Sofrimento Psíquico e Belo Monte
Sofrimento psíquico, Belo Monte, saúde mental, intermedicalidade, colonialismo, medicalização.
Este estudo explora o conceito de sofrimento psíquico como impacto da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Ao deslocar o foco de diagnósticos psiquiátricos convencionais para uma compreensão mais ampla do sofrimento psíquico, buscamos iluminar as dinâmicas complexas de trauma e resiliência a partir da perspectiva social. A metodologia parte de um caso clínico como caso social, tanto a partir da experiência da Clínica de Cuidado quanto da Rede Bem Viver Altamira, explorando os encontros dos sintomas de um paciente com as questões apontadas por seu grupo étnico. A investigação do caso segue procurando compreender as dimensões cosmopolíticas e relacionais específicas do povo Arara, em especial durante o contato no período de implementação da rodovia Transamazônica. Percebe-se uma continuidade entre os diferentes processos coloniais, com uma mudança da natureza de epidemias por doenças infecto-contagiosas causadoras de genocídios no período da Transamazônica pelas epidemias de diagnósticos psiquiátricos no contexto de contaminação do modo de vida e etnocídio no período de Belo Monte. Perspectivas indígenas de compreensão de fenômenos de adoecimento e cuidado são mobilizadas em conjunto com a perspectiva da escuta como uma aliada para a formação de um campo de intermedicalidade e tessitura de rede no cuidado em saúde mental em contextos interculturais e de violação de direitos humanos.