade ambiental como enfoques essenciais na estruturação de uma abordagem de Educação Ambiental (EA) crítica que viabilize a integração entre saberes científicos e sensíveis de forma contextualizada. O objetivo da pesquisa foi estudar percepções socioambientais de estudantes da Educação Integral do ensino fundamental de uma escola pública de Sobradinho (DF) e o potencial de uma intervenção pedagógica com produção de narrativas autobiográficas para a constituição de uma prática de EA crítica. Pautado pelo método de pesquisa (auto)biográfica e a produção narrativa, o processo educativo se desenvolveu por meio de uma oficina interdisciplinar, com o objetivo de facilitar a troca de saberes e contribuir com a ampliação dos conhecimentos e reflexões dos(as) educandos(as). O planejamento da oficina foi intencionalmente flexível, permitindo que o desenvolvimento das atividades ocorresse de forma orgânica. Os resultados sugerem que a maioria dos(as) participantes tem uma preocupação acentuada com problemas socioambientais de seus ambientes de vida, especialmente relacionados à poluição, seguida do desmatamento. Além disso, algumas narrativas escritas e orais apresentam elementos que revelam o apreço e admiração dos(as) estudantes pelas paisagens da região de Sobradinho e uma certa afeição às experiências socioambientais vividas em seus contextos. Consideramos que as metodologias adotadas no trabalho favoreceram o diálogo de saberes, a problematização e a reflexão sobre as experiências e percepções dos(as) participantes de maneira autêntica e enriquecedora. As narrativas produzidas sinalizam uma possível ampliação de conhecimento e percepção dos(as) estudantes participantes, sendo considerada fundamental para apresentar alternativas aos discursos hegemônicos, ao revelar elementos relacionados tanto aos conhecimentos racionais quanto aos conhecimentos sensíveis que atravessam as experiências dos sujeitos.

A pesquisa desenvolvida busca valorizar as ações que geram resistência à crise formativa estabelecida dentro da educação. As influências da razão instrumental, guiada por uma sociedade neoliberal, têm favorecido o rompimento com os processos reflexivos gerando reflexões mecânicas sem autenticidade. Dessa forma, o caminho entre o desejo por emancipação e o próprio processo emancipatório está marcado por contradições que dificultam com o cumprimento dessas expectativas. Diante do declínio da formação cultural e científica, os Pequenos Grupos de Pesquisa (PGP), constituído por membros da universidade e da escola em um contexto de formação de professores, surgem como alternativa que busca valorizar um projeto formativo crítico e autêntico. Com embasamento no constructo teórico de resistência desenvolvido por Henry Giroux, entendemos que os PGP têm buscado fomentar ações que criam um movimento de resistência a cultura opressora fomentada pelo neoliberalismo, especialmente, na formação de professores. Nesse sentido, essa pesquisa tem como objetivo identificar as ações desenvolvidas no PGP que viabilizam movimentos de resistência a uma lógica semiformativa. Para tanto, valorizamos dois aspectos principais: a história do PGP representada na literatura científica e o diálogo com integrantes dessa história. De natureza qualitativa e fundamentada epistemologicamente na dialogicidade de Paulo Freire, resgatamos nas memórias a história pronunciada por oito sujeitos que participaram de PGP. Os diálogos foram conduzidos no formato de entrevistas semiestruturadas e analisados a partir da perspectiva da Análise de Conteúdo. As análises foram feitas a partir da ótica de duas grandes categorias: i) qualificação das forças hegemônicas no âmbito da formação docente e da vida escolar; ii) condições, ações e conteúdo da formação contra-hegemônica. Os resultados mostram que o esforço para horizontalizar a relação universidade-escola permitiu uma aproximação formativa entre as instituições e abriram espaços para um olhar sobre a realidade concreta da escola. No entanto, foi verificado que essa relação é mediada pelos aspectos neoliberais do sistema, os quais têm dificultado os avanços formativos. A práxis realizada no “chão da escola” e desenvolvida com professores permitiu identificar aspectos da cultura intrínsecos ao contexto que foram determinantes para uma configuração crítica e política de resistência. A abordagem com Questões Sociocientíficas (QSC) mostrou-se importante para uma conformação de resistência aos modelos tradicionais engendrados na falsa neutralidade da ciência.  