O declínio global das espécies de abelhas é uma preocupação urgente devido às questões de segurança alimentar. As abelhas são os principais polinizadores para a maioria das culturas e são essenciais para a produção de aproximadamente 75% de todos os alimentos consumidos pelos humanos. A polinização entomófila contribui significativamente para a economia global, representando 9,5% do valor total da produção agrícola utilizada para consumo humano. Embora a soja seja considerada uma espécie autopolinizadora, este estudo destaca a importância da polinização entomófila, especialmente por abelhas, para otimizar a produção de grãos de soja.O plantio em massa de soja atrai uma comunidade significativa de abelhas nas áreas circundantes, sugerindo um forte efeito de transbordamento que impacta a composição e abundância de abelhas em ecossistemas naturais. A expansão da área de cultivo, especialmente na região de MATOPIBA, destaca a importância de entender as dinâmicas entre abelhas, agricultura e produção de soja. Este estudo quantificou sistematicamente o efeito de transbordamento de abelhas em diferentes distâncias de plantações de soja e áreas naturais de cerrado, revelando diferenças na riqueza e abundância entre essas áreas. A pesquisa, conduzida no Oeste da Bahia, revelou que a abundância e riqueza de abelhas são significativamente maiores em áreas de plantio de soja em comparação com o cerrado circundante. Apis mellifera e outras espécies de abelhas selvagens representam mais de 50% das abelhas em plantações de soja, destacando a importância desses polinizadores. A análise detalhada das diferenças na composição e abundância de abelhas entre áreas naturais e plantações de soja contribui para uma compreensão mais profunda das interações entre polinizadores e produção agrícola. Em conclusão, este estudo oferece insights valiosos sobre a dinâmica de polinização em plantações de soja, enfatizando o papel crucial das áreas naturais circundantes. A preservação dessas áreas, como as reservas legais, desempenha um papel fundamental na manutenção dos polinizadores e na promoção da produtividade da soja. As descobertas deste estudo têm implicações importantes para o manejo da polinização de soja e o planejamento de paisagens agrícolas sustentáveis. 

Com o objetivo de investir a variação morfológica e o atual status taxonômico do clado composto por Trachycephalus nigromaculatus, T. atlas e T. mambaiensis, empregamos no primeiro capítulo análises das medidas morfométricas tradicionais e do crânio por meio da morfometria geométrica e anatomia. Os resultados revelaram diferenças morfológicas significativas entre as espécies, evidenciadas por análises discriminantes lineares e ANOVAs; também identificamos dimorfismo sexual em T. atlas, T. nigromaculatus e T. mambaiensis. As análises de componentes principais (PCA) da morfologia geométrica revelou variações significativas na forma craniana entre as espécies, destacando diferenças na largura do crânio, comprimento da pré-maxila e posição do esquamosal. Observamos diferenças nos níveis de co-ossificação em indivíduos da mesma espécie e diferenças anatômicas distintas entre as espécies, incluindo variações na forma e articulação de elementos cranianos como o frontoparietal, esquamosal, nasal e pterigoide. Esses achados contribuem para uma melhor compreensão da diversidade morfológica e taxonomia dentro do gênero Trachycephalus. No segundo capítulo, investigamos a relação entre a tamanho do corpo e a idade dos espécimes através método de ostecronologia, e analisamos a atividade anual das três espécies. A estimativa de idade através da contagem de anéis de crescimento (LAGs) revelou disparidades na idade estimada, maturidade sexual e curvas de crescimento entre as espécies. Machos de T. nigromaculatus e T. atlas atingiram maturidade sexual com duas LAGs, enquanto machos de T. mambaiensis com uma LAG. Observaram-se correlações significativas entre comprimento rostro-cloacal (SVL) e idade para T. nigromaculatus e T. atlas, mas não para T. mambaiensis. T. atlas exibiu crescimento mais lento em comparação com T. nigromaculatus. Espécimes de T. nigromaculatus foram coletados durante todo o ano (exceto em abril, julho e agosto); T. atlas e T. mambaiensis foram predominantemente encontrados durante a estação chuvosa. Esses achados sugerem padrões de crescimento distintos e comportamento sazonal entre as espécies, além disso facilita investigações sobre processos evolutivo-ecológicos e história natural de Trachycephalus e outras espécies reprodutoras explosivas, utilizando espécimes preservados em museus.

