"Conflito, Manejo e Conservação do Queixada (Tayassu pecari) em uma Paisagem Agrícola no Cerrado Brasileiro."
Agronegócio; Conflito Humano-Fauna; Densidade Populacional; Espécie-problema; Seleção de Hábitats; Socioecologia.
A conversão de áreas naturais para áreas agrícolas aumentou as interações entre o homem e a fauna, resultando, muitas vezes, em incontestáveis conflitos. Este estudo enfoca no queixada (Tayassu pecari), uma espécie extremamente importante para o equilíbrio de ecossistemas, que está ameaçado por diversos fatores e agora por prosperar em paisagens agrícolas de larga escala. Para traçar estratégias que possam garantir a permanência da espécie nessas paisagens alteradas, garantindo assim, o equilíbrio ecológico, avaliou-se diversas informações sobre ecologia, conservação, manejo e conflito. Para isso, foram realizadas algumas atividades, tais como: i) monitoramento de 12 grupos de queixadas com colares-GPS; ii) estudo da dinâmica de frutificação de espécies nativas na área de vida dos grupos rastreados; iii) avaliação da implementação de medidas de manejo adaptativo, como a utilização de barreiras (cercas elétricas e valas), mudanças nas práticas de cultivo agrícola e a remoção de indivíduos da natureza como forma de reduzir um excedente populacional. Como forma de se avaliar os efeitos dessas ações de manejo, realizou-se estimativas de densidade populacional através da marcação/recaptura de queixadas. Por fim ainda será analisada a percepção dos produtores rurais frente às ações de manejo adotadas, bem como sobre o conflito a longo prazo. Todas essas etapas foram e estão sendo realizadas em uma região ícone do agronegócio, na divisa dos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, com a participação de iniciativas públicas e privadas que buscam resolver o conflito com os queixadas em nível nacional. Os resultados encontrados demonstram que a população de queixadas utiliza com frequência as áreas agrícolas, porém essa forma de uso pode estar relacionada com a rotação das culturas agrícolas e com a dinâmica de frutificação nas áreas de vegetação nativa. Algumas das medidas implementadas se mostraram eficientes para a redução das perdas agrícolas, como o uso de valas e possivelmente a remoção do excedente populacional. Outras estratégias, como cercas elétricas e o plantio de outros tipos de cultivo, parecem não ser uma alternativa viável para lidar com o problema. Mesmo após a implantação das ações de manejo na região, como a retirada de centenas de indivíduos da natureza, a população in situ permaneceu estável, não havendo uma diminuição (ou aumento) estatisticamente significativo entre 2017 e 2019 (p=0,2945). O estudo continuará sendo executado até 2026, para se entender mais a fundo todas as relações de conflito existentes. A coleta dessas informações possibilitará a realização de análises aprofundadas sobre as interações “humanos-queixadas”, a partir de uma abordagem socioecológica moderna para lidar com conflito denominada CHANS ou “Sistemas Humanos e Naturais Acoplados”. Além disso, os resultados futuros do projeto poderão servir como um importante propulsor de políticas públicas para o manejo de fauna no Brasil, o que pode auxiliar no desenvolvimento sustentável do país.