Sendo um dos maiores produtores agrícolas do mundo, o Brasil é um dos países que mais gera resíduos agroindustriais, como a vinhaça, gerada nos diversos processos da indústria sucroalcooleira, e que quando descartada de maneira inadequada, pode gerar diversos impactos negativos, principalmente aos recursos hídricos. Acontece que a alta carga de material orgânico e mineral da vinhaça que pode trazer prejuízos para o meio ambiente, também é uma fonte de nutrientes para o crescimento de microalgas, sendo possível associar a biorremediação desse efluente com a produção de compostos de interesse, através da biomassa gerada por estes microrganismos. Com isso em mente, neste estudo foram analisados o crescimento em vinhaça e a biomassa gerada de 10 cepas de microalgas da Coleção de Microrganismos e Microalgas Aplicadas à Agroenergia e Biorrefinarias, da Embrapa Agroenergia (DF, Brasil), a fim de selecionar aquelas com o melhor desempenho tendo este resíduo como cultivo. Após essa etapa, procurou-se avaliar o impacto que a vinhaça tem sob a produção, quantitativa e qualitativa, de biomassa de 4 cepas, realizando um crescimento comparativo entre ela e o meio sintético BG11, em dois sistemas de cultivo e quantidade de volume diferentes. Na triagem com as 10 cepas, todas demonstraram um bom crescimento em vinhaça, sendo observadas pequenas diferenças na análise bioquímica de suas biomassas, mas que geralmente são esperadas quando se analisam espécies diferentes. Em relação aos crescimentos comparativos, enquanto as análises de pigmentos e ácidos graxos das biomassas das microalgas cultivadas em um volume de 10 mL demonstraram que a vinhaça não gerou nenhum impacto, positivo ou negativo, sob a produção destas moléculas, diferentes mudanças são notadas quando se analisa a biomassa produzida no cultivo de 1 L, como por exemplo no crescimento, no rendimento da biomassa, no diâmetro celular e nas moléculas de interesse analisadas (ácidos graxos e pigmentos), indicando que tanto a alteração da composição da vinhaça como das condições de cultivo possa ter tido um impacto significativo no desenvolvimento das microalgas nesse resíduo. A análise de auxinas incrementa esses resultados, demonstrando que esses microrganismos possuem um potencial de produção de moléculas fitorreguladoras e que essa produção pode ser afetada diretamente pela vinhaça, pela sua composição e pelo sistema de cultivo em que ela é aplicada.

A Botânica, como disciplina fundamental, desempenha um papel essencial na compreensão da vida vegetal e sua interação com o ambiente, transcendo os limites das ciências biológicas. No contexto do bioma Cerrado, aprimorar o ensino desta disciplina é crucial para que os estudantes conheçam e empatizem com um ecossistema fascinante que se encontra atualmente sob alto grau de ameaça. O primeiro capítulo analisa a presença da Botânica nos documentos educacionais brasileiros, destacando lacunas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e no Currículo em Movimento do Distrito Federal. Em seguida, o segundo capítulo propõe uma sequência didática investigativa, utilizando tecnologias da informação e comunicação (TIC), visando tornar o ensino de Botânica mais significativo e motivador. Por fim, o terceiro capítulo explora o potencial das trilhas interpretativas como recurso didático, baseado em um levantamento florístico na Reserva Ecológica Chapada Imperial. Essas iniciativas buscam promover uma abordagem dinâmica e contextualizada para o ensino de Botânica, contribuindo para a formação de cidadãos conscientes e engajados na conservação do meio ambiente.

Macrófitas aquáticas colonizam a maioria dos ecossistemas aquáticos. A dinâmica e distribuição macrófitas aquáticas estão sujeitas a inúmeros fatores bióticos e abióticos, sendo que sua diversidade é determinada pela combinação de fatores ambientais como isolamento, diversidade de habitats e hidroperíodo, tamanho da área úmida e pressões antrópicas. Nesse sentido nosso objetivo é entender a dinâmica e distribuição de macrófitas aquáticas no sul da Amazônia, avaliando variações em uma escala ambiental e temporal. Para descrever uma lista de espécies foram utilizadas coletas de campos complementadas com registros de herbários para o sul da Amazônia. Para estudar a variação ambiental e temporal foram selecionados 16 pontos no rio Teles Pires e seus afluentes. Nesses pontos foram registrados a ocorrência, biomassa, e formas de vida da comunidade de macrófitas aquáticas, além de parâmetros limnológicos e vegetação do entorno. Para determinar relações florísticas entre as bacias hidrográficas foram usados os registros de herbários para descrever composições contrastantes entre bacias, sub-bacias e microbacias. Além de uma lista completa de espécies e comparações florísticas com outros domínios, descrevemos de forma clara padrões de variação ambiental e temporal da estrutura da comunidade macrófitas aquática, além de fornecer informações sobre composição destas espécies por bacias hidrográficas no sul da Amazônia.

A representatividade de espécies nativas no mercado de plantas ornamentais é escassa e a introdução de espécies nativas nesse mercado pode auxiliar a conservação de material genético dessas espécies pelo seu conhecimento, utilização e popularização. No Brasil, um baixo número de espécies nativas é encontrado em floriculturas e viveiros e este é um campo vasto para o desenvolvimento de novas pesquisas e estudos no que diz respeito ao cultivo, domesticação e propagação das espécies nativas voltadas para o uso ornamental. A partir de um ranqueamento de espécies de Cuphea seção Melvilla, uma seção do gênero que apresenta várias espécies notáveis pela beleza de suas flores, foi escolhida a espécie Cuphea pulchra Moricand (Lythraceae) para avaliação de seu potencial como planta ornamental para vaso devido aos seus atributos atenderem a vários critérios. Para a avaliação do potencial ornamental foi utilizado como base o “Índice Composto de Potencial Ornamental de Espécies Tropicais”, através do qual um conjunto de características desejáveis para potenciais espécies nativas ornamentais foi avaliado, incluindo a reunião de dados morfológicos, fenológicos, aspectos da interação da espécie com a fauna, rusticidade, entre outros. Com esta espécie foram explorados dados sobre formas de propagação e manejo, aspectos de grande importância para amparar um maior aproveitamento de espécies nativas no mercado de plantas ornamentais. Foram realizados testes de viabilidade e germinação de sementes, avaliação de comportamento para a produção de mudas em viveiro, testes de estaquia, teste de podas e aramação, e testes de substratos. Cuphea pulchra se mostrou uma planta rústica, resistente a altas temperaturas e baixa umidade, com beleza, viabilidade para cultivo e manejo, com grande potencial para ser incorporada no mercado de plantas ornamentais para vaso.