Por fim, entendemos que o esvaziamento dos espaços formativos é um projeto neoliberal para concretizar a lógica reprodutora e conteudista dos espaços educativos. É preciso ter um olhar sensível para as relações que intermediam o trabalho e a formação para que a esperança não se perca em meio aos esgotamentos promovidos pela desvalorização da docência. Nesse sentido, entendemos que o PGP é um projeto que não está blindado das investidas neoliberais, mas que, alinhado com a perspectiva dialógica, tem uma configuração formativa crítica e oferece oportunidade teórica que fortalece os sentidos de luta e resistência na formação continuada de professores

O processo inclusivo de alunos com deficiências e/ou com Transtornos Globais do Desenvolvimento - TGD em escolas regulares na Educação Básica configura-se como um desafio para os professores envolvidos, assim como, para as escolas e sistemas de ensino que devem centrar-se na busca por mecanismos para o acesso, permanência e o sucesso desses discentes em turmas comuns inclusivas. Atrelados a essa concepção compreendemos que é atribuição do docente e da comunidade escolar pedagógica analisar as particularidades dos educandos e adequar constantemente seus critérios metodológicos, curriculares e avaliativos. Assim, embasados neste pressuposto, é valido ressaltar que as avalições da aprendizagem são ações intencionais que visam conhecer o alcance de determinado objetivo, ou seja, pensa-se em ações futuras no ensino. Por conseguinte, esse trabalho teve como objetivo geral, identificar as contribuições daspropostas de avaliações da aprendizagem que professores de Ciências Naturais utilizam com alunos com deficiência e /ou TGD no que tange a Educação Inclusiva. Para alcançar o objetivo mencionado, realizamos um estudo baseado na metodologia qualitativa, que é embasada pelo intuito de lidar com interpretações das realidades sociais, neste caso, investigar acerca da avaliação da aprendizagem como fator de inclusão no Ensino de Ciências. O delineamento da pesquisa abarcou as etapas que envolveram: investigações preliminares com cinco professores de Ciências Naturais por meio de entrevistas semiestruturadas; compreensão dos processos de avaliação adotados através de observações sistemáticas; coleta de documentos relevantes relacionadosao estudo; e análise do Projeto Político Pedagógico das escolas das quais os docentes estavam atuando no momento da pesquisa. Considerando a natureza qualitativa da pesquisa, bem como, os objetivos estabelecidos, escolhemos realizar neste estudo a técnica de análise de conteúdo. Após percorrer a realidade vivenciada pelos docentes e educandos da rede pública de ensino de cinco escolas pertencentes ao Distrito Federal, nos deparamos com muitos empecilhos que impossibilitam o processo de inclusão nas unidades escolares investigadas. Em um contexto não muito distante, primordialmente nos anos de 2020 e 2021, passamos por uma doença devastadora que assolou o Brasil e o mundo com muitas mortes e sequelas na saúde e no cotidiano das pessoas. Com a análise dos resultados construídos e em consonância com a revisão bibliográfica, compreendemos que, quando se trata de avaliação inclusiva, o docente deve considerar primordialmente a singularidade do indivíduo, buscando intervir de modo que a sua participação seja ativa no processo de construção do conhecimento.  Na constituição deste estudo, confirmamos que para o sucesso da inclusão escolar e o da avaliação da aprendizagem inclusiva no ensino regular faz-se necessário empenho por parte de todos os profissionais atuantes nesse processo, de tal modo, incumbe-se também essa responsabilidade para a sociedade, as famílias e o poder público. Por mais que sejam existentes inúmeras legislações que obriguem, tanto a inclusão como a execução da avaliação formativa, para que os professores possam desenvolver um bom trabalho é preciso que a formação inicial e continuada sejam consolidadas e valorizadas no Distrito Federal.

