Esta pesquisa tem o objetivo de identificar red flags em eventos em que o Risco de Auditoria se materializou no cenário brasileiro entre os anos de 2000 e 2022. A materialização do risco foi observada através das penalidades aplicadas pela CVM contra auditores independentes pela execução de auditoria com falhas relatadas nos Processos Administrativos Sancionadores e Termos de Compromisso Celebrados julgados e assinados. Por meio do modelo de regressão linear proposto e das 350 observações, foi possível analisar as relações entre os eventos de concretização do risco e as red flags, representadas pelas características financeiras, estruturais e de ambiente da empresa auditada e características do auditor. Os achados evidenciam que as sanções são relacionadas: (i) positivamente e estatisticamente relevante com a ausência de estrutura de Governança Corporativa e Comitê de Auditoria ou Fiscal no cliente de auditoria, variação fora do esperado para o tamanho da empresa auditada, entidade auditada em segmento de mercado arriscado, descasamento de receita operacional e fluxo de caixa operacional do cliente de auditoria, acusados reincidentes e tempo de julgamento do processo e (ii) negativamente e estatisticamente relevante com problemas de continuidade operacional na empresa auditada, dúvidas sobre a reputações dos gestores auditados, auditoria realizada por Big Four ou Pessoa Física e o tempo de abertura do processo. Ademais, os testes de robustez evidenciaram que os eventos de concretização do risco de auditoria apresentam mais de uma red flag por situação e corroboraram os achados e a escala de gravidade de penalidade proposta na regressão principal do estudo. Portanto, o estudo contribui para a melhoria da qualidade das auditorias, acompanhamento dos reguladores e para o desenvolvimento da literatura conjunta de red flags, penalidades contra auditores e risco de auditoria. 

Considerando a importância crucial do agronegócio para a economia brasileira, o gerenciamento de riscos corporativos emerge como uma necessidade cada vez mais evidente, dada a presença de cenários incertos que permeiam todas as organizações. Os riscos de mercado, financeiros, legais e políticos representam exemplos das exposições que os administradores enfrentam, seja de maneira sistemática ou ad hoc. O estudo coletou informações junto à Fazenda Maringá para a identificação e avaliação dos riscos aos quais ela está sujeita. Como resultado desse levantamento, identificou-se um total de 18 riscos corporativos que possuem o potencial de influenciar diretamente seus objetivos estratégicos e o valor da Fazenda. Dentre esses riscos, observou-se que 12 deles apresentam um nível de risco médio para a Fazenda Maringá, enquanto os restantes 6 foram classificados como de baixo risco. Importante destacar que, durante a avaliação de riscos, não foram identificados riscos classificados como elevados, considerando o apetite ao risco da Fazenda Maringá.Este trabalho contribui significativamente para preencher a lacuna existente na literatura em relação à escassez de estudos abordando os riscos corporativos no contexto do agronegócio brasileiro. Além disso, a revisão detalhada da literatura e as adaptações realizadas em relação aos estudos já existentes contribuem para viabilizar a replicação desta pesquisa. Dessa forma, ela oferece uma base sólida para a aplicação objetiva desses conceitos, consolidando, neste trabalho todos os elementos necessários para a elaboração de uma Matriz de Riscos Corporativos adaptável e aplicável ao contexto do agronegócio brasileiro. 

O objetivo principal dessa pesquisa é compreender como os fatores econômicos, sociais, intangíveis e políticos revelam o valor público educacional, explorando sua relação com as políticas de austeridade fiscal e os impactos resultantes no bem-estar social da sociedade brasileira. Mark Moore (1995) introduziu o paradigma do valor público, a partir de um arcabouço teórico que buscava convergências do setor privado na gestão pública. Moore argumentava que a construção do valor público vai além das retóricas, conferindo sentido aos esforços dos gestores públicos para encontrar soluções criativas e adequadas. Desde então, o conceito de valor público tem sido abordado por diversos teóricos, destacando a sua complexidade e evolução. No entanto, a mensuração do valor público, especialmente na educação, enfrenta desafios devido à sua complexidade, exigindo abordagens multifacetadas e consideração de indicadores de diferentes dimensões. Nesse sentido, a contabilidade tem emergido como uma ciência com base sólida para fundamentar a mensuração do valor público. A Administração Pública tem assumido novas abordagens, como o Novo Serviço Público (NPS) e a gestão do valor público, com o intuito de aprimorar a governança pública e se ajustar às constantes transformações, focando a criação de valor em variados cenários. A pesquisa foi conduzida em duas partes distintas: na primeira, buscou-se explorar, por meio de uma análise de componentes confirmatórias e elaboração de um modelo de mensuração, os indicadores econômicos, sociais, intangíveis e políticos que refletem no valor público da educação, no período de 2015 a 2022, para os 27 estados brasileiros. Na segunda etapa, por meio de um modelo de equação estrutural de mínimos quadrados parciais (SEM-PLS), com o auxílio do software SMARTPLS, foi realizada a análise da relação entre as políticas de austeridade fiscal, o valor público educacional e o bem-estar social. Os resultados da pesquisa permitiram uma compreensão aprofundada dos indicadores que moldam o valor público na educação brasileira, bem como uma análise crítica dos impactos das políticas de austeridade fiscal nesse contexto. Além disso, os resultados contribuíram para a discussão sobre como a promoção do valor público educacional está diretamente relacionada ao bem-estar social. A pesquisa visou preencher uma lacuna na compreensão da relação entre o valor público na educação, as políticas de austeridade fiscal e seus impactos no bem-estar social. A relevância desse estudo está intrinsecamente ligada à importância da educação como um serviço público fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade justa e equitativa. Além disso, a análise das políticas de austeridade fiscal e seu impacto no valor público educacional permite uma compreensão mais profunda dos desafios enfrentados pelos gestores públicos na busca por equilibrar as restrições orçamentárias com a necessidade de promover uma educação acessível e eficaz. Isso é particularmente relevante em cenários de mudanças, como os desafios ocorridos na pandemia de COVID-19, por exemplo. A conexão entre valor público educacional e bem-estar social adiciona uma dimensão prática à pesquisa, destacando a importância de uma educação de qualidade para o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida da sociedade como um todo. Compreender como as políticas educacionais podem impactar o bem-estar social permite uma análise mais completa das implicações socioeconômicas das decisões governamentais. Ademais, destaca-se o papel relevante da contabilidade ao oferecer uma visão abrangente dos fatores que influenciam a eficácia do sistema educacional, contribuindo para orientar gestores públicos na alocação eficiente de recursos e na promoção de uma educação de qualidade para todos os cidadãos. 

