Investiga-se o problema da generalizabilidade de postulados psicológicos e eventuais alegações de sua universalidade ou susceptibilidade a idiossincrasias culturais. Utilizamos instrumentos de análise de classificação de diferentes tipos de universalidade psicológica e estudamos sua efetividade frente a hipóteses orientadas pela Psicologia Evolucionista (PE), com apoio em estudos transculturais. Apresentamos dois artigos e um material suplementar. O primeiro dos artigos é teórico, onde analisamos os modelos de classificação de universais que apresentam propostas dinâmicas de classificação quanto à universalidade, bem como propomos uma metodologia de operacionalização para o teste de robustez classificatória desses modelos. No segundo artigo, executamos uma aplicação prática desta metodologia de classificação sobre artigos de três grandes temas: seleção de parceiros; julgamentos morais e emoções sociais. A classificação realizada no segundo artigo se demonstrou satisfatória, embora tenham sido encontradas limitações quanto à sua capacidade de extrapolação estatística. Discutimos a aplicabilidade do modelo de universalidade de diferenças sexuais para outros tipos de universais psicológicos. Aponta-se a necessidade de mais amostras de sociedades de pequena escala como contraponto à quantidade de estudos transculturais de nível nacional, mesmo diante do aumento destas pesquisas.

Este estudo avaliou se a expectativa de melhoria cognitiva devido à prática de jogos de ação poderia afetar a atenção visuoespacial. Todos os 140 participantes passaram por um pré-teste e um pósteste, ou apenas um pós-teste, da tarefa de Campo de Visão Útil (CVU) em uma única sessão experimental. Antes do pós-teste, o Grupo Placebo 1 assistiu a um vídeo que induzia expectativas de efeitos relacionados ao jogo na cognição, enquanto o Grupo Controle 1 assistiu a um vídeo controle, ambos seguidos por uma sessão de 10 minutos de jogo de vídeo game em realidade virtual. O Grupo Placebo 2 e o Grupo Controle 2 passaram pelos mesmos procedimentos, exceto pelo pré-teste (ou seja, desenho experimental de quatro grupos de Solomon). Embora a manipulação experimental tenha induzido expectativa no Grupo Placebo 1 em comparação com o Grupo Controle 1, não houve diferenças de desempenho na tarefa CVU. Uma comparação entre o Grupo Placebo 2 e o Grupo Controle 2 avaliou um efeito de expectativa na ausência de um pré-teste, e os resultados mostraram que a manipulação não induziu expectativa, o que também não foi observado no desempenho. Uma comparação entre todas as condições experimentais no pós-teste evidenciou um efeito de transferência causado pela prática e sugere que as intervenções placebo possam ser beneficiadas ou intensificadas por um pré-teste. Em resumo, nossos resultados não apoiam investigações anteriores na literatura que afirmam que o efeito de expectativa pode explicar ganhos de atenção em estudos de treinamento cognitivo.