Em diversos países do mundo, está sendo observado um declínio no interesse por carreiras relacionadas a ciência e tecnologia (C&T) entre jovens em idade escolar. Ao mesmo tempo, mulheres e famílias de classe popular estão sub-representadas nessas carreiras, indicando que o interesse por ciência pode incorporar desigualdades sociais. Como resposta a esse problema, esta tese introduz o conceito de gosto por ciência como ferramenta para investigar, desde uma perspectiva crítica, o desenvolvimento do interesse por ciência dos estudantes. Fundamentada em um diálogo entre as obras de Pierre Bourdieu e John Dewey, a noção de gosto por ciência permite situar o interesse científico entre a estrutura das relações de classe e as experiências estéticas individualmente vividas na escola. Assim, o gosto por ciência é definido como o senso prático que orienta os estudantes a distinguir quais linguagens, procedimentos e pessoas pertencem à ciência. Na medida em que aprendem a fazer essas distinções de maneira competente, alguns estudantes vão sendo reconhecidos (pelos colegas ou por eles mesmos) como pessoas de ciência. Portanto, o desenvolvimento do interesse científico ultrapassa experiências meramente comemorativas, integrando sentimento, entendimento e pertencimento. A imagem pública da ciência e do cientista pode influenciar substancialmente decisões profissionais dos estudantes. Uma parte desta pesquisa investigou como jovens da Educação Básica em duas instituições de ensino privadas veem a ciência e de que forma essa percepção orienta (ou não) suas escolhas profissionais. Outra parte desta pesquisa foi a realização de entrevistas sobre a história de vida de cinco ex-estudantes da educação básica, atualmente cursando o ensino superior. Os estudantes têm condicionantes sociais distintos (gênero, cor e classe social), embora tenham tido o mesmo professor de Química do ensino médio. As entrevistas situaram as experiências familiares e escolares na elaboração dos Retratos Sociológicos com o objetivo de identificar disposições que permitiram responder como que a continuidade das experiências dos entrevistados contribuiu para o desenvolvimento do gosto por ciência e de que maneira a escola e os professores contribuem para os estudantes se afastarem da/identificarem com a ciência. A análise da primeira parte permite concluir que o contato dos estudantes com a ciência escolar pode produzir impressões duradouras e preceituosas sobre a ciência e sua relação com a sociedade. É usual encontrar uma imagem distorcida da ciência como atividade arriscada e praticada por homens brilhantes, desencorajando meninas e meninos talentosos a se identificarem como participantes da ciência. Algumas atitudes promovidas por professores são apresentadas e podem diminuir essa imagem distorcida. Os resultados das entrevistas mostraram que as disposições são construídas pela vivência familiar e os estudantes pouco recordam de episódios que tenham se distinguido durante uma prática científica escolar, apesar de terem demonstrado distinções em outras situações tanto na escola quanto na família. A personalidade dos professores de Ciências se mostrou substancialmente relevante para desenvolver o gosto por ciência de alguns estudantes. Os estudantes, embora pouco se recordem das aulas vivenciadas, são capazes de identificar um professor que respeita a individualidade deles. Algumas características de um professor valorizadas pelos estudantes são apresentadas. A escola se mostrou relevante para a escolha da carreira profissional, embora de forma revogável. Ademais, sempre há, em alguma medida, a influência familiar na carreira profissional. São apresentadas atitudes docentes potencializadoras para desenvolver o gosto por ciência e influenciar estudantes quanto à carreira científica, apesar de se reconhecer que a escola apresentará limitações. Esta tese defende um olhar para situações, muitas vezes menosprezadas, na escola durante as aulas de ciências como maneiras de agir, falar, respeito à individualidade com doses de humor e incentivo à participação de indivíduos excluídos e/ou ignorados.