O International Accounting Standards Board (IASB) teve sua segunda Conceptual Framework aprovada no ano de 2010, ocasião em que a norma foi conduzida em comum acordo com o normatizador norte-americano Financial Accounting Standards Board (FASB). Diversos estudos retratam a influência norte-americana na definição dos padrões internacionais, alguns deles observam que o novo padrão aprovado pelo IASB – FASB, inseriu nos objetivos principais a figura dos usuários primários (primazia do investidor) como aqueles a quem os reportes financeiros deveriam ser dirigidos, excluindo usuários que tradicionalmente figuravam nestas estruturas conceituais. Diante disso, o objetivo da investigação foi compreender como as narrativas discursivas são mobilizadas em torno na hierarquização/marginalização da definição dos usuários da informação contábil nos objetivos da Conceptual Framework do IASB – FASB (2010). Utilizou-se a plataforma teórica e metodológica dos Estudos Críticos do Discurso (ECD) articuladas a Contabilidade Emancipatória para o alcance dos objetivos propostos. Além disso, foram utilizadas ferramentas tecnológicas como suporte para a mineração e análise de texto consoante à análise crítica discursiva. Por meio da análise dos resultados verificou-se que os posicionamentos dos participantes da consulta pública foram fragmentados em alas discursivas com tendências mais ou menos democráticas. Contudo, mesmo as alas menos democráticas, posicionaram-se com ressalvas em relação às incoerências e ambiguidades na argumentação sustentada pelo normatizador em prol da primazia do investidor. Encontra-se, ainda, evidências de que as posições de normatizadores, reguladores, auditores tendem a se alinhar, o que revela as influências das práticas sociais profissionais na definição das preferências sociais dos indivíduos. As estratégias mobilizadas para justificar as posições do normatizador para hierarquizar/marginalizar passam pelos processos de ativação dos atores sociais (investidores) e passivação (outros) usuários. Os efeitos socioambientais discursivos emergidos das análises discursivas são tangenciados por restrições/limitações imputadas aos atores sociais e as definições de políticas alinhados aos interesses sociais mais amplos, como: os cortes de agência; o controle de agendas; e às restrições sobre a compreensão da função pública da contabilidade. O contexto sociocultural e histórico-econômico exerceu influências sobre a configuração dos padrões, ocorrendo processos de destradicionalização e recontextualização dos pressupostos da matriz de pensamento da econômica liberal ressignificada na norma. Estas constatações se reverberam na erosão dos processos democráticos e possuem implicações para a questão da justiça social, às quais colaboram com a manutenção das condições que estruturam os regimes de desigualdade social e limitam a compreensão da função pública da contabilidade.

As fraudes nas demonstrações contábeis trazem enormes prejuízos para as organizações e para sociedade. A fragilidade nos controles internos é apontada como um dos principais fatores que

oportunizam esse tipo de fraude. Embora, nas última décadas, perceba-se uma maior preocupação com a estrutração de um ambiente de controle interno, observa-se o surgimento de diversos novos casos de fraudes. Esse cenário realça a necessidade de investigar outros fatores que podem ser associados à fraude. A literatura demonstra que os fatores éticos, sociais e culturais podem influenciar a decisão de perpetrar a fraude. Isto é, as competências e habilidades dos indivíduos são importantes atributos que podem induzir o comportamento do perpetrador. Além disso, essas competências e habilidades podem ser investigadas sob a ótica da personalidade, dado que é possível antecipar o comportamento do indivíduo em razão de seus traços de personalidade. A teoria do traço postula que o comportamento pode ser associado ao seu respectivo traço de personalidade, assim como pode ser influenciado pelo ambiente. Um dos modelos de estruturação da personalidade é o modelo dos 5 grandes fatores da personalidade (Big-Five). Esse modelo possui cinco dimensões básicas: Extroversão, Amabilidade, Consciência, Neuroticismo (Estabilidade Emocional) e Abertura à Experiência. Esses traços de personalidade podem indicar um perfil comportamental de maior risco de perpetrar fraudes nas demonstrações contábeis, especialmente sob a existência de fragilidades no controle interno. Diante disso, é importante avançar no sentido de compreender melhor o ato fraudulento, isto é, investigar os traços de personalidade (Big Five) em relação ao risco de fraude nas demonstrações contábeis, considerando distintos ambientes de controle interno. Para tanto, foi realizada uma pesquisa do tipo experimental (2x2), com a criação de cenários, visando capturar a intensidade da escolha de perpetração, considerando distintos ambientes de controle interno. Para a análise dos dados foram utilizadas a estatística descritiva, o teste de médias (test t) e a regressão logística ordinal. Os principais resultados da pesquisa sinalizam que ser do gênero masculino, possuir um maior nível de educação formal, ter formação em ciências contábeis, atuar ou ter atuado em médias e grandes empresas e ter mais experiência são fatores que contribuem para um menor risco de perpetração de fraudes nas demonstrações contábeis. Além disso, identificou-se que a fragilidade do ambiente de controle interno aumenta o risco de fraude nas demonstrações contábeis, entretanto, a variável que captura a percepção do ambiente de controle interno foi associada positivamente ao maior risco de fraude nas demonstrações contábeis. Há evidências de que o aumento da “Consciência” e da “Estabilidade Emocional” reduz as chances de risco de fraude, enquanto a “Amabilidade” as aumenta. Por fim, a maior “Extroversão” e “Abertura à Experiência” podem sinalizar um perfil de diretores financeiros de maior risco de maior risco de fraudes. Em relação às contribuições o estudo intentou contribuir com a literatura a respeito da prática da fraude, avançando em relação as pesquisas anteriores ao abordar de forma conjunta aspectos contábeis, traços de personalidade e diferentes ambientes de controle interno. O estudo trouxe mais elementos para cotejamento de resultados, especialmente acerca da formação em ciências contábeis e seus efeitos na diminuição das chances do risco de fraude nas demonstrações contábeis. No aspecto prático, o estudo evidenciou elementos para modelar um perfil mais apropriado para a função de diretor financeiro, considerando diferentes contextos de ambiente de controle interno.

As ocorrências de fraudes aumentaram muito nos últimos anos, em muitos países (PricewaterhouseCoopers, 2020). Isto, provavelmente, tem afetado negativamente a eficiência dos mercados de capitais, tornando-os em um ambiente de desconfiança, causando fugas de investimentos e hesitação na entrada de novos investidores. Segundo Hung et al. (2015), as fraudes corporativas não afetam somente os credores ou os acionistas das firmas fraudadoras, mas afetam também clientes, fornecedores, o mercado financeiro como um todo, o governo, ou seja, toda a economia. De acordo com Dyck et al. (2010), as fraudes financeiras nos relatórios contábeis são, geralmente, detectadas muito tempo depois, após as suspeições dos impactos do crime. Ocorre que a atuação post factum (detecção de fraude) não é eficiente para reduzir ou eliminar as ocorrências; nesse sentido, uma ação preventiva é relevante e necessária. Há vários métodos para prevenção de fraudes em relatórios financeiros, e esta pesquisa tem por objetivo analisar a reação do mercado às fraudes, sem e com o conhecimento deste. Para isso, o estudo comparou o comportamento dos preços das ações ao redor da data em que a fraude foi cometida e ao redor da data em que foi descoberta. Em segundo lugar, o estudo analisou a precisão da máquina de suporte vetorial (SVM) na previsão de fraudes em relatórios financeiros considerando índices financeiros e índices não financeiros. A pesquisa fez uso da metodologia de estudos de eventos para alcançar seu primeiro objetivo e da SVM para alcançar seu segundo objetivo. Retornos anormais positivos foram encontrados um dia depois e do quarto até o décimo dia depois da realização de fraudes em relatórios financeiros. Sem seu conhecimento, o mercado reage positivamente à realização de fraudes em relatórios financeiros, gerando ganhos anormais às entidades fraudadoras. Provavelmente, pelo tempo demorado até a suspeita de fraude ser julgada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o mercado ignora a decisão do órgão regulador ao reconhecer oficialmente a prática ou manobra suspeita como fraudulenta, por infringir uma lei. Na pesquisa, variáveis sensíveis para detecção de riscos de fraudes foram identificadas, e o modelo polinomial da SVM utilizado conseguiu prever riscos de fraudes em pelo menos 64% dos relatórios financeiros fraudulentos. Os achados contribuem para a academia no que diz respeito às consequências das fraudes em relatórios financeiros no mercado, incentivando, assim, outras pesquisas na área. O estudo contribui, também, aos trabalhos dos auditores e reguladores, recomendando o uso do modelo polinomial de SVM para prever fraudes em relatórios financeiros. 