Os morcegos são um dos grupos mais diversos de mamíferos, tanto em número de espécies quanto em diversidade de hábitos e formas. Dentre as diferentes especializações, morcegos apresentam um modo característico de comunicação: a ecolocalização. Sabe-se que os chamados de ecolocalização são espécie-específicos e podem variar de acordo com modo de forrageamento e hábitat. Alguns estudos inclusive sugerem para uma relação entre os tipos de chamado e a forma da cóclea. A cóclea é uma das diversas estruturas que compõem o ouvido, que é responsável por receber as ondas sonoras do ambiente e transformá-las para que possam ser processadas pelo sistema nervoso. Por isso, o aparato auditivo completo é essencial para animais como os morcegos que utilizam a audição como sentido principal para busca de alimentos e localização no espaço. Mesmo com tamanha importância, a variação da forma do aparato auditivo em diferentes espécies ainda não foi descrita por completo, e ainda existem lacunas se essa estrutura seria ou não conservada filogeneticamente. Sendo assim, esse trabalho tem os objetivos de avaliar e descrever a variação da forma do ouvido de morcegos e testar os possíveis fatores que auxiliem a promover a diversificação morfológica dessa estrutura: ecolocalização, habitat, histórico filogenético e integração com estruturas complexas como o crânio. Para tanto foram analisados a forma do ouvido e do crânio de 17 espécimes de oito espécies de morcegos insetívoros com ocorrência registrada no Brasil por meio de morfometria geométrica 3D. Uma ANOVA filogenética foi usada para testar a associação ente a forma do ouvido e do crânio com os parâmetros de sinais de ecolocalização (estrutura, duração e frequência de máxima energia) e com o habitat. A análise de sinal filogenético K de Blomberg revelou forte sinal filogenético na forma do crânio mas não do ouvido. Tanto a forma do crânio quanto a forma do ouvido mostraram correlação com a estrutura do chamado e a duração média do pulso. Finalmente, o teste de modularidade indicou integração entre essas estruturas.

Os anfíbios anuros são um dos grupos de vertebrados mais diversos do mundo e consequentemente são realizados vários estudos dentro dele, como por exemplo, os muitos aspectos de suas ecologias, anatomia e a história evolutiva do grupo. Por serem animais que possuem um ciclo de vida complexo, onde para atingir a fase adulta, há estágios anteriores que no caso dos anuros, é a fase denominada de girino, onde dentro da ontogenia destes organismos, as variações observadas são bastante expressivas, visto que eles partem de uma forma corporal globular, restritos à água (em sua grande maioria), sem a presença de vertebras e com caudas, para uma forma do adulto sendo adaptada para ambientes terrestres ou semi-aquáticos, com respiração majoritariamente pulmonar, membros desenvolvidos para salto ou caminhadas e outras modificações. Portanto, a fase dos girinos possui uma série de adaptações que podem ser avaliadas, como o uso dos microhabitats, variações morfológicas, adaptações fisiológicas e também as relações filogenéticas. Dito isso, o intuito deste trabalho foi identificar se há uma relação entre a forma corporal dos girinos e os grupos ecomorfológicos em um aspecto evolutivo. O estudo foi conduzido na região do Quadrilátero Ferrífero, localizado em Minas Gerais, Brasil, local este com uma heterogeneidade de ambientes, com a presença de espécies endêmicas e considerada como um hotspot para a conservação. Foram analisadas por meio de análises de morfometria geométrica fotografias de 168 indivíduos de 48 espécies de girinos de 10 famílias diferentes, onde dentro desses táxons, foram identificados quatro grupos ecomorfológicos (bentônicos, nectônicos, fossoriais e neustônicos). Os resultados mostraram que a forma corporal dos girinos possui um forte sinal filogenético, ou seja, está relacionada à proximidade evolutiva das espécies. Além disso, os grupos ecomorfológicos dos girinos também influenciaram a variação da forma corporal. Os girinos nectônicos apresentaram maior variação na forma, enquanto os bentônicos e os fossoriais agruparamse de forma mais homogênea. A análise da variação da forma também indicou diferenças na cauda e na cabeça dos girinos. Espécies com caudas mais robustas e cabeças achatadas foram associadas a uma melhor capacidade de movimentação na coluna d'água e uma melhor capacidade de fixação ao substrato, respectivamente. A alometria, que analisou a relação entre o tamanho e a forma corporal, não demonstrou uma influência significativa na variação da forma dos girinos. No entanto, os grupos ecomorfológicos foram significantes na explicação das diferenças de tamanho das espécies. Em suma, o estudo concluiu que a morfologia corporal dos girinos de anuros está relacionada à filogenia das espécies e aos fatores ecológicos, como o uso de habitats. A região do Quadrilátero Ferrífero apresenta uma grande diversidade de espécies de girinos, com formas corporais variadas que refletem a adaptação desses animais a heterogeneidade observada no local.