Microalgas são organismos fotossintéticos que realizam biofixação de CO2 e produzem compostos de alto valor agregado a partir da biomassa de seu cultivo. Existem espécies capazes de liberar metabólitos extracelulares com perspectiva de aplicação, porém, somente a biomassa é processada para obtenção desses produtos. Enquanto isso, grandes volumes de meios de cultivo permanecem inexplorados. A otimização dos meios de cultivo de microalgas, têm como foco as fontes de nitrogênio e a seleção de espécies mais promissoras, como a Chlorella sorokiniana. Portanto, o presente estudo teve como objetivo, analisar o impacto do cultivo em diferentes fontes de nitrogênio combinadas, na produção de compostos extracelulares. Foram utilizados quatro meios de cultivo, BG11 como controle; um meio com a principal fonte de nitrogênio sendo a Ureia (BGU), um meio com a principal fonte de nitrogênio sendo o nitrato de potássio (BGK) e um meio com três fontes de nitrogênio combinadas: ureia, nitrato de potássio e nitrato de amônio (BGCON). O crescimento das culturas foi monitorado por densidade óptica, contagem de células e pesagem da biomassa seca. A detecção dos compostos foi feita utilizando cromatografia gasosa acoplada com espectrometria de massas. Os metabólitos foram identificados por comparação dos espectros de massas utilizando a biblioteca NIST e quantificados utilizando o software MetAlign. O meio BGK apresentou maior densidade celular e produtividade de biomassa seca comparado ao controle (BG11). Um resultado esperado, visto que, altas concentrações de Nitrato de amônio podem inibir o crescimento da biomassa. É possível que seja esse o motivo pelo qual os meios que contêm Nitrato e nitrato de amônio (BG11, BGK e BGCON) possibilitaram um menor crescimento em relação ao meio BGU, no qual a principal fonte de N é a Ureia. A comparação dos meios por CG-EM detectou diferenças significativas em 30 compostos de um total de 752 picos cromatográficos detectados e 3 destes foram identificados. Os testes com os compostos dos meios nos quais a Ureia não está presente (BG11 e BGK), apresentaram 11 compostos com diferenças significativas de 599 analisados e 3 deles foram identificados. Do presente estudo, concluímos que C. sorokiniana tem potencial para produção de biomassa e de metabólitos extracelulares e futuramente esses compostos podem ser identificados, quantificados e possuir aplicações biotecnológicas.

Introdução: O cacaueiro (Theobroma cacao L.), uma espécie lenhosa da família Malvaceae, é uma cultura de grande importância cultural e econômica no mundo, devido principalmente, à produção de chocolate. No entanto, cerca de 38% do cacau cultivado é perdido anualmente devido a pragas e doenças, e também, à dificuldade de armazenamento, graças à recalcitrância das sementes. Devido à base genética estreita e ao longo ciclo de vida, programas de melhoramento genético são demorados, o que torna necessário o desenvolvimento de métodos de propagação mais eficientes para a multiplicação de genótipos de interesse, como a embriogênese somática. Objetivo: O objetivo deste trabalho é desenvolver um protocolo otimizado de embriogênese somática em variedades de cacau, além de descrever e caracterizar anatomicamente diferentes tipos de calos e embriões somáticos obtidos durante as diferentes etapas do processo. Metodologia: Este estudo foi realizado na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília-DF. Explantes formados por estaminoides foram coletados de flores de três plantas matrizes (752, 754 e 755) e cultivados em meios de cultura baseados na pesquisa de Li e colaboradores (1998), adicionado das citocininas cinetina e meta-Topolina nas concentrações de 0; 0,5 e 1,0 mg L-1, seguindo um delineamento experimental inteiramente casualizado em esquema fatorial triplo (3 genótipos × 2 citocininas × 3 concentrações). Os tratamentos foram formados por 5 repetições de 10 estaminoides cada. Resultados: No processo de embriogênese somática houve a formação de calos após duas semanas e o surgimento de embriões somáticos em dez semanas. Foram identificados e diferenciados dois tipos de calos durante a execução do experimento, denominados de granular e nodular. O genótipo “754”, no tratamento controle e no tratamento com adição de 1 mg L-1 de cinetina, destacou-se na taxa de formação de embriões somáticos. Durante a fase de desenvolvimento de embriões somáticos, verificou-se alta taxa de oxidação dos explantes, sobretudo daqueles oriundos do tratamento controle, o tratamento mais responsivo ao desenvolvimento de embriões. Conclusões: O estudo demonstrou a existência de variação genotípica na resposta da embriogênese somática em cacau. A oxidação dos calos não afetou a formação de embriões e a região basal do estaminoide é a mais responsiva. A adição das citocininas testadas não aumentou significativamente a geração de embriões somáticos. Portanto, o meio originalmente estabelecido por Li e colaboradores ainda pode ser usado como padrão comercial para genótipos como os estudados neste trabalho, não sendo necessária a adição das citocinina, apesar do relato em outros genótipos.