O objetivo deste trabalho é analisar quais são os determinantes (antecedentes) do letramento financeiro nos estudantes de graduação da Universidade de Brasília. Para o alcance desse propósito, foi utilizado o método empírico-analítico com foco em três grupos de variáveis explicativas: (i) perfis e históricos dos respondentes, (ii) aprendizagem formal e não-formal e (iii) aprendizagem informal. Foram coletadas 400 respostas a partir da aplicação de um questionário eletrônico estruturado, composto por 34 questões. Os resultados dos testes empíricos, em relação ao grupo (i), revelaram que homens, alunos de engenharia e ciências sociais aplicadas, com rendimento familiar acima de 10 salários mínimos, casados e cujos pais tenham no mínimo formação no ensino superior tiveram nível de letramento superior aos demais. No que se refere ao grupo (ii), os alunos que tiveram aulas de contabilidade e finanças no ensino médio ou na faculdade, bem como os que preferem a internet e planejadores financeiros como fonte de conhecimento apresentaram níveis de letramento superiores. Ademais, alunos com maior preferência por mídias tradicionais apresentaram menores níveis de letramento que os demais. No tocante à análise do grupo (iii), não há relação estatisticamente relevante para corroborar com a hipótese levantada. Na segmentação por nível de proficiência dos estudantes: aqueles com nível avançado, 30,25% da amostra, apresentaram uma nota média cerca de 1 ponto superior ao nível intermediário, representado por 24,75% da amostra, e 3 pontos em relação ao nível básico, representado por 45% dos respondentes. Por fim, este trabalho contribui com a literatura ao preencher lacunas, apontadas por Goyal e Kumar (2020), de pesquisas sobre letramento financeiro em países não-ocidentais e/ou em desenvolvimento. Ademais, a proposta de se analisar o nível de letramento dos indivíduos sob a consideração das fontes de conhecimento e aprendizado – além de ir ao encontro da iniciativa da OCDE de reconhecer não apenas o aprendizado formal, mas o não-formal e o informal, também permite o avanço da discussão de novas perspectivas de análise do letramento financeiro.

A presente dissertação insere-se na linha de pesquisa Contabilidade e Mercado Financeiro do Programa de Pós-graduação em Ciências Contábeis da Universidade Brasília (UnB). Esta pesquisa foi desenvolvida acerca da classificação do risco de crédito das companhias aéreas pelas agências de rating: Estudo antes e após a implantação do IFRS 16. O problema a ser respondido neste estudo foi baseado na classificação do risco de crédito das companhias aéreas pelas agências de rating: Estudo antes e após a implantação do IFRS 16. O objetivo geral foi construído na análise de como era a classificação do risco de crédito das companhias aéreas pelas agências de rating: Estudo antes e após o IFRS 16. Para tanto, consideram-se quatro objetivos específicos concatenados com a temática da pesquisa: 1. Analisar como as agências de classificação de risco tratavam o leasing nos balanços das companhias aéreas; 2. Avaliar os critérios aplicáveis às operações de leasing: antes do IFRS 16 e após o IFRS 16; 3. Examinar se as agências de rating utilizam os arrendamentos operacionais divulgados ao avaliar o risco de crédito das empresas; 4. Investigar se as agências de classificação de risco atribuem o mesmo tratamento dos arrendamentos operacionais aos arrendamentos financeiros ao determinar ratings. Trata-se de uma pesquisa de abordagem quali-quanti que, em termos qualitativos, preocupa-se em aprofundar a compreensão de determinado fenômeno, priorizando aspectos da abordagem quantitativa, e a ferramenta estatística escolhida foi voltada para regressão logística. Este percurso metodológico buscou explicitar aspectos conceituais de como as agências de rating avaliavam o risco das companhias aéreas, antes e depois do IFRS 16, uma vez que o leasing operacional já era considerado um ativo financiado nos balanços das companhias aéreas, segundo o critério fatorial ou o método de capitalização construtiva pelas sociedades arrendatárias. A parte estatística contemplou o estudo trazendo 38 empresas aéreas, com dados contábeis anteriores e posteriores ao novo normativo de leasing, isto é, o IFRS 16 / CPC 06- R2. Como resultado, essa pesquisa trouxe evidências de que as agências de rating já consideravam o leasing operacional, valendo-se da métrica fatorial ou de múltiplos, na classificação do risco de crédito das companhias aéreas.

Esta pesquisa teve como objetivo geral analisar as características da produção científica concernente às International Public Sector Accounting Standards (IPSAS) em periódicos nacionais e internacionais, por meio de uma revisão sistemática da literatura, empregando uma abordagem crítica e bibliométrica, sob um recorte temporal que compreendeu os anos de 2003 a 2022. Em uma primeira etapa, as redes bibliométricas referentes a uma amostra de 226 artigos, coletada junto à base de dados Scopus, foram analisadas com base nos indicadores de coautoria, coocorrência, citação direta, cocitação e acoplamento bibliográfico, aferidos a partir do software VOSviewer. Dos resultados, evidenciou-se a distribuição das publicações entre os seguintes eixos temáticos: (i) antecedentes, implementação e resultados das IPSAS; (ii) European Public Sector Accounting Standards; (iii) regime de competência; (iv) Teoria Institucional; (v) mensuração e reconhecimento no setor público; (vi) panorama dos países; e, (vii) estudos brasileiros. Dos eixos temáticos delineados, selecionaram-se 93 artigos, os quais, após categorização em termos de orientação conceitual, método de pesquisa, país investigado e nível de governo, revelaram que: 37,63% das publicações analisadas não se valeram de fundamentação teórica, enquanto 27,95% e 17,20% se utilizaram do arcabouço da Teoria Institucional e da abordagem da New Public Management (NPM), respectivamente; grande parte das pesquisas empregou abordagem empírica e técnicas de análise documental em seus métodos; e, a maioria dos estudos investigou uma multiplicidade de países, da perspectiva do nível de governo central. Ademais, da leitura completa dos citados 93 artigos, observou-se a recorrência dos assuntos referentes às pressões isomórficas de natureza coercitiva exercidas pelos organismos multilaterais e a reincidência de trabalhos que evidenciaram os processos heterogêneos de implementação das IPSAS. Por fim, considerando as limitações inerentes à base de dados e dada a amplitude da temática investigada, sugere-se para pesquisas futuras: o comparativo entre amostras pertencentes a mais de uma base de dados e a análise, de forma individualizada, das redes bibliométricas relativas a cada um dos eixos temáticos identificados.