O yoga tem sido apontado como uma possível intervenção de regulação emocional. Modelos teóricos propõem que a prática promove a integração entre mecanismos top-down (como funções inibitórias, de monitoramento executivo e controle atencional) e bottom-up (como funções interoceptivas, proprioceptivas e sensório-motoras), o que se traduziria em uma autorregulação mais efetiva em domínios cognitivos, comportamentais e afetivos. A regulação emocional modula a ocorrência, duração e qualidade das emoções, mas apresenta variados níveis de engajamento consciente, gerando suas dimensões explícita e implícita. Quando um objetivo de regulação emocional é ativado e perseguido conscientemente, acionam-se estratégias explícitas de regulação, como a reavaliação cognitiva, a supressão emocional e o controle voluntário atencional. Quando inconscientemente, acionam-se estratégias implícitas, como a aprendizagem por extinção e vieses atencionais automáticos. Este trabalho propôs dois estudos para avaliar se a prática de yoga a longo-prazo e a atual carga horária de prática de yoga estão associadas a mudanças na regulação emocional explícita e implícita. O primeiro estudo investigou se a prática de yoga atual e a longo-prazo se associaria à reavaliação cognitiva, à supressão expressiva, ao foco atencional e à alternância atencional (como medidas explícitas de regulação emocional) e à performance em uma tarefa go/no-go verbal emocional, com estímulos positivos e negativos (como uma medida implícita de regulação emocional). Hipotetizava-se que o tempo de experiência com yoga e a carga atual de prática prediriam maiores índices de reavaliação cognitiva, foco atencional e alternância atencional, e menores índices de supressão emocional. Na tarefa go/no-go, prediriam menores erros por comissão no geral (indicando controle inibitório), menores diferenças entre estímulos positivos vs. negativos em erros de comissão e menores diferenças entre estímulos positivos vs. negativos nas médias de tempos de 16 resposta (indicando menor viés emocional no controle inibitório). A amostra contou com 368 participantes (gênero: 79.3% feminino, 20.1% masculino, 0.6% não-binário; idade: 33.85±7.28 anos, em média; experiência com yoga: 6.9±5.73 anos, em média), em um estudo pré-registrado, online e transversal. Destes, 255 completaram apenas as medidas explícitas, enquanto 143 completaram todas. Entre as medidas explícitas, os anos de experiência com yoga e a carga atual de prática predisseram maiores índices de foco atencional autorrelatado, apenas. Na tarefa go/nogo, os anos de experiência predisseram melhor controle inibitório geral (menos erros de comissão). Além disso, comparando padrões de resposta para estímulos positivos vs. negativos, os anos de experiência predisseram menor viés emocional nas taxas de erros de comissão, enquanto carga atual de prática predisse menor viés emocional nas médias de tempo de resposta. Assim, as hipóteses iniciais foram parcialmente corroboradas. Na dimensão explícita, a prática de yoga associou-se apenas ao controle de foco atencional, enquanto na dimensão implícita associou-se tanto a um melhor controle inibitório geral quanto a menos vieses emocionais. O segundo estudo, visando a aprofundar os achados do primeiro, testou a viabilidade da combinação de medidas fisiológicas e comportamentais para melhor discriminar efeitos topdown e bottom-up das práticas de yoga na regulação emocional. Tratou-se de um estudo piloto que investigou se a prática de yoga atual e a longo prazo prediriam maior variabilidade de frequência cardíaca, (um marcador fisiológico de regulação emocional, que foi mensurado em linha de base, estresse leve e recuperação), e padrões de resposta em duas tarefas de atenção emocional: uma tarefa emocional de pistas espaciais com orientação exógena e uma com orientação endógena (endogenous and exogenous emotional spatial cueing tasks). Nas tarefas, foram utilizados estímulos faciais amedrontados e neutros, com diferentes frequências espaciais (alta, baixa e intacta). Com base em estudos prévios, parâmetros das tarefas foram manipulados 17 para melhor distinguir processos top-down e bottom-up de atenção emocional. Enquanto a atenção emocional top-down pode ser mais fortemente evidenciada no desengajamento atencional para longe de estímulos negativos vs. neutros, especialmente para estímulos de frequência espacial alta, na tarefa endógena, a atenção emocional bottom-up pode ser mais fortemente evidenciada no engajamento atencional frente a estímulos negativos vs. neutros, especialmente estímulos de frequência espacial baixa, na tarefa exógena. Dos 27 participantes, 20 foram incluídos na amostra final (gênero: 60% feminino, 35% masculino, 5% não-binário; idade: 46.60±12.37 anos, em média; experiência com yoga: 16.40±13.02 anos, em média; professores de yoga/meditação: 70%). A coleta de dados foi presencial, em contexto de laboratório—os dados sociodemográficos e de prática de yoga/meditação foram respondidos em lápis e papel, enquanto as demais tarefas (cardiovasculares e de atenção emocional), foram respondidas no computador através do software PsychoPy. As diferenças entre condições de variabilidade de frequência cardíaca desapareceram ao controlar os efeitos da experiência com yoga, o que pode indicar uma relação de mediação (a ser formalmente testada em estudos futuros), enquanto a carga atual de prática levou a uma maior reatividade na variabilidade de frequência cardíaca, ao enfrentar estresse cognitivo. Tal reatividade, apesar de não hipotetizada, pode ser interpretada como uma eficiente modulação vagal para enfrentar demandas situacionais. Em relação às tarefas comportamentais, apenas a experiência a longo-prazo com yoga (e não a carga atual de prática) interagiu com padrões nos tempos de resposta. As respostas frente a estímulos de diferentes frequências espaciais não se diferenciaram como esperado. Mesmo assim, houve evidências de que a experiência a longo-prazo facilitou o desengajamento atencional para longe de estímulos negativos, especificamente sob orientação endógena, o que indica habilidades voluntárias de controle atencional e regulação. Tais resultados apontam que a 18 prática de yoga regular se associou primariamente a mudanças em processos top-down de regulação emocional, embora efeitos bottom-up não possam ser descartados, considerando limitações metodológicas deste trabalho (em especial o pequeno tamanho de amostra, poder estatístico limitado e maior necessidade de controle experimental). Em conjunto, ambos os estudos sugerem que a modificação de funções atencionais de maneira top-down constitui um possível mecanismo pelo qual a prática de yoga afeta a regulação emocional explícita e implícita, levando a menores vieses emocionais. Apesar de encorajantes, os resultados aqui apresentados devem ser considerados com cautela, à espera de suporte empírico mais robusto de diversas frentes de evidência