 A noção de inovação está bastante presente na educação contemporânea. A despeito da demanda crescente por inovação na educação, no entanto, suas significações raramente estão evidentes. A constante e frequente pressão para que os(as) professores(as) inovem apresenta importante potencial de engendrar crises identitárias nesses sujeitos. Nossa pesquisa gravita em torno desta ideia. Nosso objetivo é compreender como os(as) professores(as) de ciências lidam com a frequente demanda por inovação na educação contemporânea e como se sentem diante dela. Fazemos isso a partir de relatos de vida e experiências de professores(as) reconhecidos por suas comunidades escolares como inovadores, bem como gestores de escolas com o mesmo reconhecimento. Trata-se de uma pesquisa (auto)biográfica em que buscamos interpretações inéditas sobre a relação entre inovação e o mal-estar docente. Primeiro, identificamos como esses(as) professores(as) compreendem a ideia de inovação na educação e, em seguida, buscamos compreender se eles expressam a ideia de mal-estar docente e de que forma esse estado é traduzido por eles. Exploramos a fragilidade do termo "inovação na educação" e concluímos que o conceito de "inovação na educação" é complexo, polissêmico e problemático. Ele não possui uma definição unívoca e seu significado varia em diferentes contextos. Apesar dessa diversidade, a demanda por inovação no campo educacional é crescente, e os(as) professores(as) são frequentemente acionados para promover tais mudanças. Outro conceito central em nosso trabalho é o de identidade na contemporaneidade, com foco nas crises identitárias atuais. Baseados em obras de Zygmunt Bauman e Stuart Hall, caracterizamos a contemporaneidade como um tempo em que os indivíduos podem ter múltiplas identidades, que são construídas por meio de um processo narrativo. A partir do trabalho de Manfré (2014), que investiga o mal-estar docente, chegamos à noção de crise identitária relacionada à questão da "inovação na educação". O mal-estar docente é entendido como um estado, e não apenas um fenômeno, neste contexto. Nossos achados apontam para o fato de que o sentimento em relação à demanda constante e frequente por inovação na educação é de mal-estar. Em maior ou menor grau, a demanda por inovação é compreendida como insatisfação sobre quem são ou se propõem a serem. A percepção dos(as) professores(as) é de que é imprescindível para realizar a demanda por inovação na educação, possuir algum domínio técnico. Não fica evidente, entretanto, sobre o que exatamente versa tal domínio. Uma maneira de lidar com o sentimento de mal-estar que identificamos é estabelecendo compromissos de aprendizagem com seus alunos. Por fim, esses(as) professores(as) reivindicam, fundamentalmente, um lugar de pertencimento. 

No momento presente, discutir sexualidade em sala de aula é assimilado como atribuição dos professores de CN, em tempos de escola inclusiva essa responsabilidade ganhou novos contornos e até mesmo os temas biológico-higienistas assumiram outras dimensões, como nos revela a revisão da literatura. A formação inicial desses professores parece ter passado por mudanças significativas no que faz referência à inclusão; quanto à Educação em Sexualidade, transformações parecem caminhar lentamente no sentido de facilitar a atividade pedagógica, como descrito por estudos nessas áreas do conhecimento. O presente trabalho possui por objetivo identificar como professores de Ciências da Natureza (CN) elaboram seu entendimento a respeito da Educação Inclusiva e da Educação em Sexualidade durante a licenciatura e a percepção da importância dessa formação para que haja condições de promover a articulação entre os temas em sua prática pedagógica, na perspectiva de propor uma Educação Inclusiva em Sexualidade. Os elementos utilizados na pesquisa foram construídos por meio de entrevistas narrativas com professores licenciados para trabalhar com CN que tivessem experiência em turmas da Educação Básica (EB) e foram analisados empregando a análise textual discursiva. Os professores entrevistados apontam problemas na formação inicial de diferentes naturezas e nas duas áreas, a saber, inclusão e sexualidade, bem como na articulação entre elas. A legislação tornou os estudos sobre inclusão obrigatória, todavia, no que tange à Educação em Sexualidade, não há obrigatoriedade legal, consequentemente acabam por não acontecer de maneira sistematizada. Propomos a denominação Educação Inclusiva em Sexualidade (EIS) na perspectiva de ampliar os conceitos de sexualidade e Educação em Sexualidade com vistas a associá-los à inclusão, entendendo a inclusão como uma forma de envolver toda diversidade que se manifesta em um corpo biológico. A falta de formação inicial dos professores de CN em Educação Inclusiva em Sexualidade resulta em dificuldades no momento de desenvolver projetos que envolvam as duas áreas na EB. Restam muitas indagações sobre a EIS que deve ser entendida como um campo em constante desenvolvimento.  