O objetivo da pesquisa consiste em avaliar a relevância dos novos subtotais da demonstração do resultado proposto pelo ED/2019/07 em comparação ao atual modelo previsto na Lei 6.404/76 para as empresas brasileiras. Adicionalmente, a pesquisa tem como objetivo específico comparar a relevância do novo resultado operacional com o atual resultado bruto, requeridos pela Lei 6.404/76, além de avaliar a relevância do Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization (EBITDA). O método escolhido para a coleta de dados foi o levantamento de dados econômico-financeiros, disponíveis na Economatica, de 206 empresas dos segmentos especiais da B3, que detinham as informações anuais necessárias para a realização do estudo no período de 2010 a 2021. Para análise dos dados utilizou-se de uma reformulação da atual demonstração de resultado, para avaliar a relevância contábil dos novos grupamentos dispostos no Exposure Draft. Para avaliação do value relevance, foi utilizado o modelo de Ohlson (1995), adaptado por Collins et al. (1997), que permite avaliar o poder explicativo do R² da regressão. Os resultados das análises sugerem que, mesmo com as alterações propostas, o atual modelo previsto na Lei 6.404/76 (R² = 0.719) possui maior poder informacional do que o novo modelo proposto pelo IASB (R² = 0.709). O mesmo acontece quando se analisa as variáveis atreladas às atividades operacionais, em que o Resultado Bruto (R² = 0.717) possui maior relevância, seguido do EBTIDA (R² = 0.707) e, por último, o Novo Resultado Operacional (R² = 0.705). O estudo traz evidências empíricas sobre os possíveis impactos da nova demonstração do resultado, com implicações práticas, e de como a alteração na forma de apresentação da demonstração de resultado pode impactar na qualidade da informação contábil. No âmbito social, por tratar-se de uma futura norma que, ao que tudo indica, pode ser implementada nos próximos anos. Ademais, a presente pesquisa contribui para o entendimento dos benefícios e impactos das alterações propostas, promovendo, assim, mais informações a profissionais contábeis, auditores e órgãos normativos.

As operações societárias têm sido cada vez mais frequentes nos últimos anos pelo mundo. No Brasil, as combinações de negócios têm atingido números recordes. As normas de relatório financeiro já prevêem a forma de reconhecimento, mensuração e divulgação dessas operações, especialmente por meio do IFRS 3 Combinações de Negócios. Contudo, o IASB identificou que a falta de uma norma IFRS específica para as Combinações de Negócios sob Controle Comum-BCUCC tem ocasionado diversidade na prática, além do fornecimento de poucas informações sobre as referidas combinações. Diante disso, o Conselho apresentou o Discussion Paper DP/2020/2, com suas opiniões preliminares sobre o tema e disponibilizou para contribuições. Após o período de consulta, verificou-se o recebimento de 102 cartas-comentário. O objetivo do presente trabalho é analisar as opiniões destes respondentes. Trata-se de um estudo exploratório, de natureza qualitativa, por meio da técnica de análise de conteúdo. Foi possível analisar todas as comment letters encaminhadas, em resposta às 12 perguntas do Board. Como resultado, verificou-se heterogeneidade na participação dos diversos setores, com predominância dos setores mais impactados pela norma. Os países classificados segundo Nobes & Parker (1995) no modelo Anglo-Saxão representam 43% dos respondentes. Quanto ao nível de concordância às questões propostas pelo IASB, observou-se que 69% dos respondentes concordam com as opiniões preliminares expostas, sendo que 29% deste percentual ofereceu sugestões de melhoria em relação aos temas abordados. Conclui-se que, de modo geral, houve uma participação relevante dos diversos usuários da informação contábil. O Brasil aparece em destaque, ocupando o segundo lugar na quantidade de respondentes, o que revela grande disposição no debate. Contudo, nota-se que a academia teve baixa participação. Este fato deve ser ressaltado e difundido mundialmente, pois é importante que as instituições de ensino e pesquisa acompanhem e participem do processo normativo do IASB, pelas características que são inerentes a estas instituições. Esta pesquisa contribui para o debate em curso acerca de Combinações de Negócios sob Controle Comum-BCUCC, pela análise aprofundada e oferta de subsídios às decisões do IASB e contribuição ao aperfeiçoamento dos relatórios financeiros.

Este estudo teve como objetivo verificar a influência de variáveis patrimoniais e não patrimoniais sobre a emissão de ressalvas, bem como recomendações sobre a prestação de contas do Presidente da República em face da convergência das normas brasileiras de contabilidade pública no Tribunal de Contas da União, tendo como base de análise o Parecer prévio emitido pelo TCU entre os anos de 2016 a 2021. Trata-se de uma pesquisa descritiva, quantitativa e qualitativa. Para esta análise dos dados, utilizou-se o software IRAMUTEQ como ferramenta de apoio na análise de textos. Os resultados revelam um papel preventivo do TCU ao emitir uma grande quantidade de recomendações em relação à quantidade de ressalvas. É possível identificar uma relação direta entre as ressalvas e recomendações do TCU com a convergência da contabilidade pública, pois a adoção do regime de competência impulsiona uma procura por maior comparabilidade, transparência e responsabilização das informações contábeis. Verificou também que a accountability e a legalidade são os pilares fundamentais para a elaboração do parecer prévio. Ademais, reforça a importância da implementação de um plano de contas único e de um sistema de consolidação das contas públicas.

A presente pesquisa aborda a relação entre incerteza sobre a política econômica e o conservadorismo condicional na contabilidade de empresas brasileiras. A relação explorada surge do potencial que a incerteza política tem para elevar a assimetria de informação entre a administração e outras partes interessadas, ensejando a oportunidade para administradores transferirem riqueza para si mesmos, desviando a atenção da criação de valor para os acionistas. Nesse sentido, a contabilidade conservadora ajuda a controlar essa assimetria ao reduzir a capacidade dos administradores em exagerar as mudanças cumulativas no valor da empresa. Com o objetivo de avaliar a relação entre conservadorismo e incerteza sobre a política econômica foi proposta uma modificação ao modelo de Basu (1997) para acrescentar variáveis que refletem de forma sintética o nível geral de incerteza, os chamados índices de incerteza sobre a política econômica. Este estudo utilizou dois índices de incerteza sobre a política econômica, um desenvolvido por Baker et al. (2016) e outro por Ferreira et al. (2019). Os resultados mostraram diferenças importantes dependendo do índice utilizado. Os modelos baseados no índice de Baker et al. (2016) confirmaram a hipótese de que o aumento da incerteza política está estatisticamente relacionado ao conservadorismo condicional. No entanto, os modelos com base no índice de Ferreira et al. (2019) não corroboraram essa hipótese, demonstrando a importância dos diferentes métodos de construção dos indicadores de incerteza para os resultados. Além disso, foi realizada uma avaliação por meio de gráficos entre os aumentos nos índices de incerteza e os anos de presença de conservadorismo, os resultados foram consistentes com a relação que se espera entre a incerteza e o conservadorismo, mesmo quando utilizando o índice de Ferreira et al. (2019).