Questões de gênero tem sido objeto de estudo de cientistas do comportamento que buscam diversas formas de transpor desafios inerentes ao estudo de temáticas sociais, assim como desenvolver tecnologias que possam embasar e contribuir com questões relacionadas a temática. A literatura tem apontado o estudo de questões sociais por meio do Paradigma das relações conflitantes, utilizando de medidas auxiliares para verificação de viés. O presente trabalho é uma replicação do estudo realizado por Mizael et al. (2016) que verificava a formação das classes de equivalência em crianças com viés racial. Estre trabalho realizou procedimento seguindo os parâmetros facilitadores propostos no estudo anterior, em população adulta, substituindo os estímulos relacionados a viés racial por estereótipos de gênero, em uma população que apresentou um viés pró estereótipo de gênero. Para identificar os participantes com viés pró, os instrumentos utilizados foram um Inventário de Sexismo Ambivalente e um teste em que os participantes relacionam nomes de pessoas culturamente identificados como masculino ou feminino, com adjetivos representativos de estereótipos de gênero (Teste AC3). Os participantes foram divididos em dois grupos: grupo experimental e controle. O primeiro grupo foi exposto a um procedimento de formação de classes de equivalência, seguido de medidas de pós teste (I.S.A. e teste AC3) e o IRAP. O segundo grupo, após verificação do viés passou apenas pelo instrumento de medidas implícitas IRAP. Seis semanas depois, os participantes realizaram um follow-up para realizar as medidas do I.S.A, teste AC3 e o IRAP. Os resultados obtidos mostram que nove dos 16 participantes do grupo experimental formaram as classes de equivalência entre estímulos representativos de gênero. Foi observado também uma diminuição estatisticamente significativa no viés de sexismo medido a partir do teste AC3 e no I.S.A para o grupo experimental que formou as classes de equivalência. No follow-up, foi identificado que a média do grupo experimental no teste AC3 se manteve não representativa de viés, apresentando diferença não significativa em comparação ao pós teste. Quanto ao I.S.A., foi observada diferença não significativa entre o pós teste e o follow-up. Os dados se diferenciam do grupo controle, que não apresentou redução de viés no follow-up do I.S.A e no teste AC3. Esses dados colaboram com os estudos acerca gênero na perspectiva da análise do comportamento na medida que possibilita o desenvolvimento de tecnologias que tem por objetivo a redução de viés de estereótipos de gênero. Entende-se a importância de desenvolver mais estudos que busquem a verificar formação de classes de equivalência com estímulos com significado social, trabalhando também com estímulos interseccionais como gênero e raça.

O presente estudo avaliou os efeitos da contingência de variabilidade (i.e.,
critério Lag n) e do número de respostas por sequência sobre o padrão de sequências.
Quatro ratas foram expostas a duas fases (Lag 1 e Lag 10) que compreendiam condições
com 4, 6 e 8 respostas por sequência. Na Fase Lag 1, a sequência só era reforçada se
diferisse da sequência imediatamente anterior, enquanto na Fase Lag 10, o reforço era
contingente à sequência que diferisse das 10 últimas. A variabilidade (i.e.,
equiprobabilidade e recência das sequências) foi maior sob o critério Lag 10 do que sob
o critério Lag 1 e aumentou em função do número de respostas por sequência, mas
apenas sob o critério Lag 10. O critério Lag 1 selecionou padrões sistemáticos entre
sequências e intrassequência, enquanto o critério Lag 10 selecionou um padrão
randômico entre sequências, mas um padrão sistemático intrassequência. Esses
resultados sugerem que contingências de variabilidade geram efeitos não somente sobre
as sequências, mas também sobre as respostas que compõem a sequência.