: A ecolocalização é a capacidade de percepção do ambiente por meio do som, através do eco refletido pelos objetos. O crânio dos morcegos deve atuar como uma câmara de ressonância para uma emissão apropriada do chamado de ecolocalização. Este trabalho visou analisar a correlação entre a morfologia do crânio e o chamado de ecolocalização de filostomídeos frugívoros, com o uso de morfometria geométrica para a coleta dos dados morfológicos e análises comparativas filogenéticas. Esperase que haja correlação da morfologia com os parâmetros espectrais e temporais do chamado, especialmente a frequência e que os crânios se diferenciem pelo tipo de emissão. Nossos resultados indicam que os filostomídeos frugívoros seguem a hipótese alométrica, de que a frequência se correlaciona de forma negativa com o tamanho do crânio, e que espécies que emitem frequências mais altas terão um rostro e maxila mais encurtados. Além disso, os emissores nasais apresentaram crânios maiores e um rostro mais alargado em comparação aos emissores orais, que por sua vez apresentaram um palato mais longo e a região nasal menos desenvolvida. O fato de não encontramos correlação entre a morfologia do crânio e os parâmetros de ecolocalização (exceto para a frequência máxima e largura de banda), sugere que, de modo geral, eles podem ser muito mais plásticos do que determinados por limitações físicas das estruturas morfológicas cranianas e corrobora com a hipótese de que a dieta influenciou mais a morfologia do crânio do que as pressões seletivas associadas à ecolocalização nesse grupo. Por outro lado, o tamanho do crânio e o tamanho do rostro podem ter criado limitações na direcionalidade do chamado, visto que ela diminui com o tamanho da fonte emissora. Assim, é possível que algumas espécies de morcegos frugívoros utilizem a emissão oral como forma de compensar a limitação na direcionalidade do chamado associadas a morfologia do crânio.

Os triatomíneos são insetos hemípteros (Reduviidae), transmissores de Trypanosoma cruzi, agente etiológico da doença de Chagas. A identificação automática de triatomíneos pode fortalecer a vigilância e o controle da transmissão vetorial da doença de Chagas. Essa tese apresenta três capítulos com inovações para identificação automática de triatomíneos. No primeiro capítulo, avaliamos o desempenho de cinco algoritmos de aprendizado de máquina para identificação de três gêneros de triatomíneos com base em imagens em diferentes ângulos ou posições obtidas com uma câmera de celular. Analisamos imagens de 730 insetos (13 espécies) fotografados em nove ângulos representando três posições. Dividimos o banco de dados de 6570 imagens em conjuntos de treinamento (80%) e de teste (20%) e, em seguida, treinamos e testamos uma rede neural convolucional prétreinada (AlexNet, AN), três classificadores (AdaBoost, AB; Gradient Boosting, GB; Histogram-based Gradient Boosting, HB) e um modelo discriminante linear (LD). Avaliamos a acurácia e a especificidade da identificação com modelos generalizados lineares mistos. Os resultados mostraram que as diferenças de desempenho entre os algoritmos foram impulsionadas pela acurácia e especificidade essencialmente perfeitas da AN, independentemente do ângulo ou posição. As acurácias previstas de HB variaram de ~0,987 (Panstrongylus) a >0,999 (Triatoma). A acurácia do AB foi ruim para Rhodnius (~0,224-0,282) e Panstrongylus (~0,664-0,729), mas razoável para Triatoma (~0,988-0,991). Para Panstrongylus, LD e GB previram acurácias na faixa de ~0,970-0,984. AB classificou erroneamente ~57% de Rhodnius e Panstrongylus como Triatoma, enquanto as estimativas de especificidade variaram de ~0,92 a ~1,0 para as demais combinações de gênero-algoritmo. No segundo capítulo, avaliamos o 2 desempenho da rede AN na identificação de espécies de triatomíneos a partir de imagens dorsais de alta resolução e obtidas de celulares comuns. Analisamos fotos dorsais de 6397 triatomíneos pertencentes a 65 espécies de 7 gêneros, a partir de um conjunto de dados de treinamento (70%) e teste (20%). Os 10% restantes foram utilizados para a validação interna do algoritmo durante o treinamento, realizado no MATLAB. Realizamos dois experimentos, um com todas as espécies e outro com as espécies com registro em casas e infecção natural por T. cruzi. Os resultados mostraram que AN apresentou uma acurácia de ~0,93 (IC95%, 0,913-0,941) para identificar 65 espécies de triatomíneos. A acurácia específica alcançou valor máximo para 21 espécies, principalmente as espécies dos gêneros Rhodnius e Panstrongylus. O desempenho foi melhorado (~0,97, IC95%: 0,930-0,958) quando foram consideradas apenas as espécies com maior capacidade vetorial. No terceiro capítulo, avaliamos o desempenho da AN na identificação de imagens de ninfas de triatomíneos até o nível de gênero. A abordagem metodológica foi similar ao capítulo 2, porém foram realizados 3 experimentos. No primeiro, treinamos a rede AN para diferenciar ninfas de triatomíneos e espécimes não-triatomíneos (adultos e ninfas de percevejos heterópteros). No segundo, a tarefa foi diferenciar ninfas de triatomíneos de ninfas de heterópteros não-triatomíneos. No terceiro, a tarefa foi diferenciar ninfas dos três gêneros de triatomíneos mais relevantes em saúde pública, Panstrongylus, Rhodnius e Triatoma. Os resultados mostraram que a acurácia média para identificação de ninfas de triatomíneos x outros heterópteros (ninfas e/ou adultos) variou de 0,97 a 1,00. Os valores de acurácia também foram altos para identificação de ninfas dos gêneros Triatoma (~0,99, IC95%: 0,947-0,998) e Rhodnius (~1,00, IC95%: 0,816-1,000), sendo menores para Panstrongylus (~0,58, IC95%:0,360- 0,784). As seguintes conclusões derivam dessa tese: 1) quando algoritmos de aprendizado de máquina como AN são usados, os ângulos ou posições em que os insetos são fotografados não são relevantes para identificar corretamente imagens de celulares de triatomíneos em nível de gênero, com acurácia e especificidade essencialmente perfeitas. 2) A rede AN apresentou ótimo desempenho para identificação automática de espécies de triatomíneos baseada em um conjunto amplo de imagens dorsais de adultos. 3) AN apresentou ótimo desempenho para identificar ninfas de triatomíneos, diferenciando de ninfas e adultos de heterópteros em geral, ninfas de triatomíneos e não triatomíneos e ninfas de Rhodnius e Triatoma. Finalmente, a tese fornece a base para o desenvolvimento de um sistema 3 automatizado de identificação dos vetores da doença de Chagas com participação comunitária em larga escala, o que poderá contribuir para a ciência cidadã.