A provisão para créditos de liquidação duvidosa (PCLD) é um dos principais produtos da gestão do risco de crédito em instituições financeiras, é um acruall contábil significativo e é uma das principais ferramentas passíveis de utilização para gerenciamento de resultados. Esse métrica contábil é frequentemente utilizada pelos investidores no mercado de capitais como um dos insumos para a construção de análises que subsidiam decisões de investimentos. Logo, dada a sua importância, espera-se que sua divulgação contenha valor informacional para o mercado. Extensa literatura internacional indica que, de forma geral, a divulgação da PCLD produz efeitos positivos nos preços de ações e, consequentemente, no valor de mercado de instituições bancárias, o que mostra que o aumento do colchão de proteção contra o risco de crédito é recebido como uma “boa notícia” pelo mercado. No Brasil, a academia não se debruçou sobre questão semelhante. Logo, o presente trabalho tem por objetivo investigar como os investidores reagem, positiva ou negativamente, à divulgação da provisão para créditos de liquidação duvidosa, por parte dos bancos brasileiros de capital aberto, e se há algum tipo de efeito no valor de mercado de suas ações. Para tanto, após uma extensa revisão de literatura sobre o tema de Value Relevance de métricas contábeis no mercado Bancário, utilizou-se do modelo de Ohlson (1995) adaptado, regressões de dados em painéis e aplicação do método seemingly unrelated regressions (SUR), bem como o método de correção de erros robustos para verificar se a divulgação de informações contábeis, informações da carteira de crédito e, especialmente, da PCLD (discricionária e não discricionária) têm relação estatisticamente significativa com o valor de mercado das instituições. Os dados foram coletados na plataforma economática e na plataforma IF.DATA do Banco Central do Brasil (BCB). Os resultados indicaram uma associação positiva e estatisticamente relevante entre a PCLD total (parcela discricionária e parcela obrigatória) e o valor de mercado das instituições estudadas, o que corrobora a tendência dominante em pesquisas internacionais sobre o tema. Por outro lado, ao contrário do esperado, a parcela discricionária da PCLD se mostrou com efeitos menores no valor de mercado, quando comparada à PCLD total. Adicionalmente, confirmaram-se as premissas do modelo de Ohlson (1995) no mercado de capitais bancário Brasileiro, no sentido de que tanto o Patrimônio Líquido quanto o Lucro Líquido se mostraram relevantes para explicar parte do valor de mercado. Os resultados permitem expandir a literatura produzida nacionalmente no tema e podem auxiliar investidores em relação ao entendimento do papel da PCLD nos preços de mercado e o órgão regulador em relação ao melhor entendimento dos possíveis efeitos práticos da normatização contábil relativa à PCLD.

Os órgãos do Poder Judiciário, como integrantes da administração pública, utilizam recursos públicos e prestam contas à sociedade. Logo, devem buscar a eficiência e o melhoramento de seu desempenho. Como organizações, estão imersos em ambientes institucionalizados e precisam adequar-se a pressões sociais para manter sua legitimidade. Assim, a presente pesquisa tem como objetivo analisar, sob a ótica da Teoria Institucional, o desempenho dos Tribunais Regionais Federais frente aos investimentos em TIC no contexto da pandemia de SARS-CoV-2 (COVID-19). Para tanto, foram coletados resoluções e outros documentos que disciplinaram a atuação dos TRFs entre 2018 e 2021. Também, foram coletadas informações de gastos com TIC e dados para cálculo da taxa de congestionamento líquida, durante os anos de 2018 a 2021. Os documentos passaram por análise de conteúdo em busca de evidências de pressões institucionais sobre os TRFs, ao passo que os dados quantitativos passaram por análise estatítisca para verificar relações entre as variáveis do estudo, a saber, investimentos em TIC e regime de trabalho remoto. Observou-se que a produtividade e os investimentos caíram durante a pandemia, embora estivessem positivamente relacionados. Ademais, a implementação do trabalho remoto prejudicou a produtividade dos TRFs, mas, ensejou mudanças permanentes no regime de trabalho dos órgãos do Poder Judiciário. Os tribunais alteraram práticas de trabalho sob a justificativa de atenderem a pressões institucionais, valorizando a manutenção de sua legitimidade em detrimento da eficiência (no sentido racional). Tais fatores denotaram indícios de isomorfismo coercitivo.

A evolução da Nova História da Contabilidade reflete na ascendência do ambiente econômico, político, social, organizacional e cultural. Desde a revolução industrial até o aumento do funcionamento das entidades por meio digital, a Contabilidade teve que se adaptar às novas demandas organizacionais. Nesse sentido, este estudo analisou possíveis fatores ambientais que podem ter influenciado essa evolução, utilizando a teoria Ator-Rede. A partir desse entendimento, paralelo ao contexto histórico destacado, a evolução da Nova História da Contabilidade se mostrou conduzida, principalmente, por forças políticas, econômicas e cultuais. E, como consequência, teve reflexos no pensamento contábil ao longo da história até os dias atuais. Os resultados apontaram para uma Contabilidade direcionada à adaptação conduzida por interesses e pelas necessidades dos agentes influentes, em momentos marcantes da história mundial. Este estudo evidencia possíveis vieses implicados na Nova História da Contabilidade em que fatores influentes podem ter se revelado benéficos ou não para a sociedade e para as organizações. Apesar do termo Nova História da Contabilidade, essa expressão denota muito mais uma adaptabilidade às demandas naturais das organizações em contínuo crescimento, acompanhando a evolução de economias rupestres, a globalização e as tecnologias, cada vez mais avançadas. Por meio desse entendimento, paralelo ao contexto histórico, há indícios de que a evolução da Nova História da Contabilidade foi marcada não somente pela superação de um mercado limitado pelas fronteiras e tecnologias tradicionais para as mais modernas, mas, também, por influências do meio econômico, político, social e cultural. De toda forma, considerando a convergência das normas contábeis, e o fortalecimento do IASB e do CPC, de fato, as mudanças da Nova História da Contabilidade ocorreram a partir do desenvolvimento do mercado de capitais. Como consequência dos impactos no pensamento contábil contemporâneo, a História da Contabilidade se mostrou ainda estagnada e mais adaptável às demandas, apesar do termo Nova História da Contabilidade ter surgido em meados da década de 70, do século XX. Nesse sentido, percebe-se um longo caminho ainda a ser explorado, em direção não apenas a uma evolução, mas a um avanço do modo de operar da Nova História da Contabilidade. Por conseguinte, implica-se também na percepção de uma evolução necessária tanto na teoria, quanto na prática contábil. A exemplo, as entidades e as organizações, pela ação humana, têm se reinventado cada vez mais a fim de se adaptarem aos estímulos do meio em que estão inseridas. Essa adaptação reflete e representa a Contabilidade dessas entidades, que advém da evolução da Nova História da Contabilidade. Por conseguinte, considerando o papel primordial da Contabilidade de apresentar informações relevantes, fidedignas e melhoradas, este estudo demonstrou que o olhar para o passado, com perspectivas presentes e futuras, pode sinalizar como as influências dos ambientes econômico, político, social e cultural estarão refletidas na Contabilidade. Isso porque, anteriormente, tais influências já tiveram seus efeitos absorvidos pelas entidades e organizações.