A coerção sexual consiste num padrão de comportamento utilizado para obter contato sexual quando não há consentimento. Tal tática tem sido associada a diversos problemas interpessoais e desfechos negativos, como por exemplo, indicadores de insatisfação num relacionamento amoroso. Dentre as possíveis variáveis que influenciam os atos de coerção sexual, encontram-se níveis mais altos de traços aversivos de personalidade do perpetuador, conhecidos como tríade sombria: o maquiavelismo, a psicopatia subclínica e o narcisismo. A presente dissertação teve como principal objetivo investigar a relação entre a tríade sombria da personalidade, atos de coerção sexual e níveis de satisfação em relacionamentos amorosos de longo prazo. Ela foi dividida em três capítulos. O primeiro exibe a definição da Tríade sombria da personalidade associada à coerção sexual, a qual foi publicada na Encyclopedia of Sexual Psychology and Behavior. O segundo capítulo apresenta uma análise evolucionista sobre a coerção sexual, submetida à revista Evolutionary Psychological Science. O terceiro capítulo apresenta dois estudos no contexto brasileiro, utilizando as escalas Dark Triad Dirty Dozen – DTDD, Sexual Coercion in Intimate Relationships Scale – SCIRS, Escala do Amor, para avaliar os níveis de traços da tríade sombria da personalidade, frequência de comportamentos de coerção sexual e indicadores de satisfação no relacionamento, respectivamente. O primeiro estudo do artigo empírico envolve uma amostra de 55 casais, possibilitando a comparação das respostas da díade, enquanto o segundo estudo contou com uma amostra de 847 indivíduos que relatam estar num relacionamento há mais de um ano. Os resultados apontaram que a satisfação no relacionamento foi a variável de maior efeito na prática de coerção sexual. Quanto aos aspectos da personalidade, os traços de narcisismo da participante do sexo feminino foram preditores de sua prática de coerção sexual, enquanto para o sexo masculino, os traços de maquiavelismo estiverem mais associados com tal prática. Uma limitação do estudo consiste na pouca variabilidade da amostra nos indicadores de prática de coerção sexual.

O comportamento coordenado é caracterizado como um modo de cooperação, e é estudado desde meados da década de 1950 pela Análise do Comportamento. Destaca-se contudo que a maior parte destes estudos investigaram apenas o efeito contingente entre uma resposta coordenada (RCoord) e o reforçamento. Entretanto, a partir de 2018 surgem estudos que investigaram o efeito de diferentes esquemas de reforçamento sob as respostas coordenadas. Em um desses estudos, realizado por Carvalho et al. (2020) com ratos, investigou-se a relação entre razão fixa (FR) e RCoord, no qual observou-se que as taxas e proporções de RCoord mostraram uma função bitônica em forma de U invertido do tamanho da razão. Embasado neste estudo, a presente pesquisa teve como objetivo investigar diferenças na Tx de RCoord em díades de adultos, a partir da manipulação paramétrica de valores de FR, e como objetivo específico averiguar como procedimentos com reforçamento distintos (i.e., reforço individual ou compartilhado) afetam essas taxas. Para tanto, participaram desta pesquisa 12 adultos que foram alocados em duplas e divididos entre o Grupo Ind e o Grupo Comp. A tarefa realizada pelas duplas consistia em emitir respostas coordenadas entre os dois participantes em um tabuleiro de xadrez com dimensões 8 x 8 para obtenção de reforços. RCoord eram descritas quando os dois participantes posicionam suas peças dentro do quadrante determinado (a faixa 4 x 4 no centro do tabuleiro) e próximas umas às outras. Sempre que ocorria o encontro, as peças retornavam à posição inicial, e caso tivesse ocorrido encontros suficientes para o cumprimento do FR em vigor eram sequenciadas pelo reforçamento entregue individualmente ou compartilhado, a depender do grupo. O jogo era dividido entre Fase de Treino (FR1) e Fase de Teste, no qual tinha 5 condições (FR1, FR2, FR3, FR4 e FR2). Como resultado, verificou-se que os dados desta pesquisa diferem do estudo original no que refere-se à função bitônica na Tx de RCoord e a presença do efeito break-and-run. Isto pode ser explicado por diferenças procedimentais entre os dois experimentos, bem como, pelo fenômeno da facilitação social. Contudo, esta pesquisa acrescenta a literatura ao mostrar o desenvolvimento do comportamento cooperativo promovido pela metacontingência programada no tabuleiro de xadrez, sem instruções voltadas para a necessidade de coordenação, bem como, ao apontar a contribuição dos diferentes modos de reforçamento para desenvolvimento e manutenção do comportamento cooperativo, mesmo com aumento do requisito da resposta (i.e., valores do FR).