Características morfológicas vegetativas têm sido empregadas na distinção taxonômica de espécies do gênero Piper, mas a variação no tamanho, forma e indumento das partes vegetativas resulta na criação de complexos de espécies sem delimitação clara entre si. No Brasil, algumas espécies que ocorrem no Cerrado, como Piper aduncum L., P. corintoanum Yunck., P. flavicans C.DC., P. fuligineum Kunth, P. gaudichaudianum Kunth, P. hispidinervum C.DC., P. macedoi Yunck. e P. malacophyllum (C. Presl) C.DC. são muito confundidas devido a semelhança morfológica e estão incluídas no Complexo “Piper aduncum”. Nesse trabalho foi feita a filogenia do grupo utilizando marcador ITS em conjunto á características morfológicas, análise morfométrica e microscopia eletrônica de varredura (MEV) com o objetivo de esclarecer a identidade taxonômica destas espécies. Foram examinadas sete espécies do Complexo “Piper aduncum”, 181 espécimes para as análises, e 294 sementes. A análise mostrou que não é possível distinguir todas as espécies entre si utilizando somente as características morfológicas ou morfométricas possuindo sobreposição entre todas as espécies. Porém na morfometria três grupos foram formados. O Primeiro grupo denominado (g) incluiu todos os espécimes de P. gaudichaudianum e foi caracterizado por folhas sem extensão basal e espigas curvas. O segundo grupo denominado (f/fl/mc) formado com todos os indivíduos de P. fuligineum, P. flavicans e P. macedoi foi caracterizado pela presença de extensão basal foliar e espigas eretas. O terceiro grupo denominado (a/co/hi/ma) incluiu todos os indivíduos de P. aduncum, P. corintoanum, P. hispidinervum e P. malacophyllum e foi caracterizado pelas folhas com extensão basal e espigas curvas. Os resultados aqui apresentados culminam em um tratamento taxonômico de delimitação das espécies incluindo nota para a sinonimizarão de P.corintoanum para P.aduncum

O objetivo do trabalho foi aperfeiçoar o protocolo de embriogênese somática de um híbrido interespecífico de palma de óleo (Elaeis oleifera x E. guineensis) desenvolvido em sistema bifásico, a partir da melhoria das etapas de diferenciação e regeneração das plantas. Em um segundo experimento, fram verificadas as diferenças morfológicas, anatômicas e histoquímicas de embriões somáticos normais e hiperhídrios de palma de óleo submetidos aos tramentos com ácido giberélico (AG3). Após obtenção destes resultados, serão avaliadas proteínas e genes diferentemente expressos em embriões somáticos hiperhídricos ou não em vias de regeneração. Para tal, foram utilizados explantes foliares imaturos de palma de óleo do genótipo B351733, já inoculado em 2016 em meio de cultivo semissólido, suplementado com 30 g/L de sacarose e 450 μM de Ácido 4-amino-3,5,6-tricloropicolínico (Picloram), além de 2,5 g/L de carvão ativado. Para multiplicação, os calos formados nos explantes foliares foram colocados em novo meio de multiplicação, constituído pelo meio de cultura semissólido de MS suplementado com 30 g/L de sacarose, 5 μM de Picloram, 20 μM de 2-isopenteniladenina (2iP) e 2,5 g/L de carvão ativado, por 90 dias. Após 3 meses, os calos foram transplantados para placas de petri com meio de cultivo semissólido de MS suplementado com sacarose 30 g/L, 1 g/L de caseína, 0,25 g/L de glutamina, aspargina, arginina e cisteína, além de 2,5 g/L de carvão ativado e três concentrações de AG3 (0, 0,5 e 1,0 mg/L), onde ficaram por 210 dias. Os embriões somáticos diferenciados que germinaram foram transferidos para o meio líquido de regeneração, o qual foi composto pelo meio de MS com metade dos sais, suplementado com 30 g/L de sacarose, 1,0 g/L de caseína hidrolizada, 0,25 g/L de glutamina, aspargina, arginina e cisteína, 1,0 g/L polivinilpolipirrolidona (PVP) e duas concentrações de ácido indolbutírico (AIB): 1,5 e 11 mg/L. Por fim, análises de fidelidade genética foram realizadas para verificação de variação somaclonal por meio da técnica de ISSR com as folhas das plantas que foram regeneradas. Para as análises morfológicas, anatômicas e histoquímicas, embriões somáticos que estavam em meio de MS suplementado com 1,0 mg de AG3 e apresentando aspecto normal (Nm) e hiperhídrico (Hh) foram fotografados e emblocados em historesina e corados com azul de toluidina, Lugol e Xilidine Ponceau. Para análises proteômicas e de expressão gênica, embriões somáticos normais e hiperhídricos do tratamento controle e do tratamento com maior quantidade de AG3 foram aleatorizados e congelados rapidamente em nitrogênio líquido. Os embriões somáticos foram macerados e armazenados a -80ºC para extração de RNA. Um total de 19 genes potencialmente envolvidos na hiperhidricidade foram selecionados a partir da literatura e primers foram desenhados utilizando o software Primer3plus. Três réplicas biológicas de cada condição foram utilizadas para extração do RNA por meio de Trizol (Invitrogen) e purificado em coluna RNAeasy. Após a purificação, foi feita a síntese do cDNA utilizado para análise de RT-qPCR em termociclador 7300 96-well Real-Time PCR Systems (Applied Biosystems). Os genes canditatos foram selecionados por meio da literatura, escolhendo aqueles que apresentavam possível causa da hiperhidricidade. Os resultados obtidos até o momento mostraram que o tratamento com 1,0 mg/L de AG3 propocinou um aumento na taxa de diferenciação (86,2%) e também na germinação (38,4%) de embriões somáticos. Apesar de ser o melhor tratamento, o surgimento da anormalidade da hiperhidricidade foi verificada na etapa de diferenciação e formação de embriões somáticos. Todavia, a análise de risco relativo, ainda sim, apresenta uma maior proporção de formação de embriões somáticos em decorrência de embriões anormais. Os embriões que germinaram e foram para meio líquido apresentaram uma porcentagem de enraizamento maior no tratamento com 11 mg/L de AIB (37%), quando comparado a taxa de enrzaimamento do meio com menor quantidade de auxina (20%). Num segundo momento, verificou-se que os meios suplementados com AIB apresentaram embriogênese somática secundária. Os resultados sugerem a alta capacidade de produção de plantas clonais do híbrido interespecífico de Elaeis oleifera × E. guineensis - B351733 mediante a suplementação do meio de cultivo com o AG3 nas etapas de diferenciação de calos e também na etapa de germinação de embriões. Acerca da análise de fidelidade genética, é possível perceber que aconteceram algumas mudanças somaclonais, em 4 das 30 plantas analisadas. Os resultados das análises morfoanatômicas e histoquímicas mostraram que houve maior quantidade de embriões somáticos Nm diferenciados por explante, com taxa de germinação próxima do zero nos embriões somáticos Hh. Adicionalmente, verificou-se maior acúmulo de proteínas e amido nos embriões somáticos Nm, quando comparado aos Hh. Verificou-se ainda que em embriões somáticos Nm as reservas proteicas estavam localizadas mais na região proximal (eixo embrionário), enquanto que o amido teve suas reservas acumuladas mais na região distal dos embriões somáticos. Os embriões somáticos Hh não apresentaram reservas de amido e observou-se que maior quantidade de espaços intercelulares, em relação ao embrião somático Nm. Entretanto, alguns embriões somáticos Hh apresentaram características histoquímicas semelhantes aos Nm, o que pode explicar a ocorrência de reversões do estado Hh para o Nm observadas neste trabalho. Os resultados revelaram que dos 19 genes, 17 apresentaram expressão gênica diferencial nos embriões hiperhídricos. Os genes envolvidos na resposta de estresse, metabolismo energético, defesa, transporte por membrana, regulação hormonal e desenvolvimento apresentaram-se regulados positivamente, com destaque para a síntese e transporte de etileno. A produção de etileno é comum em plantas sob estresse hídrico, que junto com as giberelinas, promovem o alongamento das plantas. O etileno também pode promover, em alguns casos, a abertura de canais de água, promovendo a hiperidrose nas plantas.sem parágrafo. Escrever aqui, sem parágrafo. Escrever aqui, sem parágrafo. Escrever aqui, sem parágrafo.