Os contratos de parcerias público-privadas são indicados, na literatura, como uma tendência mundial por serem capazes de suprir a falta de recursos públicos, necessários aos investimentos em infraestrutura, e pelo potencial aumento da eficiência dos serviços prestados pelo Estado. Outras justificativas também são apontadas como motivadoras dessas contratações, como a possibilidade de ilusão fiscal decorrente desses negócios, que podem atender mais a interesses individuais dos governantes do que ao interesse público. Uma das formas de controle da ilusão fiscal, e do desvio de finalidade na execução dessas concessões, é a utilização de mecanismos de transparência e a análise Value for Money (VfM), que assegura a vantajosidade, para a Administração Pública, da opção pela realização de uma PPP. Nesse contexto, foram estabelecidos três objetivos para o estudo do caso da Via Ponte Paranoá, um projeto de PPP em análise no Distrito Federal: verificar o conjunto regulamentar que deve ser atendido pelo projeto e a sua conformidade, verificar a possibilidade de análise de seu Value for Money ex ante por meio da metodologia desenvolvida no Reino Unido, e verificar se o VfM do estudo técnico da Via Ponte Paranoá está aderente aos parâmetros recomendados pela literatura. Foi verificada parcialmente a sua adequação normativa, e a impossibilidade de avaliação do VfM da Via Ponte Paranoá por meio da abordagem Britânica. Concomitantemente, foi verificada a adequação do estudo realizado aos parâmetros de análise estabelecidos na literatura por Grilo e Alves (2012). Por fim, concluiu-se que a fragilidade do VfM mensurado está na consolidação das variáveis utilizadas, e não na metodologia de cálculo adotada.

A opinião de auditoria é um assunto que tem despertado interesse da academia, sobretudo por indicar fatores de risco associados à empresa auditada. Em que pese a literatura internacional já discutir a temática a bastante tempo, os resultados estão longe de ser conclusivos (Habib, 2013). Por outro lado, no Brasil, os trabalhos ainda são escassos, sobretudo com foco em empresas estatais tem sido pouco exploradas. Essa pesquisa busca explorar essa lacuna na literatura, tendo por objetivo identificar as variáveis determinantes da opinião de auditoria modificada sobre as demonstrações financeiras de empresas estatais brasileiras. A população de interesse da pesquisa inclui as 456 empresas estatais brasileiras controladas pelos governos federal, estados e distrito federal (SEST 2021; STN, 2020). Para tanto foi desenvolvido o modelo Logit no qual serão testadas variáveis relativas às características das firmas de auditoria, empresas auditadas e vigência das normas de auditoria. Parte dos dados já foram coletados, resultando em 633 observações (220 observações para as 44 empresas estatais federais e 413 de empresas estaduais). As próximas etapas incluem o aprofundamento do referencial teórico e hipóteses de pesquisa, sobretudo em função das recomendações/sugestões da banca examinadora, finalização da coleta de dados, análise dos dados e redação final.

Nos últimos tempos, os padrões internacionais de contabilidade foram anunciados como uma linguagem universal de relatórios financeiros que estão substituindo rapidamente os padrões nacionais de contabilidade. E depois que o processo de convergência começa o que acontece com os usuários internos? Costumeiramente o trabalho de disseminação das normas é intenso no início, diversos padrões específicos são convergidos e postos em utilização, com o passar do tempo surgem questões específicas de cada entidade do setor público que não são abarcadas pelos padrões existentes. É nesse momento que se iniciam os questionamentos em locais regidos por regras como padrão normativo: “Se eu aplicar o conceito contido na estrutura conceitual a auditoria interna vai questionar?”, “Quais são os riscos aceitáveis nesse trabalho de auditoria dado que não há uma norma específica?”, “Qual contexto o contador estava inserido para tomar essa decisão de reconhecer ou não determinado ativo ou passivo?”, “Na condição de auditor como vou tratar no relatório as divergências da Lei com a essência sobre forma?” Assim, as respostas para essas perguntas levam à uma tomada de decisão de utilizar ou não a norma de cunho geral ou serem fundamentadas nas opiniões ou interesses das pessoas envolvidas no processo. Sendo assim, observou-se que há várias questões sem respostas que podem ajudar a compreender as razões que levam os usuários internos a tomar decisões em um ambiente de conflito entre utilizar normas fundamentadas em regras ou padrões fundamentados em princípios. Nesta seara o objetivo desta tese é investigar se Estrutura Conceitual do IPSASB é capaz de proporcionar uma mudança cultural, ou seja, uma contabilidade fundamentada em princípios no lugar de uma contabilidade fundamentada em regras na ótica dos usuários internos. Para alcançá-lo foi necessária realização de 24 entrevistas semiestruturadas, isso porque a investigação procura compreender a mudança cultural local dos usuários internos face a utilização de uma norma de cunho generalista. A técnica de exame foi a análise conteúdo a fim de comparar as respostas coletadas na entrevista com os ditames da nova sociologia institucional. Os resultados mostram na opinião do conjunto de entrevistados o uso de uma norma de caráter geral, Estrutura Conceitual do IPSASB, pode proporcionar uma mudança cultural no padrão normativo local e no comportamento dos usuários internos ao longo do tempo, isso é corroborado com a literatura que trata de mudança cultural informando que ela não ocorre da noite para o dia, mas a passos lentos. As contribuições dessa pesquisa são: aproximar a academia da prática contábil trazendo à tona a opinião dos usuários internos, ela colabora ao expor as fraquezas e forças do processo de normatização local, pode servir de exemplo para outras nações que tem a intenção de atravessar esse processo, favorece a compreensão de como o processo histórico de formação cultural dos usuários internos locais pode ser alterado em função do uso de uma norma genérica, contribui também ao demonstrar que o processo de convergência pode ter ocorrido no Brasil na busca de legitimação externa ou por conta da própria evolução da contabilidade enquanto profissão e contribui para as pesquisas sobre processo de colonização contábil, para as pesquisas no campo da normatização contábil, para as pesquisas sobre o processo de convergência na contabilidade aplicada ao setor público e para os estudos de mudança cultural fundamentados na nova sociologia institucional.