Experimentos sobre cálculos aritméticos concentravam-se em operações com um único dígito. Encontraram efeitos de tamanho de operação e de interferência usando-os como explicação dos procedimentos realizados para resolução dos cálculos. Atualmente, experimentos contemplam cálculos multidígito, que são mais complexos e demandam mais a memória de trabalho, e os efeitos da ansiedade matemática. O presente estudo investigou a performance em cálculos multidígitos com "vai um" para analisar efeitos da memória de trabalho e ansiedade matemática. Ao todo, 21 participantes responderam ao questionário SMARs e uma tarefa com problemas de adição. Na ANOVA 2×2 de medidas repetidas foi encontrado efeito na condição com e sem "vai um" e entre as operações grandes e pequenas, tendo interação entre as duas condições apenas quando analisada a acurácia. Em seguida, a ANOVA 2×2×2 no teste entre sujeitos com a condição ansiedade matemática revelou os mesmos resultados e foi significativo para ansiedade. Isso significa que os participantes levaram mais tempo para responder itens grandes e com "vai um" e os participantes com alta ansiedade foram os mais lentos. A acurácia entre os grupos com ansiedade foi parecida, em que acertavam mais itens pequenos e sem "vai um".

Construir representações cardinais e ordinais é crucial para desenvolver uma compreensão completa dos números nos primeiros anos de educação. Uma questão em aberto é se, e em caso afirmativo, como essas duas representações estão envolvidas em cálculos aritméticos em crianças. Pesquisas anteriores indicam uma mudança no curso do desenvolvimento dessas representações, com a cardinalidade sendo responsável pelas habilidades aritméticas das crianças mais novas, e a ordinalidade desempenhando um papel apenas após a primeira ou a segunda série. Aqui abordamos essa questão investigando representações cardinais e ordinais dos números em uma amostra de crianças em idade pré-escolar. Nossos resultados indicam que o conhecimento da ordinalidade numérica está associado às habilidades de adição de préescolares, mesmo após controlar a inteligência fluida e as habilidades verbais. Além disso, descobrimos que as representações ordinais mediam o efeito amplamente relatado da cardinalidade na adição simples. O presente estudo fornece evidências de que já na pré-escola as representações ordinais desempenham um papel na aritmética básica.

O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE, Lei nº 12.594/2012) é uma política pública de alto impacto para jovens em conflito com a lei, implementando mudanças culturais da criança e adolescente abordados pela compaixão-repressão para crianças e adolescentes com plenos direitos. A partir de uma pesquisa descritiva, com um experimento natural, o SINASE e outras legislações, foram submetidos a pesquisa sob a perspectiva da ciência, Análise do Comportamento. A Fase 1 do estudo foi constituída por análises funcionais que utilizaram o conceito de contingência tríplice (A-R→C), interpretando a recorrência de eventos antecedentes, classe de respostas alvo de análise e consequências produzidas. Na Fase 2, o nível seleção cultural foi investigado ao utilizar o conceito de metacontingências presentes na Lei nº 12.594/2012. Na Fase 3, documentos oficiais complementares aos processos existentes da política pública SINASE subsidiaram a Análise de sistemas comportamentais (BSA), utilizando o Total Performance System (TPS). Os resultados mostraram que as contingências operantes se restringiram à punição dos agentes que concorrem para o descumprimento da Lei. Na análise das metacontingências identificou-se que as recorrentes contingências comportamentais entrelaçadas (CCEs) contam com Entes Federativos (órgãos, conselhos, instituições, programas, equipes e gestores). O SINASE apresenta produtos agregados (PAs) primários, que são os objetivos das medidas socioeducativas: a responsabilização, a integração social do adolescente e a garantia de seus direitos individuais e sociais, e a desaprovação da conduta infracional. E PAs secundários, no que se refere à instituição do Sistema, composto por ações executivas, legislativas e judiciárias, sendo que estavam mais incompletas ou imprecisas quando se referia às ações executivas. Identificaram-se selecionadores dos culturantes (CCEs→PAs), como os índices de: criminalidade, violência, fatores de vulnerabilidade social, desenvolvimento de cidadania; a avaliação da gestão das entidades, programas; e resultados da execução das MSEs, as avaliações internacionais e suas possíveis intervenções, das quais depende também o financiamento. A descrição dos elementos contingentes da Lei e das outras normas operacionais possibilitaram a identificação das estratégias para a mudança do paradigma retributivo para as práticas restaurativas na estrutura organizacional, com destaque para a programação de metacontingências com alta complexidade, tendo em vista que, quanto mais entrelaçamentos, mais efetivas serão as práticas socioeducativas. Discutiu-se sobre a viabilidade e o sucesso de implementação do que é previsto nas leis, bem como sugeriu-se a realização da expansão da pesquisa na área da Socioeducação, e a utilização desta metodologia para investigar outros sistemas de políticas públicas.