As mudanças climáticas aceleradas pela ação humana têm causado extinções e reduzido a biodiversidade em todo o mundo. Ambientes que apresentam alta frequência de distúrbios, como as savanas, podem estar particularmente ameaçados. O bioma Cerrado, um hotspo t de biodiversidade, é composto principalmente por formações savânicas e vem sofrendo grande pressão devido às perdas de habitats e mudanças climáticas. Para compreender os impactos das mudanças climáticas na vegetação do Cerrado, fizemos dois experimentos com espécies arbóreas amplamente distribuídas nesse bioma. No primeiro experimento utilizamos as espécies Qualea grandiflora e Tabebuia aurea para testar o efeito de diferentes durações de veranicos no seu desenvolvimento, utilizando tratamentos de irrigação com intervalos de 1d, 8d e 15d. Os tratamentos de irrigação não causaram mortalidade de plântulas de ambas as espécies. O desenvolvimento inicial de Q. grandiflora não apresentou alterações entre os diferentes tratamentos de irrigação. O tratamento com 15d entre irrigações causou menor acúmulo de biomassa radicular de T. aurea provavelmente devido ao estresse hídrico. No entanto, o crescimento da raiz principal de T. aurea não sofreu alteração entre os tratamentos de irrigação. A profundidade da raiz principal pode ser uma estratégia importante para a sobrevivência de plântulas de espécies arbóreas em savanas. No segundo experimento utilizamos Kielmeyera coriacea, Qualea grandiflora, Tabebuia aurea e Hymenaea stigonocarpa para observar parâmetros de crescimento das plântulas dessas espécies em dois diferentes cenários: atual, baseado em dados históricos; e futuro, baseado nas projeções do IPCC para 2100 segundo o SSP3-7.0. Todas as espécies apresentaram aumento da taxa de crescimento relativo e da biomass a total quando submetidas ao cenário futuro. A distribuição de biomassa encontrada no cenário atual de K. coriacea e H. stigonocarpa se manteve quando submetidas ao cenário futuro, enquanto que Q. grandiflora e T. aurea apresentaram maior investimento em biomassa aérea do que radicular devido à elevação da temperatura e da concentração de gás carbônico. K. coriacea foi a espécie que apresentou menor alteração dos parâmetros observados no cenário futuro e Q. grandiflora foi a espécie que apresentou maior alteração do crescimento inicial. Embora as respostas ao cenário futuro tenham variado de acordo com a espécie, todas as espécies foram favorecidas pelo cenário futuro. Esse resultado pode indicar que plântulas de espécies arbóreas de savana terão melhores chances de recrutamento sob condições de temperatura e gás carbônico atmosférico elevados. Palavras-chave: Mudanças climáticas, plântula, fitotron, biomassa, plasticidade, estresse, elevada [CO2], temperatura elevada, Kielmeyera coriacea, Qualea grandiflora, Tabebuia aurea, Hymenaea stigonocarpa.

A invasão bem sucedida de espécies exóticas pode estar relacionada às suas propriedades alelopáticas, que podem atuar dificultando o recrutamento de espécies nativas (hipótese de novas armas). De fato, as espécies nativas também podem produzir aleloquímicos prejudiciais a espécies exóticas, contribuindo assim com a resistência da comunidade à invasão (hipótese de segurança interna). Andropogon bicornis é uma gramínea nativa de ampla ocorrência em áreas nativas e degradadas do Cerrado e empregada na restauração ecológica. Sua congenérica A. gayanus é uma gramínea africana que invadiu savanas nativas e degradadas do Cerrado. O presente estudo avaliou os efeitos alelopáticos de A. gayanus e A. bicornis sobre o crescimento inicial de duas espécies nativas (A. fastigiatus e Lepidaploa aurea) e duas espécies exóticas (Melinis minutiflora e Stapfochloa elata) de ampla ocorrência em diversas fisionomias do Cerrado. Folhas ou raízes das espécies doadoras (Andropogon) foram misturadas com amostras de solo coletadas nas mesmas áreas onde interagem espontaneamente com suas espécies-alvo nas proporções de 0,75, 1,5 e 3% (serapilheira/volume de solo). Descobrimos que a exótica A. gayanus inibiu o crescimento de todas as espécies-alvo, corroborando a hipótese de novas armas. A nativa A. bicornis estimulou o crescimento das duas espécies nativas e de S. elata, mas inibiu o crescimento da exótica M. minutiflora, corroborando assim a hipótese de segurança interna. Nossos estudos indicam que a alelopatia pode contribuir com o sucesso da invasão do Cerrado por A. gayanus. Por outro lado, aleloquímicos produzidos por A. bicornis inibiram o crescimento de M. minutiflora, sugerindo que A. bicornis pode ajudar a controlar a propagação desta gramínea exótica. Conclui-se que a alelopatia pode representar um componente importante das interações entre espécies nativas e exóticas, e que as propriedades alelopáticas das espécies nativas podem ser consideradas no controle de espécies exóticas espalhadas por áreas nativas e degradadas do Cerrado.