Esta pesquisa tem por objetivo analisar a influência do disclosure contábil no processo de accountability, no contexto das prestações de contas do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE). As discussões permeiam em torno das dimensões do disclosure contábil (“Para Quem”, “O Que”, “Quanto”, “Como”, “Quando”) e das formas de accountability (Administrativa, Democrática, Profissional, Política, Pessoal). Além das abordagens teóricas voltadas à evidenciação, à governança pública, à accountability, adotou-se a perspectiva da Teoria Ator-Rede como estratégia para observar e analisar o processo de prestações de contas do PDDE, a partir da identificação de redes, e seus respectivos atores, e dos fluxos de informações que percorrem entre elas. Defende-se que quanto melhor a qualidade do disclosure contábil, melhor é caracterizada a ocorrência da forma de accountability em análise. Esta pesquisa busca avançar, ainda que numa abordagem positivista, em direção à investigação interpretativa. Este avanço se dá em função dos dados qualitativos, coletados por meio da realização de entrevistas semi-estruturadas. Por indicação do Diretor Financeiro do FNDE, após apresentados os objetivos da pesquisa, foram entrevistados representantes da Coordenação-Geral de Prestação de Contas e da Coordenação-Geral de Apoio à Manutenção Escolar (Gestores). Na instância executora do PDDE, por sua vez, as entrevistas foram realizadas no contexto das Entidades Executoras (EEx). Por meio do Sistema de Gestão de Prestação de Contas (SiGPC), é possível ter acesso aos responsáveis pelas prestações de contas do PDDE em cada uma das secretarias de educação dos estados e a do Distrito Federal (EEx), sendo identificado o nome e o e-mail desses responsáveis. Desta forma, realizou-se um total de dezoito entrevistas, ocorridas de modo remoto, pelas plataformas digitais de comunicação, da preferência do entrevistado, sendo a mais utilizada, o “Google Meet”. Foi proposto um modelo de análise para classificar o disclosure contábil das prestações de contas do PDDE. Os resultados desta classificação forneceram os subsídios necessários para a caracterização da ocorrência da(s) forma(s) de accountability predominante(s), neste contexto. Com o intuito de avaliar e validar o modelo de análise foi constituído um Comitê de Juízes, os quais avaliaram os seguintes critérios, bem como, atribuíram as notas médias (1 a 5) apresentadas entre parênteses: compreensão (5); relevância (5); aplicabilidade (4,6). A análise, por sua vez, contou com o suporte da Análise de Conteúdo (AC), com triangulação de técnicas, fazendo o uso de instrumentos manuais, na organização dos dados, bem como, de instrumentos automatizados, a partir do software livre denominado IRaMuTeQ (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires), o qual viabilizou diferentes análises textuais, dentre elas: as análises lexicais clássicas, Classificação Hierárquica Descendente (CHD) e a análise de similitude. A partir de entrevistas realizadas constatou-se, por meio da análise das dimensões do disclosure contábil, a predominância da Accountability Administrativa. Em termos gerais, as prestações de contas do PDDE estão voltadas para o atendimento às obrigações legais, regulatórias e administrativas, com ênfase nos aspectos financeiros, no operacional do processo e na execução dos recursos. A Accountability Administrativa foi a única forma de accountability que satisfez a todas as dimensões do disclosure contábil, evidenciando, assim, sua predominância no contexto analisado. Ao analisar as dimensões do disclosure contábil, verifica-se a existência de lacunas nas prestações de contas, que podem ser preenchidas com respostas a tais dimensões, as quais envolvem, não apenas os atores diretos participantes deste processo, mas os órgãos profissionais, as representações políticas, os grupos sociais e os cidadãos de uma forma geral. Identificou-se, ainda, lacunas na comunicação entre os atores envolvidos nas prestações de contas do PDDE, na gestão dos recursos financeiros oriundos do programa, na compreensão e atendimento às diferentes realidades existentes, bem como, no reconhecimento da importância destes recursos e os avanços já conquistados no processo de sua prestação de contas. Além destas contribuições diretas relacionadas à prestação de contas do PDDE em si, de caráter mais prático, esta pesquisa, no campo teórico, possibilitou a aproximação de duas áreas do conhecimento: a Contabilidade e a Governança Pública. Estas reflexões ampliam os horizontes para o desenvolvimento de novas pesquisas, ampliando as possibilidades e apresentando novos desafios.

O propósito da pesquisa é verificar se o índice de incerteza de política econômica aumenta a acurácia preditiva em um modelo multinomial logit misto que usa variáveis explicativas contábeis e macroeconômicas. O estudo parte de uma formulação de três estados para firmas em continuidade, em dificuldades financeiras e falidas. A amostra, com 43.608 observações do mercado dos Estados Unidos da América, compreende um período de oito anos (2012 a 2019). Com base nos dados de 5.451 empresas listadas, se compara a adequação classificatória e a acurácia preditiva de dois modelos cuja única diferença é o índice de incerteza de política economica estadunidense. A inclusão da variável não mostra aumento do poder preditivo e nem da significância do modelo para prever o desfecho do estado das empresas. No entanto, os sinais dos parâmetros são confirmados pela teoria empregada. Os testes permitiram testar a robustez desses vários indicadores e classificar prévia e adequadamente empresas em continuidade, em dificuldades financeiras e em estado de falência com antecedência de um, dois e três anos. Os resultados obtidos estão alinhados com estudos anteriores, com variáveis estatisticamente significativas e sinais dos coeficientes similares aos esperados. Os modelos de predição desenvolvidos têm por base informações públicas e sinalizam ter utilidade para administradores, investidores, concorrentes, fornecedores, empregados, auditores, empresas de auditoria e reguladores.

Este estudo investiga como as fases do ciclo de vida das empresas influenciam sua rentabilidade futura no contexto de países em mercados emergentes. Inicialmente realizou-se uma revisão bibliográfica sistematizada, visando identificar proxies na literatura empírica que pudessem representar as fases do ciclo de vida das empresas em estudos empíricos. Cinco proxies Foram identificadas: (i) Dickinson (2011), (ii) Anthony e Ramesh (1992), (iii) Faff et al (2016), (iv) idade da empresa e (v) DeAngelo, DeAngelo e Stulz (2006). Para explorar a rentabilidade futura das empresas, considerando suas diversas fases de ciclo de vida e o contexto macroeconômico de sete países emergentes (África do Sul, Brasil, Chile, Colômbia, Egito, México e Peru) foram empregadas análises descritivas e de dados em painel. Os resultados da análise revelaram padrões interessantes e, por vezes, contraditórios na relação entre o ciclo de vida das empresas e sua rentabilidade futura. A rentabilidade dos ativos operacionais líquidos, sua variação e o crescimento dos ativos são negativamente correlacionados a rentabilidade futura, indicando um padrão de reversão à média da rentabilidade futura em todos os países analisados. A relação entre a variação no giro dos ativos e a rentabilidade futura mostrouse inconsistente entre os países, e para a maioria deles não foi estatisticamente significante independentemente da proxy para ciclo de vida ou da fase em que a empresa se encontra nesse ciclo. O ciclo de vida das empresas, por sua vez, apresentou resultados controversos, com diferentes fases sendo estatisticamente significantes dependendo da proxy utilizada e do país analisado. A fase de maturidade, em particular, mostrou uma correlação positiva e significante com a rentabilidade futura, enquanto a interação com a variação no giro dos ativos não foi estatisticamente significante. A relação entre a fase de maturidade e a margem de lucro sobre a rentabilidade futura foi significante para quase todas as fases e proxies, sendo positiva na fase de maturidade e negativa nas demais fases. A pesquisa oferece insights valiosos, mas também abre a porta para futuras investigações que possam explorar ainda mais profundamente as complexidades e os desafios inerentes a esta relação vital entre o ciclo de vida das empresas e sua rentabilidade futura.