Intercâmbios vocais são encontrados em diferentes espécies de primatas, de lêmures aos pongídeos, e se caracterizam pela alternância de turnos entre os interlocutores e por preferências na definição dos parceiros vocais, em função de fatores sociais, como a relação afiliativa entre eles. Nos muriquis do norte (Brachyteles hypoxanthus) existe um intercâmbio vocal que envolve chamados com extensa variabilidade acústica (denominados “chamados sequenciais”). Novos estudos sobre a organização temporal e social desses intercâmbios são necessários para permitir comparações com o que já foi descrito em outros primatas. Neste trabalho, os dados coletados são de um grupo da Reserva Particular do Patrimônio Natural – Feliciano Miguel Abdala (RPPN – FMA) em Minas Gerais, Brasil. Primeiro, 667 amostras focais foram utilizadas para obter dados sobre o comportamento vocal e interações não-vocais. Segundo, foram analisados 393 chamados (de 619 amostras focais), para avaliar se o sexo e a idade dos indivíduos têm influência sobre sua participação nos intercâmbios. Os chamados sequenciais foram o tipo mais comum de interação social, vocal e não-vocal, dos animais focais. Sua taxa de emissão foi, em média, de 7,0 ± 4,2 chamados por hora. Os intercâmbios foram compostos, em média, por 3,0 ± 2,5 chamados (máx.: 26), com os indivíduos raramente emitindo mais de um chamado. Dados qualitativos indicam que a presença de parentes, machos, e fêmeas receptivas pode afetar a ocorrência desses intercâmbios. O número esperado de chamados emitidos por um indivíduo para iniciar um intercâmbio vocal foi maior para adultos mais velhos. O sexo e a idade não tiveram efeito sobre o número de respostas nos intercâmbios. Esses resultados sugerem que os intercâmbios vocais dos muriquis do norte não se restringem a auxiliar na coesão espacial, mas também podem facilitar a manutenção e reforço de laços sociais, de acordo com as características dos interlocutores.

O presente estudo teve como objetivo criar um banco normativo padronizado em português brasileiro das associadas de religião, bem como a apresentação dos atributos, exemplos, tamanho de categoria e cálculo de força associativa. Ademais, também foi investigado se a disponibilidade esquemática, a expertise e a identidade religiosa estão relacionadas com julgamentos de tipicidade e de similaridade. No estudo da coleta de normas, foram coletados dados de 229 participantes universitários. Os resultados sugerem que as palavras mais citadas são ligadas ao componente de crença do que aos elementos ritualísticos, institucionais ou dogmáticos e também que os exemplos de religião mais citados são aqueles que tem maior prevalência demográfica. No estudo experimental, foram coletados dados de 126 participantes e foi verificado que há uma assimetria no julgamento de tipicidade dos exemplos com maior força associativa do que os com menor, e que os atributos foram julgados de maneira equivalente, independente da probabilidade de sua evocação. Também foi verificado uma assimetria nos julgamentos de similaridade dos exemplos de diferentes forças associativas. Esses resultados coadunam com a hipótese de acessibilidade conceitual. Face a isso, argumenta-se que essa pode ser estendida para ambos os tipos de julgamentos para a categoria semântica religião. Em nenhum julgamento foi detectado um efeito significativo da disponibilidade esquemática ou da expertise. Porém, foram encontradas diferenças nos julgamentos de participantes que tinham mais de uma pertença religiosa. Foi proposto um esquema de religião baseado nas normas geradas. Sugere-se que os julgamentos de similaridade possam ser reinterpretados à luz da acessibilidade conceitual e que a múltipla pertença religiosa tenha um impacto na cognição religiosa, mas não houveram evidências de que a disponibilidade esquemática ou expertise religiosa estivessem envolvidas nesses tipos de julgamentos.