Os girinos apresentam diversas adaptações para a vida aquática, tais como respiração braquial, cauda natatória e intestino longo para a digestão de organismos com celulose em sua composição. Anuros adultos vêm sendo regularmente utilizados como indicadores de qualidade ambiental, porém poucos estudos têm sido desenvolvidos utilizando suas larvas, que possuem sensibilidade maior aos distúrbios por conta do modo de vida exclusivamente aquático. O primeiro capítulo teve como objetivo identificar se existe relação entre variáveis morfométricas e a seleção de itens de origem animal e vegetal dos indivíduos de girinos de sete espécies de anuros do Cerrado (Boana albopunctata, Elachistocleis cesarii, Leptodactylus mystacinus, Leptodactylus sertanejo, Proceratophrys salvatori, Pithecopus oreades e Scinax fuscovarius). Após a captura os girinos foram imediatamente anestesiados e fixados em solução de formalina 10%. Os espécimes foram medidos com o auxílio de Lupa eletrônica e paquímetro digital. A contabilização dos itens vegetais e animais foi feita com a identificação dos itens classificados até a menor categoria taxonômica possível com a visualização de lâminas. A proporção de itens dos tipos de dieta foi analisada com o teste de Wilconxon. A relação entre variáveis morfométricas e a dieta foi analisada com a seleção de modelos de regressão generalizada (GLM). Cinco espécies apresentaram resultados significativos quanto a preferência entre as dietas do tipo carnívora e herbívora. A maioria das espécies apresenta maior proporção de itens vegetais com exceção de Proceratophrys salvatori. O estágio larval teve um importante papel para descrever a dieta carnívora e herbívora em todas as espécies, seguindo a hipótese de que com o decorrer da diminuição do comprimento do intestino, a proporção dos itens de proteína animal de rápida absorção passa a aumentar. O segundo capítulo procurou descrever a dieta de girinos de uma população de Pithecopus oreades e de Proceratophrys salvatori e comparar sua sobreposição no uso de recursos alimentares. A coleta foi realizada na Fazenda Água Limpa - DF em novembro de 2021. Em laboratório, os girinos foram medidos e abertos com uma incisão entre a cloaca e a base da cabeça, lâminas foram produzidas com o conteúdo intestinal e os itens identificados com o auxílio de microscópio 40x. Determinei a frequência relativa, abundância relativa, Índice de Importância Relativa e Índice de Jacob. Elaborei modelos de GLM com a combinação entre abundância e riqueza de itens e as variáveis morfométricas e com a combinação entre estágio larval, comprimento total e os itens alimentares encontrados nos intestinos. A sobreposição de Nicho foi avaliada usando dados de conteúdo intestinal com o índice de Pianka. Thecamoebina foi o item mais abundante nos intestinos de Pithecopus oreades seguido de Chlorophyceae. Thecamoebina também foi o item mais abundante para Proceratophrys salvatori, seguido de Cyanophyta. O índice de eletividade mostrou que Pithecopus oreades ingeriu Zygnematophyceae em proporção inferior à oferta do ambiente, enquanto Dinophyceae foi ingerido em proporção superior à observada no ambiente e Proceratophrys salvatori, Chlorophyceae foi ingerido com frequência bem inferior à observada no ambiente, enquanto Chrysophyceae foi ingerido em proporção bem superior à sua oferta no ambiente. Em P. oreades as medidas de cabeça e altura da cauda descreveram a riqueza de itens enquanto medidas de cabeça e tamanho explicaram bem a abundância. O tamanho e estágio larval tiveram relação com os itens Chlorophyceae, Bacillarophyceae, Tecamoebina, Dinophyceae e ovos de Artrópodes. Em P. salvatori altura da cauda e tamanho também descreveram a riqueza enquanto o tamanho da cabeça e estágio larval descreveram a abundância de itens consumidos, já indivíduos com estágio larval e o tamanho próximos ingeriram os itens Chlorophyceae, Bacillarophyceae, Zygnematophyceae e Crustáceo de forma parecida. Os itens mais abundantes nos intestinos também encontrados nas amostras de substrato indicam que a riqueza é parecida com a do ambiente, porém, existe uma seletividade quanto a abundância dos itens. Ocorreu maior sobreposição que o esperado nas duas espécies e entre as duas mostrando que como previsto os indivíduos da mesma espécie e no mesmo ambiente vão ter dietas muito parecidas. Já espécies de comportamento distintos tendem a diferir na dieta, porém a disponibilidade de recursos é influenciada por movimentação do substrato para a coluna d’água fazendo com que em certas circunstâncias a composição do conteúdo alimentar se sobreponha. Larvas de anuros são responsáveis por funções e aspectos importantes no equilíbrio do hábitat e assim, a perda dessas espécies, muito sensíveis a modificações ambientais, é de grande prejuízo.