O objetivo desse estudo é identificar a influência de fatores pessoais sobre a percepção de contadores e agentes públicos sobre a adoção do Relato Integrado como principal modelo de relatório de gestão das contas públicas. Os objetivos específicos foram utilizados como um guia para análise dos produtos desta pesquisa, sendo eles: analisar, no âmbito da administração pública federal, a aplicação do Relato Integrado como modelo de relatório de gestão da prestação de contas públicas e interpretar a Decisão Normativa TCU 178/2019 à luz da Teoria Institucional. O método escolhido para a coleta de dados foi o levantamento tipo survey, através questionário eletrônico estruturado, composto de 30 questões fechadas, de modo a analisar a percepção dos contadores públicos quanto à demonstração do conjunto de informações contábeis por meio do Relatório de Gestão baseado no Relato Integrado, no que tange à transparência, credibilidade e utilidade das contas públicas e a modernização dos instrumentos de controle, interno ou externo, da administração pública. A relevância social é que, na prática, o presente estudo contribui para uma visão holística sobre a recente instituição do Relato Integrado no contexto público brasileiro. A originalidade e a relevância do estudo figuram da abordagem institucional utilizada para interpretar os resultados da pesquisa e tendo em vista que os estudos sobre o Relato Integrado no contexto do Setor Público brasileiro ainda são incipientes na literatura. O principal achado do estudo sugere que contadores e agentes públicos tendem a concordar que o Relato Integrado contribui a qualidade da fiscalização e controle da gestão pública federal e para a fiscalização da legalidade, legitimidade, economicidade e aplicação dos recursos públicos. Por outro lado, as evidências demonstram que a amostra não tem opinião formada sobre se o Relato Integrado é uma tentativa de atender às necessidades sociais e/ou se é uma tentativa de legitimar os processos organizacionais. Além disso, pela maioria de não contadores, as opiniões foram desfavoráveis quanto à contribuição do Relato Integrado para a melhoria da materialidade, confiabilidade, conectividade e coerência das informações contábeis. A Ocupação teve forte influência sobre a percepção dos indivíduos quanto à contribuição do Relato Integrado em medir os impactos das ações do Estado na sociedade e no ambiente externo. E, a partir da análise da mesma variável, a amostra tende a discordar que o Relato Integrado contribui para a transparência da prestação de contas públicas.

A pesquisa tem como objetivo investigar o contexto de implantação de sistemas de custos no Governo Federal, com base na teoria institucional, considerando a influência dos ambientes interno e externo às organizações na implantação do sistema. No referencial teórico, destacamse relevantes aspectos da contabilidade de custos no setor público, da relação entre custos e governança pública, assim como da teoria institucional para as pesquisas em contabilidade. Pela revisão bibliográfica, verificou-se o estado da arte das pesquisas acadêmicas que possuem relação com a implantação de sistemas de custos no Governo Federal. Durante a fase de investigação empírica, os elementos coletados para estudo e análise foram oriundos de diferentes fontes de dados, desde documentos primários como atos normativos e relatórios de custos até um questionário direcionado a agentes públicos com experiência na temática no âmbito do Governo Federal. À luz da nova sociologia institucional, os resultados demonstraram haver influência do ambiente externo, causa de comportamento isomórfico nas organizações por pressões normativa, coercitiva e mimética. Essa constatação serve de alerta às organizações, visto que é preciso transpor o alcance da legitimidade perante stakeholders, para que além disso o sistema possa efetivamente contribuir como instrumento de governança pública. Adicionalmente, sob a lente da velha economia institucional, os achados da investigação do ambiente interno foram fundamentais para a compreensão da contabilidade de custos como prática de uma rotina institucionalizada, com influência do comportamento humano e das relações sociais no ambiente organizacional, determinantes ao sucesso de uma iniciativa inovadora como o sistema de custos. Nesse sentido, a pesquisa também alerta sobre boas práticas e armadilhas a serem evitadas, considerando a relevância de fatores internos, o grau de dificuldade na geração da informação, os custos com maior necessidade de controle, assim como sobre a contribuição do SIC do Governo Federal e da nova contabilidade pública para os sistemas de custos implantados pelas organizações.

O âmago desta tese é a natureza do goodwill. Por meio de uma tetralogia de estudos, proponho uma abordagem alternativa para a natureza do goodwill, que considera uma inseparabilidade onto-epistemológica entre o goodwill (capital intangível) e o capital físico da empresa. Eu chamo isso de “efeito emaranhamento”. Ele ocorre por meio da “intra-ação” entre o capital intangível e o capital físico. Minha proposta é derivada de conceitos usados na física quântica, economia e psicologia. Eu dialogo com esses campos do conhecimento para propor a natureza do goodwill como sendo um conjunto de forças (drivers de valor) atuando emaranhadamente com outros ativos, a fim de criar valor para as organizações. Esse conjunto de forças não existe física ou economicamente separado do capital físico. No primeiro estudo, eu me baseio em conceitos da psicologia para abordar a questão dos fracassos que ocorrem nos processos de combinações de negócios. Adicionalmente, forneço evidências empíricas que sugerem que apenas 15% do goodwill relatado pelas empresas representa substância econômica (núcleo do goodwill). O segundo ensaio é um exercício de construção de teoria no qual eu forneço uma base teórica para explicar a natureza do goodwill. Eu dialogo com a física quântica e a economia para explicar a formação dos resíduos econômicos que dão origem ao goodwill (badwill). Considero que tais resíduos se originam em cada decisão gerencial que ocorre no cotidiano da firma. Em particular, eu exploro conceitos da teoria do realismo agencial, como emaranhamento, intra-ação e difração, e os relaciono com o goodwill. No terceiro manuscrito, eu testo empiricamente o efeito emaranhamento. Usando um painel desbalanceado com 161.966 observações empresa-ano de 1980 a 2020, abrangendo 67 países e dez setores da economia, eu descubro que o efeito emaranhamento tem uma associação estatisticamente significativa com a geração de valor das empresas. Uma vez que que a amostra do terceiro estudo não possui dados disponíveis para as instituições financeiras, eu construo o quarto artigo a fim de testar o efeito emaranhamento especificamente no setor xii bancário. A amostra compreende 28.161 observações banco-ano de 2002 a 2020, abrangendo 122 países. Eu descubro que o efeito emaranhamento também possui uma relação estatisticamente significativa com a geração de valor dos bancos. Concluo, portanto, que o efeito emaranhamento representa a própria natureza do goodwill e que é uma força real nas organizações, independentemente do setor da economia.