O presente estudo desenvolveu e validou um banco de dados de imagens, SocialPICS, com informações de status socioeconômico (SSE) e espaço afetivo (e.g., valência e alerta). As imagens foram selecionadas em sites de domínio público e um estudo piloto pré-selecionou as imagens para compor o banco de dados. Uma amostra de 132 participantes respondeu a um questionário e avaliou o SSE, a valência e o alerta das imagens exibidas. Como resultado metodológico, o instrumento foi validado para o contexto brasileiro. O conjunto de dados de imagem cobre uma ampla gama de níveis de SES em um contínuo que varia de imagens de status inferior a superior e fornece subconjuntos de imagens em uma classificação categórica (alto, médio e baixo status). É provável que o SocialPICS retrate as diferenças sociais em relação à poder, prestígio e controle de recursos que o SSE comunica. Como resultado teórico, argumentamos que as imagens de SSE são imagens emocionais. Imagens de SSE estão positivamente associadas à valência e negativamente associadas ao alerta. O SocialPICS é um novo banco de dados, padronizado, de resolução de alta qualidade, com 429 imagens estáticas de SSE. Composto por 136 imagens de ações, 157 imagens de roupas e 136 imagens de paisagens. Esses três subconjuntos compreendem estímulos geralmente empregados por pesquisadores em cognição e neurociência social. Seu uso deve simplificar e favorecer estudos originais e de replicação com maior nível de padronização e controle sobre os estímulos visuais de conteúdo socioeconômico. Informações sobre propriedades físicas são fornecidas para cada imagem. Para baixar e acessar SocialPICS: https://osf.io/3t9r2/.

A percepção de tempo é um mecanismo essencial para execução de inúmeras tarefas relevantes em diferentes contextos, especialmente o contexto social, onde há o envolvimento de pistas perceptuais que auxiliam em diferentes interações humanas, como as expressões faciais emocionais, que têm significativa relevância no comportamento social humano. A literatura existente acerca da percepção de tempo, indica que expressões faciais emocionais podem causar efeitos de prolongamento ou encurtamento na duração percebida de uma determinada face. O presente estudo teve como objetivo investigar a possibilidade de inibição dos efeitos de distorção temporal causado por expressões faciais emocionais utilizando uma tarefa de bissecção temporal com diferentes cargas de memória de trabalho. Foram coletados dados de 36 estudantes universitários com idades entre 18 e 30 anos. Os resultados sugerem que um aumento na carga na memória de trabalho foi capaz de inibir o efeito das distorções temporais para as emoções alegria, raiva e medo, onde a alegria passa a apresentar um prolongamento na percepção da sua duração, a raiva apresenta um encurtamento na percepção das suas durações e o medo apresentou um achatamento da curva psicométrica. A análise psicofísica dá suporte aos resultados, pois as curvas psicométricas sugerem inibições e/ou interferências nas distorções temporais.

A socioecologia e a ecologia comportamental como um todo exploram a relação entre o valor do recurso e a sua defensabilidade, ou seja, recursos com melhor relação custo/benefício são mais defendidos que recursos com pior relação custo/benefício. Existe relação entre o sexo e o tipo de recurso mais limitante para a aptidão, sendo que as fêmeas defendem mais recursos alimentares e machos defendem mais recursos reprodutivos. Nos ambientes antrópicos, aqueles dominados pela infraestrutura humana, as fontes aprovisionadas são de grande importância para a sobrevivência das espécies que habitam esses ambientes e normalmente são mais aglomeradas, mais nutritivas e com taxa de reposição anormal. Essas características são muito atrativas para os animais e teoricamente causariam muitas agressões entre as fêmeas de mamíferos, já que a fonte normalmente é defendida e monopolizável. No contexto urbano e com fontes aprovisionadas, analisamos as agressões intergrupos e intragrupo de dois grupos de macacos-prego que habitavam um pequeno fragmento de mata na cidade de Goiânia-GO. Chegamos à conclusão geral de que as agressões eram influenciadas mais pelos contextos sociais que ocorrem a agressão do que pelo valor da fonte. As fontes antrópicas pareciam não ser mais defendidas que as fontes nativas e as fêmeas agrediam quando em condições sociais mais favoráveis, ou seja, quando não havia machos adultos para disputar as fontes. As fêmeas pareciam disputar a fonte com os machos baseadas no dimorfismo sexual.