Eupatorieae possui 2200 espécies agrupadas em 182 gêneros pertencentes a 20 subtribos. Dentre as 20 subtribos, Praxelinae configura-se como a segunda maior em número de espécies, com cerca de 193 espécies agrupadas em sete gêneros: Praxelis, Chromolaena, Eupatoriopsis, Lomatozona, Praxeliopsis, Eitenia e Osmiopsis. Exceto por Osmiopsis, os demais gêneros possuem representantes no Brasil, principalmente no Cerrado. A subtribo Praxelinae é considerada monofilética, entretanto, as relações evolutivas entre os gêneros ainda são incertas. Tendo em vista que num estudo publicado em 2016, foram amostrados somente 57% dos gêneros e 19% das espécies de Praxelinae, há necessidade de mais estudos por meio de uma maior amostragem das espécies da subtribo. Desta forma, buscamos: i) reconstruir a filogenia da subtribo Praxelinae com todos os gêneros circunscritos; ii) apresentar novidades nomenclaturais em Praxelis; iii) confirmar a inclusão dos gêneros circuncritos em Praxelinae baseado em morfologia utilizando ferramentas moleculares. Como resultados, apresentamos três manuscritos em forma de capítulos. O primeiro capítulo corresponde à filogenia da subtribo Praxelinae. Um total de 32 espécies de Praxelinae em uma matriz de 202 espécies de Asteraceae (principalmente Eupatorieae) foram analisadas, sendo que foram geradas dez novas sequências nucleares e/ou plastidiais (ITS e ndhF), amostrando assim todos os gêneros, bem como as suas espécies tipos. Apresentamos no segundo capítulo um manuscrito já publicado que inclui a descrição de uma espécie nova de Praxelis e uma nova sinonimização em P. capillaris, bem como o reconhecimento da sinonimização prévia de P. grandiflora em P. kleinioides desconsiderada pela Flora e Funga do Brasil. Por fim, no terceiro capítulo, investigamos a origem de Osmiopsis plumieri, discutimos a incongruência entre a topologia da árvore nuclear e de cloroplasto, que sugerem fortemente que a espécie é um híbrido entre Koanophyllon and Praxelis, e apresentamos as consequências taxonômicas de seu status híbrido.

O gênero Arachis possui 83 espécies descritas, 67 encontradas em território brasileiro e 46 endêmicas do Brasil. O gênero é dividido em nove secções, suas espécies com distribuição natural em território sul-americano e crescente importância econômica e ecológica. O estudo morfológico de seus frutos é majoritariamente de sua principal espécie em cultivo, Arachis hypogaea L., o que este trabalho complementa com a caracterização destes em espécies silvestres, com o fim de ampliar o conhecimento, auxiliar o manejo de materiais em Bancos de Germoplasma, assim como analisar a diversidade morfológica entre populações. O estudo foi realizado com o total de 46 espécies, 36 de ocorrência em território nacional e 29 endêmicas do país, contidas em oito das secções do gênero. Foram realizadas medições de comprimento e largura de segmentos de frutos, tanto quanto caracterização morfológica de acordo com bico, reticulação, crista e mamilo, condição do pericarpo, presença de pelos, aderência de terra e local de inserção do istmo. Os descritores utilizados apresentaram valor em alguns casos na diferenciação e identificação de amostras e espécies, tendo sido elaborada a partir deles chave de identificação para as espécies da muito diversa secção Heteranthae Krapov. & W.C.Greg., da qual é mais típica a presença de mamilo. Constatou-se baixa diversidade morfológica e morfométrica em Procumbentes Krapov. & W.C.Greg., à exceção da díspar cultivar Arachis villosulicarpa Krapov. & W.C.Greg. Foi observado aumento de comprimento nos segmentos nas populações litorâneas para Arachis stenosperma Krapov. & W.C.Greg., e padrão centrífugo de aumento, a partir do centro de dispersão da espécie, em segmentos entre populações de Arachis veigae Santana S.H. & Valls. Arachis pintoi Krapov. & W.C.Greg, por sua vez, apresentou diversidade distribuída sem distinção entre populações de três bacias hidrográficas. Através da caracterização também foi possível indicar eventuais inexatidões na identificação de amostras.