A biodiversidade é a variabilidade ou complexidade da organização biológica em diferentes escalas, abrangendo desde a diversidade genética à diversidade de ecossistemas, considerando a composição, estrutura e função de cada componente de complexidade. Entender como a biodiversidade se organiza é o primeiro passo para compreender os processos naturais, sendo essenciais para estabelecer prioridades e metas para conservação. Através da diversidade taxonômica, filogenética e funcional podemos comparar a composição da biodiversidade de áreas ou comunidades (diversidade beta) quanto a suas semelhanças e diferenças. A análise dessas três dimensões da diversidade através da diversidade beta permite entender como a diversidade se distribui e se modifica ao longo do espaço. Devido à grande riqueza de espécies, a ordem Anura é um excelente grupo para estudos de diversidade. No entanto, ainda existem muitas lacunas no conhecimento do grupo, o que torna necessário compreender melhor a distribuição e composição das comunidades de anuros, bem como suas relações com o meio. Atualmente são conhecidas 256 espécies de anuros no Cerrado, as quais não estão distribuídas de forma homogênea no bioma. Muitas espécies apresentam distribuição e área de ocorrência influenciadas pela filogenia. Além do aspecto filogenético, características ecológicas também podem determinar a presença das espécies nos habitats disponíveis. Para anuros, características referentes à reprodução podem informar como as espécies ocupam e utilizam o meio. Características ecológicas, bem como relações filogenéticas, são importantes para entender como as espécies se distribuem no bioma. Apesar de o Cerrado ser um bioma predominantemente savânico, sua vegetação está distribuída em um mosaico de fitofisionomias de grande diversidade estrutural e vegetacional. Essas fitofisionomias podem ser agrupadas em três grandes categorias estruturais quanto ao tipo de vegetação. As formações campestres são caracterizadas pela presença única ou dominante de estrato herbáceo-graminoso. As formações savânicas apresentam, além do estrato graminoso conspícuo, vegetação lenhosa esparsa, na forma de arbustos, arvoretas e árvores, em maior ou menor grau de adensamento. As formações florestais são caracterizadas pela ausência de estrato graminoso, pouca luminosidade no solo e árvores de maior porte. Essa diversidade de habitats proporciona ao bioma elevada heterogeneidade de ambientes. A heterogeneidade ambiental tem sido vista como um dos principais fatores determinantes da diversidade, tanto alfa quanto beta, tanto em micro quanto em macro escalas. De forma geral, ambientes com mais recursos possibilitam a ocorrência de mais espécies, conferindo maior diversidade local. Nesse trabalho investigamos padrões de diversidade beta em comunidades de anuros, considerando os três tipos habitats estruturais do Cerrado (campos, savanas e florestas). Para isso, selecionamos oito unidades de conservação que serviram como base para o levantamento das comunidades. As comunidades das três formações vegetais foram analisadas quanto à diversidade taxonômica (espécies), filogenética (linhagens) e funcional (modo reprodutivo e uso de microhabitat). Descrevemos quais componentes da diversidade (diferença de riqueza ou substituição) são mais marcantes em cada caso. Por fim, analisamos a importância de cada uma das formações para a diversidade beta total.

O conhecimento preciso das diferentes espécies do mundo é fundamental para proteger a biodiversidade. Com o crescimento da pesquisa focada em habitats e ecossistemas, o conhecimento de espécies individuais, seus números e sua distribuição geográfica é uma parte importante das decisões de políticas de conservação. Como base para a sistemática, a revisão taxonômica de animais e plantas fornece dados importantes sobre espécies, geralmente desconhecidos. Além disso, espécies em coleções de museus e suas etiquetas podem conter dados para outros usos que ainda não foram explorados. A taxonomia é uma disciplina que integra componentes importantes da pesquisa em biodiversidade, proporcionando estabilidade para as demais áreas da ciência. Neste trabalho, buscamos ampliar e atualizar o conhecimento taxonômico de abelhas através da revisão das espécies de abelhas solitárias do gênero Xanthopedia com imagens de alta resolução, mapas de distribuição geográfica e diagnoses. Como resultado, descrevemos 8 novas espécies do gênero Xanthopedia a partir de material obtido em coletas, fotos dos tipos, visitas a coleções e empréstimos de espécimes por museus de diferentes instituições. Mais de 200 espécimes foram estudados quanto a sua morfologia e dados de distribuição geográfica. Os respectivos registros florais e dados de distribuições geográficas foram obtidos a partir das etiquetas dos espécimes. A partir deste estudo comparativo foi possível produzir uma chave de identificação e diagnoses comparativas, e discutir potenciais perspectivas de endemismos para o Cerrado e demais áreas savânicas do Brasil.

