TORNAR-SE SOCIOEDUCANDO – UMA QUESTÃO DE ARTE: PROCESSOS DE IMAGINAÇÃO E CRIAÇÃO NA SOCIOEDUCAÇÃO
escolarização, atividade criadora, socioeducação
O presente trabalho está pautado nos princípios teórico-metodológicos da psicologia histórico-cultural, de modo especial nos estudos de Vigotiski sobre imaginação e atividade criadora. Essa atividade constitui o humano, perpassando por toda sua existência e promovendo o desenvolvimento dos processos psíquicos superiores. O objetivo geral da pesquisa foi compreender processos criadores que surgem na e da situação de privação de liberdade em adolescentes que cumprem medida socioeducativa de internação. Associados a esse interesse, identificou-se como o contexto de pobreza e a situação de privação de liberdade atravessam os processos de criação e como a atividade imaginária constitui-se como movimento de resistência e de autorregulação. Resgatou-se o reconhecimento da escola, dentro da unidade de internação, como espaço privilegiado de acolhimento e de incentivo aos processos de criação, analisando o que os socioeducandos pensam e sentem sobre o seu processo criador. Com relação aos procedimentos de construção de informações, optou-se pela análise de letras de rap de autoria dos jovens que participaram do Festival de Música que ocorreu dentro da unidade de internação, nos anos de 2018 e 2020. Também foi realizada entrevista semiestruturada com os três vencedores do Festival de Música de 2022. A metodologia e as discussões dos resultados são apresentadas à luz da Análise dos Núcleos de Significação. Assim, obtivemos alguns resultados como a confissão de atos ilícitos, o arrependimento pelas escolhas erradas e pelas ações cometidas e a promessa de mudança de vida. Ficaram também registradas as denúncias sobre as marcas deixadas pela desigualdade social e pelas angústias experienciadas em uma unidade de internação. No geral, os pré-indicadores apresentaram que o processo de composição das letras de rap é uma forma de expressão e de conexão entre os jovens no sistema socioeducativo. Tal atividade auxilia os adolescentes a lidarem com suas emoções e a se reconectarem com a sociedade de forma positiva. No entanto, ainda há uma percepção de que a sociedade os julgou por seu passado criminoso e não pela pessoa que são, o que indica a importância de mais investimentos em programas de ressocialização e reintegração social.