A família Malpighiaceae é mais diversa na região Neotropical, tendo como centro de diversidade a América do Sul. Alguns gêneros de Malpighiaceae ganham destaque por apresentar espécies com importância econômica, ornamental e Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) C.V. Morton, pelo uso religioso. Banisteriopsis sentido restrito (s.r.) possui 61 espécies que ocorrem desde o norte do México até o sul da Argentina e o maior número de taxa são encontradas no Brasil, com destaque para o Planalto Central, onde 48 são encontradas, sendo 34 endêmicas. Lacunas no conhecimento de Banisteriopsis permanecem pendentes, como é o caso de nomes que carecem de lectotipificações e de grupos de espécies de difícil circunscrição. Pela importância sociocultural da Ayahuasca e inconsistências na delimitação da espécie e de relacionadas, escolheu-se tratar dos táxons componentes do clado fortemente sustentado, onde está incluído B. caapi e mais cinco espécies: B. schwannioides (Griseb.) B.Gates, B. adenopoda (A.Juss.) B.Gates, B. pulchra B.Gates, B. confusa B.Gates e B. latifolia (A.Juss.) B.Gates. Como esses taxons são relacionados a grupos de espécies, o grupo Malifolia foi analisado, por conter B. confusa e B. latifolia e mais cinco espécies de difícil circunscrição, não incluídas na filogenia e com distribuição centrada no Cerrado. O objetivo deste trabalho é ampliar o conhecimento filogenético, morfológico e nomenclatural do gênero Banisteriopsis para a compreensão da evolução do clado onde se localiza B. caapi e do grupo Malifolia. O primeiro passo desse trabalho foi um estudo nomenclatural com a proposição de lectótipos e um neótipo de nomes relacionados ao clado de B. caapi. Para a constituição desse capítulo foram revisados os protólogos para que os lectótipos e neótipo estivessem de acordo com o conceito dos autores de cada nome. Foram propostas quatro lectotipificações e uma neotipificação. O segundo passo, que constitui o capítulo 2, foi uma análise morfométrica do grupo constituído por B. malifolia, que é formado por seis espécies e uma variedade de difícil circunscrição. Foram coletados 22 caracteres quantitativos e 15 qualitativos e mais informações sobre coletor, localidade e coordenadas geográficas de 176 espécimes. Foram testadas as delimitações de sete espécies e, na segunda hipótese, foi verificada a possibilidade dessas setes espécies serem reduzidas a dois táxons que representam os subgrupos B. malifolia e B. variabilis. Para testar a proposta de delimitação que consegue explicar melhor a variabilidade morfológica presente no dataset, foi usada uma análise PERMANOVA na matriz de distância morfológica comparando independentemente a variação morfológica com a classificação por sete espécies e por dois grupos. Foram analisados os caracteres que melhor discriminam os táxons. Para os caracteres qualitativos foram empregados testes de independência usando a tabela de contingência do Qui-quadrado. Para os caracteres contínuos foram realizadas análises de Kruskal-Wallis com posterior discriminação entre os táxons através do teste pareado de Wilcoxon. Para testar se a variabilidade morfológica das espécies de ampla distribuição é maior que as das espécies de distribuição restrita e para testar se os grupos são mais coesos morfologicamente que as espécies foram realizadas uma análise ANOSIM. A ANOSIM foi conduzida comparando se a variabilidade encontrada na matriz de distância morfológica, era mais bem explicada pela proposta de delimitação com sete espécies ou com dois grupos. Para analisar se amostras próximas geograficamente são mais similares morfologicamente, foi criada uma matriz de distância geográfica para ser comparada com a matriz de distância morfológica. As duas matrizes foram então submetidas a uma análise de correlação da distância através do Teste de Mantel usando a função “mantel” implementada no pacote vegan v2.5. O grau de conservação das espécies foi analisado através do Geospatial Conservation Assessment Tool (GeoCAT) baseando-se nas diretrizes da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Foi construída uma chave de identificação e ilustrações. Os resultados revelaram que a hipótese de sete espécies é superior à duas espécies. Os resultados para a análise ANOSIM mostraram que as espécies que apresentam ampla distribuição possuem baixa variabilidade morfológica e as mais restritas não apresentam variabilidade morfológica baixa. O resultado do teste de Mantel não confirmou a terceira hipótese sobre os indivíduos mais próximos geograficamente, serem mais parecidos morfologicamente. Foi mostrado que o caractere pilosidade da folha e o comprimento do pecíolo são os mais discriminatórios dos subgrupos e espécies, respectivamente. Banisteriopsis latifolia, B. hatchsbachii e B. hirsuta estão ameaçadas. Na terceira e última etapa desse trabalho foi realizada uma análise filogenética das espécies relacionadas a B. caapi com o objetivo de incluir sequências de espécies que não haviam ainda sido incluídas na filogenia do gênero e esclarecer as relações evolutivas do clado. Foram sequenciadas 12 amostras com os primers matK e PHYC, não tendo amostras satisfatórias e limpas para as análises. O segundo sequenciamento foi realizado com 23 amostras com os primers trnL, trnK, PHYC e ITS. Apenas as amostras de ITS de B. caapi, B. oxyclada e B. membranifolia apresentaram sequências mais limpas e definindo os pares de bases. Análise de Máxima Verossimilhança, apresentou clados com baixo valor de bootstrap, Máxima parcimônia e Análise Bayesiana apresentaram valores de bootstrap e probabilidade posterior altos.

O Brasil é considerado um país megadiverso e possui grandes remanescentes de vegetação, que ainda cobrem cerca de 60% do país e abrigam uma considerável parte das espécies da Terra em uma variedade de ecossistemas. Um destes ecossistemas chave é o Cerrado, que possui uma flora rica e endêmica, mas encontra-se altamente ameaçado pela perda de habitats e degradação causados principalmente pela expansão da agricultura. Apesar da sua importância, diversas áreas do Cerrado permanecem pouco amostradas, particularmente aquelas situadas no Matopíba, uma fronteira agrícola localizada na porção norte do Cerrado. Para preencher as lacunas de biodiversidade nesta região, realizamos um levantamento florístico na Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins (EESGT), uma das maiores reservas do Cerrado.Com base em inventários de campo e buscas em bases de dados públicas de ocorrências de espécies (3623 registros), foram catalogadas 985 espécies vasculares para a EESGT, distribuídas em 136 famílias e 483 gêneros. Samambaias e Licófitas possuem 33 spp., pertencentes a 17 famílias e 27 gêneros. Já as angiospermas possuem 952 spp. distribuídas em 119 famílias botânicas e 456 gêneros. As famílias mais ricas foram: Fabaceae (114 spp.); Poaceae (58); Rubiaceae (50); Asteraceae (41); Cyperaceae, Melastomataceae e Myrtaceae (39); Malvaceae e Euphorbiaceae (27); Apocynaceae (26); Eriocaulaceae (23); Malpighiaceae (21) e Lamiaceae (20). A maioria das espécies (871) em nossa lista de não foram avaliadas quanto ao grau de ameaça pela autoridade nacional de plantas ameaçadas de extinção (CNCFlora). Das 113 espécies avaliadas, duas foram consideradas Criticamente Ameaçadas, nove Ameaçadas e sete Vulneráveis. Novas ocorrências de espécies foram registradas para os estados em que a EESGT está localizada (23 para BA e 222 para TO). Foram listadas também 16 espécies que são consideradas endêmicas para região do Matopiba. Portanto, o presente trabalho traz registros importantes de espécies relevantes para a conservação, os quais poderão subsidiar ações de manejo e conservção da biodiversidade brasileira.