O estudo da biodiversidade de Cladocera é de grande importância e, entender os padrões de diversidade e os fatores relacionados à estruturação das comunidades, pode contribuir significativamente para o conhecimento desses animais, principalmente em locais ainda pouco estudados, como é o caso dos cerrados rupestres. Para isso, diversos índices são utilizados, como por exemplo, as diversidades alfa, beta e gama. O objetivo desse estudo foi avaliar a riqueza e composição de espécies de cladóceros em corpos d’água presentes em cerrados rupestres, além de testar diferentes variáveis, locais e espaciais, que podem influenciar na variabilidade da composição dessas comunidades. A amostragem de Cladocera, as variáveis limnológicas e os dados de distância geográfica e altitude foram coletados em nove áreas de cerrado rupestre entre os anos de 2011 e 2012. Foram identificadas 47 espécies de cladóceros, com destaque para a família Chydoridae (32 espécies). Além disso, registramos quatro novas ocorrências: Bryospilus repens para o estado do Goiás, Leberis davidi para o estado de Minas Gerais e as espécies Alona yara e Flavalona asymmetrica, para o estado da Bahia. Os resultados também mostram que a variabilidade na composição das comunidades foi explicada principalmente pela substituição de espécies (turnover), com os maiores valores de diversidade beta observados entre o Parque Nacional Chapada Guimarães e Parque Nacional Chapada dos Veadeiros, sendo que, as variáveis alcalinidade e oxigênio dissolvido, melhor contribuíram para esse resultado. Deste modo, esse estudo pode servir como base para outros trabalhos relacionados a levantamentos de fauna assim como para discutir os fatores que estão envolvidos na estruturação das comunidades de cladóceros em cerrados rupestres.

A subordem Serpentes ocupa o planeta Terra desde a Era Mesozóica. Este grupo é composto por animais ápodes, de corpo longilíneo e crânio altamente cinético, distribuídos em virtualmente todo o planeta, com exceção das zonas mais frias. A tribo Hydropsini é composta por três gêneros sul-americanos de serpentes aquáticas, Pseudoeryx Fitzinger 1826, Hydrops Wagler 1830 e Helicops Wagler 1828, sendo o último deles objeto de estudo da presente tese. O gênero Helicops é composto por 21 espécies descritas até o momento. No entanto, a taxonomia de algumas delas é ainda frágil, sem que sua morfologia tenha sido investigada profundamente. A presente tese tem como objetivo estudar a variação morfológica de três espécies de Helicops distribuídas no norte da América do Sul que apresentam padrão de manchas dorsais circulares. O capítulo I teve como foco estudar as populações de Helicops danieli, uma espécie endêmica da região transandina da Colômbia. Para isso, examinamos 124 espécimes, de ambos os sexos e diferentes faixas etárias, provenientes de toda a sua distribuição. Com abordagem multidisciplinar, identificamos 22 caracteres diagnósticos da espécie, e diferenças na taxa de crescimento da cauda (maior em jovens), fêmeas maiores e machos com cauda mais longa, bem como altos níveis de impacto antrópico na área de sua distribuição. O segundo capítulo teve como foco a taxonomia e variação morfológica e geográfica de Helicops hagmanni, uma espécie amazônica. Analisamos 112 espécimes e obtivemos caracteres de morfologia interna (hemipenis e osteologia craniana), e externa (folidose e biometria) para identificação de putativa variação geográfica. Helicops hagmanni é a espécie do gênero com maior polimorfismo no número de fileiras de escamas dorsais (entre 23 e 29) e possui variação clinal em sua distribuição. Populações do oeste amazônico apresentam menor número de escamas dorsais, ventrais e manchas ao longo do corpo. O terceiro capítulo é a descrição da espécie Helicops acangussu, uma serpente amazônica com padrão de manchas dorsais circulares. Embora simpátrica com as outras espécies de padrão dorsal semelhante, H. acangussu é a única do gênero com a combinação de 19 fileiras de escamas dorsais, um par de escamas intergeniais e manchas circulares no dorso. O quarto e último capítulo amplia a variação morfológica conhecida e distribuição de H. acangussu, a partir da adição de novos 33 exemplares encontrados em coleções sul-americanas. Com esse material, descrevemos a osteologia craniana e revisamos a variação nos caracteres de folidose, biometria e hemipênis. Também apresentamos uma chave de identificação das espécies amazônicas de Helicops. Essa tese é uma contribuição direta para o entendimento da taxonomia, dos padrões morfológicos e da variação geográfica desse interessante grupo de serpentes neotropicais.