O presente estudo se propôs a investigar as visões e as práticas de sustentabilidade promovidas pelo Instituto Federal de Brasília (IFB) Campus Estrutural junto à comunidade local para a promoção da sustentabilidade. O Campus está localizado próximo à Cidade Estrutural, no Distrito Federal, que é uma comunidade marcada pela alta vulnerabilidade social e por diversos desafios socioambientais, entre eles, a carência de educação pública de qualidade. Até pouco tempo a região também abrigava o maior lixão do país e da América Latina, conhecido como Lixão da Estrutural (ou Lixão do Jóquei). Para alcançar o objetivo da tese, inicialmente, foi realizada uma revisão integrativa da literatura, que analisou as produções científicas indexadas nas bases de dados SCOPUS e SciELO e produzidas entre os anos de 2015 e 2019. Dos 687 artigos encontrados, 82 foram selecionados para análise. Os resultados revelam que as práticas de sustentabilidade das Instituições de Ensino Superior (IES) estão mais concentradas nas dimensões da gestão e do ensino. Apesar da variedade de estratégias identificadas, em geral as iniciativas são individuais e compartimentadas. Depois, visando explorar o caso do Campus Estrutural em profundidade, foi conduzido um estudo de caso único. Utilizou-se como instrumentos de coleta de dados: análise documental, entrevistas semiestruturadas, questionários e diário de pesquisa, os quais foram analisados a partir dos pressupostos da Análise Textual Discursiva (ATD). Os resultados mostram que os principais esforços do Campus Estrutural em sustentabilidade, segundo a comunidade acadêmica, estão direcionados para o ensino e, em segundo lugar, para a gestão. No que diz respeito à abordagem do tema nos currículos, este se encontra presente nos cursos do eixo do meio ambiente e de forma pontual nos demais. Na dimensão da gestão, observou-se ainda que há pouco engajamento e participação da comunidade acadêmica nas iniciativas, bem como falhas na comunicação das ações de sustentabilidade. Apesar de não haver uma política própria de sustentabilidade, em alguns documentos institucionais o tema é abordado, ora aproximado ao conceito de desenvolvimento sustentável, ora aproximado ao conceito de sustentabilidade. Em relação à extensão, os dados revelam que as iniciativas de extensão estão concentradas, principalmente, em projetos que visam promover a formação continuada da comunidade. Também se observou que há níveis diferentes de compreensão da extensão entre os gestores e os docentes, sendo que os servidores envolvidos com o território apresentam uma visão mais amadurecida da extensão e das questões socioambientais que a comunidade enfrenta. Apesar de o Campus Estrutural ter diversas iniciativas em sustentabilidade nas quatro dimensões, em geral, elas são realizadas de forma pontual e conduzidas por poucos indivíduos, o que evidencia um dos desafios da instituição, que é o de superar as ações isoladas. Além disso, sobre a relação do Campus com o território e vice-versa, observou-se que é necessário o estreitamento da relação e melhor divulgação das atividades da instituição dentro do território.