Banisteriopsis C.B.Rob. ocorre desde o México até a América Tropical, possui 61 espécies descritas e pertence à família Malpighiaceae Malpighiaceae está amplamente ditribuída pelos Neotrópicos, engloba 77gêneros e mais de 1.300 espécies. Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) C.V. Morton se destaca na família pelo uso difundido como componente do chá Ayahuasca, Hoasca, Yagé, Vegetal, Santo Daime e outros tantos nomes. A ayahuasca foi originalmente usada por grupos indígenas do noroeste da Amazônia. Seringueiros fundaram as três principais religiões no Brasil que usam o chá em rituais religiosos: a União do Vegetal (UDV), o Santo Daime e a Barquinha. Muitos desdobramentos dessas religiões e usos diversos da Ayahuasca vem sendo praticados em todo o Brasil, de onde se expandiu para quase todos os continentes. Ressalta-se que o uso da Ayahuasca no Brasil é regularizado pelo Resolução Nº5 do CONAD, de 04 de novembro de 2004, onde está explicitamente citado que o chá é feito a partir da decocção do cipó B. caapi e da folha da Psychotria viridis Ruiz & Pav. Devido B. caapi ser amplamente cultivado pelas comunidades tradicionais que a usam, registrase a ocorrência de linhagens com morfologias e chás com características distintas, que são tratados como “etnotaxa”. Na ciência formal também houveram registros por parte de botânicos, que consideraram alguns etnotaxa como espécies. Um exemplo é B. inebrians C.V.Morton descrito com base em uma amostra do etnotaxa ‘yagé-del-monte”, na Colômbia. Esse nome é aceito como sinônimo de B. caapi na maioria das bases de dados, mas é considerada como boa espécie por alguns autores. Duas espécies de Tetrapterys também foram descritas com base em etnotaxa. Embora o reconhecimento de etnotaxa esteja fartamente descrito na literatura, o mesmo não ocorre no que tange à amostragem em herbários. Além de não muito farta, grande parte dos espécimes de herbário são de indivíduos estéreis. Banisteriopsis rusbyana (Diplopterys longialata (Nied.) W.R.Anderson & C.Davis) é um nome dado a um etnotaxa de Ayahuasca, descrito com base em um espécime estéril. Assim, Ayahuasca é um termo consensual aplicado a um chá de composição botânica distinta. Uma equipe da Universidade de Brasília fez um estudo, com documentação em herbário, dos etnotaxa reconhecidos pelos grupos urbanos que fazem uso da Ayahuasca. Diversos etnotaxa são reconhecidos por tais grupos, mas, como no cenário internacional, a menor parte dos vouchers de herbário são férteis. Intrigados com essa problemática da vinculação ou não dos etnotaxa à taxa formais, surgiram as perguntas que delinearam esta tese: 1. “Os etnotaxa reconhecidos pelas comunidades Ayahuasqueiras urbanas brasileiras são B. caapi ou pertencem a outra espécie já descrita? Os etnotaxa podem ser considerados como taxa, seguindo os parâmetros da ciência formal, ou seja, a circunscrição mais aceita de B. caapi é satisfatória? Banisteriopsis caapi poderia ser uma espécie domesticada e recente? Para reponder a estas questões foram desenvolvidos três capítulos, tentando usar as melhores ferramentas metodológicas. Foram feitas análises filogenéticas (Máxima Parcimônia, Máxima Verossimilhança e Inferência Bayesiana), onde foram sequenciadas as regiões plastidiais trnL-F, matK, psbA-trnH, trnK, rpL32-trnL, e ndhF, e o espaçador interno transcrito do rDNA nuclear – ITS dos etnotaxa, para verificar a relação hierárquica entre si e com B. caapi (Capítulo 1). Foi realizada análises biogeográficas, com reconstrução da área ancestral e tempo de divergência (Capítulo 2), como forma de verificar o tempo de divergência e a origem de B. caapi, assim como de todo o gênero Banisteriopsis. Por fim, foram realizadas análises morfométricas dos caracteres vegetativos disponíveis – incluindo caracteres da anatomia do caule disponibilizada por outro estudo – e das sequências de DNA geradas, como barcode. Análises de Componentes principais (PCA), Modelos Mistos Gaussianos (MMGs), análise Multivariada Permutacional de Variância (PERMANOVA), as análises BarcondingGap, Meier’s Best close match, NeighbourJoining (NJ) e Rosenberg’s probability of reciprocal monophyly foram utilizados para testar modelos, onde os etnotaxas seriam ou não considerados espécies (Capítulo 3). Em todas as análises filogenéticas, os etnotaxa posicionaram-se em uma grande politomia, sem diferenciação genética para separar os etnotaxa, bem como não se posicionaram próximos a outros clados de Banisteriopsis. O estudo biogegráfico mostrou que o gênero surgiu no Cerrado e foi disseminado para a Amazônia, e com pico de dipersão por volta dos 18 milhoes de anos. A datação mostrou que B. caapi surgiu a 3.2 milhões de anos, ou seja, sua origem é anterior à chegada do homem na América. Os seis grupos/ etnotaxa testados nas análises morfo-anatômicas foram confirmados, são eles: Arara, Ourinho, Pajezinho, Quebrador, Caupuri e Tucunacá. Considerando que as análises moleculares não mostram diferenças significativas nas sequencias de DNA, argumentamos que os etnotaxas analisados fazem parte da circunscrição de B. caapi. Assim, os etnotaxa analisados aqui, provenientes de cultivos de centros religiosos Ayahuasqueiros, não pertencem a outra espécie, em especial de Banisteriopsis. A atual circunscrição de B.caapi não abrange uma parte dos etnotaxa reconhecidos na etnocalissificação, aqueles com caule diferente do espécime tipo. O fato da diferenciação morfológica traz a inferência de que os etnotaxa podem estar domesticando, porém, a falta de diferença no genótipo significa que é necessário uma análise mais atenta para confirmar essa possível domesticação. Dessa forma, este trabalho incita novas pesquisas para entender melhor a etnoclassificação.

As Orchidaceae são reconhecidas por suas flores de singular beleza. Em razão disso, são amplamente usadas como plantas ornamentais, seja como flores de corte ou plantas de vasos. O processo de produção de mudas se inicia com a germinação assimbiótica de suas sementes, seguido de uma fase de multibrotação e do alongamento das plantas cultivadas in vitro, e posterior aclimatização. Cada uma dessas etapas requer o uso de meio de cultivo e reguladores de crescimento adequados a cada espécie. Assim, nosso trabalho teve como objetivo o desenvolvimento de protocolos para todas as fases do cultivo in vitro de duas espécies de Cyrtopodium nativas do Cerrado com potencial ornamental: C. parviflorum e C. withneri. Inicialmente foi medida a viabilidade das sementes por meio do teste do tetrazólio (TTC) em duas condições de pré-condicionamento por 24 h, embebição em água destilada ou em solução de sacarose a 10 %, e dois tipos de coloração com TTC a 1 %, diluído em água ou em tampão de fosfatos, e como controle foi feita a coloração direta em TTC a 1 % sem embebição. Após essa etapa foi realizada a germinação assimbiótica das sementes, onde foram testados três meios de cultivo Knudson C (KC) e Murashige & Skoog (MS), na concentração normal e com metade dos sais (½ MS), com e sem adição de carvão ativado (CA). Protocormos obtidos a partir da germinação assimbiótica foram cultivados em meio de cultivo sem adição de CA, em 10 combinações de ácido naftaleno acético (ANA) e 6-benzilaminopurina (BAP) a fim de verificar a melhor concentração para indução de multibrotação. Brotos oriundos da fase de multibrotação com 2-2,5 cm de altura foram alongados em dois sistemas: i. meio gelificado com e sem CA; ii. Biorreator de Imersão Temporária (BIT) com imersão por 3 minutos a cada 2, 4 ou 8 h, sem reguladores de crescimento, exceto para 8 h. Plantas então obtidas na fase de alongamento foram transferidas para casa de vegetação e cultivadas em substrato de vermiculita por 100 dias para que fossem aclimatizadas. Foram extraídas amostras de folhas de plantas ao final das fases de alongamento e aclimatização para quantificação dos teores de clorofilas e carotenoides. Amostras de folhas dessas fases também foram fixadas em FAA 50, e posteriormente foi realizada a dissociação das epidermes para contagem dos estômatos e determinação da densidade estomática. O teste de viabilidade por meio do TTC apresentou diferenças entre as espécies e entre os tratamentos utilizados, em especial quanto a embebição. O tratamento mais uniforme foi aquele com embeb ição em solução de sacarose a 10 % e coloração em TTC a 1 % diluído em água. A germinação ocorreu com elevado percentual nos três meios analisados, com efeito positivo da adição de CA. Entretanto, a germinação em meio KC não se mostrou viável, uma vez que ocorreu a morte de praticamente todos os protocormos desenvolvidos. Cyrtopodium parviflorum mostrou preferência para a germinação em MS, enquanto que para C. withneri a preferência se deu em ½ MS, ambos os meios adicionados de CA. A fase de multibrotação apresentou elevada sobrevivência das duas espécies em concentrações mais baixas de BAP, com redução expressiva em 2 e 4 mg/L (T7-T10). A produção de brotos também foi afetada pelo aumento na concentração de BAP, principalmente em C. parviflorum, que teve desenvolvimento de raízes inibido em qualquer concentração empregada (0,5-4,0 mg/L). Os demais parâmetros avaliados também indicaram o efeito deletério da citocinina usada. O emprego de ANA também não mostrou ser vantajoso, já que o cultivo sem adição de reg uladores de crescimento apresentou, de forma geral, os melhores resultados. A fase de alongamento apresentou diferenças contrastantes entre os dois sistemas. No sistema de BIT a mortalidade dos explantes foi quase que integral, enquanto que em meio gelificado houve sobrevivência superior a 90 %. Em meio gelificado os explantes se desenvolveram com sucesso, apresentando altura maior do que é descrito pela literatura. A aclimatização foi realizada apenas com plantas alongadas em meio gelificado com e sem CA. Cyrtopodium withneri apresentou 100 % de sobrevivência e C. parviflorum 94 %. As plantas desenvolveram completamente seus pseudobulbos, e algumas novas brotações. O substrato empregado, vermiculita, se mostrou adequado para esta etapa. Ao final dos 100 dias de aclimatização, houve diferença no tamanho das plantas, tendo C. withneri atingido o dobro da altura das plantas de C. parviflorum. Essa diferença de altura pode ser apenas a manifestação das características genéticas de cada espécie. Com isso, a aclimatização de C. parviflorum e C. withneri pode ser conduzida em casa de vegetação com 50 % de luminosidade e irrigação diária, e emprego de vermiculita como substrato. A quantificação das clorofilas e carotenoides mostrou aumento significativos desses pigmentos ao passar da fase de alongamento para o fim da aclimatização. Os teores desses pigmentos variaram durante as fases, sendo maiores para C. parviflorum ao final da aclimatização, e para C. withneri ao fim do alongamento. A densidade estomática praticamente não apresentou diferença entre as espécies e tratamentos, bem como quando comparada com plantas cultivadas em condição de campo. De forma geral, a densidade estomática das duas espécies foi elevada, sendo uma característica delas, pois na literatura há espécies com elevada densidade e outras com baixa densidade estomática. Ao final do trabalho pôde ser verificado que a produção in vitro de mudas de C. parviflorum e C. withneri pode ser realizada com sucesso com o emprego dos protocolos aqui avaliados, sendo recomendado a germinação, a multibrotação e alongamento em MS para C. parviflorum e em ½ MS para C. withneri, e aclimatização em vermiculita. O uso de reguladores de crescimento e o alongamento em BIT não são recomendados, em razão da baixa resposta das espécies a essas substâncias e ao sistema de alongamento.